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Com as eleições municipais concluídas, o foco político em Brasília agora se volta para a disputa pela liderança do Congresso. No Senado, a menos que ocorra uma reviravolta, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP) deve assumir a posição pela terceira vez. Por outro lado, na Câmara dos Deputados, o cenário ainda é incerto. Arthur Lira, o atual presidente, gostaria de ter seu sucessor já definido, mas atualmente existem quatro candidatos ao cargo, cada um representando um partido distinto. Para evitar um confronto interno, Lira está buscando um consenso mínimo em torno de um candidato. Ele já se encontrou com o presidente Lula, garantiu o apoio do partido do ex-presidente Jair Bolsonaro, conversou com líderes de partidos de centro e prometeu a todos posições de destaque em troca de votos. Se tudo correr conforme o planejado, até agosto ele encerrará o suspense e anunciará quem será o escolhido – aquele que, teoricamente, conseguirá obter o máximo de apoio entre os colegas. Não será uma tarefa fácil para os parlamentares que já se apresentaram como candidatos ao cargo.
CONTINGÊNCIA – Hugo Motta: o deputado tem sido apresentado como a primeira opção de um plano B (Ton Molina/Fotoarena/.)
O deputado Elmar Nascimento (União Brasil-BA), apontado como favorito, tem muitos votos entre os mais conservadores, mas enfrenta a desconfiança dos petistas. No início do governo Lula, ele chegou a ser anunciado como futuro ministro, mas teve seu nome vetado no último momento. Acredita-se que o autor do veto foi o ministro-chefe da Casa Civil, Rui Costa. Os dois eram adversários políticos na Bahia. Ao que tudo indica, eram. Em campanha, Elmar foi convidado para um almoço pelo governador baiano Jerônimo Rodrigues (PT), acompanhado de Lira. A cena foi registrada em uma foto em que ele aparece sorrindo e abraçado aos petistas. Pareciam velhos amigos. A dificuldade depois foi convencer os bolsonaristas, principalmente os ligados ao PL, o maior partido da Câmara, de que a simpatia foi apenas um gesto político necessário para viabilizar sua candidatura. Quem também não gostou nada do movimento foi o principal cacique do União Brasil, ACM Neto, que pretende disputar o governo baiano na próxima eleição – contra o PT.
PRONTIDÃO – Luizinho: desenvolto e bem relacionado, o parlamentar se diz um “milagreiro” (Cristiano Mariz/Agência O Globo/.)
Apesar do gesto e da reaproximação de Elmar com o próprio Rui Costa, seu nome ainda encontra muita resistência dentro do partido do presidente – mas nada que pareça intransponível. Recentemente, a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, acompanhada do deputado Lindbergh Farias (PT-RJ), convidou Lira para uma conversa bastante pragmática: reclamou da falta de espaço do partido, o segundo maior da Câmara, e cobrou alguns compromissos – leia-se cargos. Lira entendeu a sinalização, concordou que a legenda merece mais espaço, mas deixou claro que essas negociações serão feitas diretamente com Lula. Gleisi, obviamente, não gostou muito, mas não fechou as portas. A dificuldade em aglutinar apoios também atinge os deputados Marcos Pereira (Republicanos-SP), Antonio Brito (PSD-BA) e Isnaldo Bulhões (MDB-AL) – os outros três concorrentes ao cargo. E já começam as intrigas. Há alguns dias, ventilou-se que o PSD e o MDB poderiam firmar um pacto e lançar um nome para enfrentar o candidato de Arthur Lira, seja ele quem for. O presidente da Câmara correu para verificar se era verdade. Ouviu dos líderes a garantia de que não havia nada disso, mas não ficou totalmente convencido.
Lira não descarta a possibilidade de que candidatos que, porventura, tenham os interesses contrariados resolvam se unir contra ele. Isso justifica a busca pelo consenso. Para evitar essa possibilidade, o presidente da Câmara tem até um plano de contingência que envolve outros dois possíveis candidatos. Aos 34 anos, o deputado paraibano Hugo Motta, líder do Republicanos, é apontado como um nome que reuniria com mais facilidade os votos à esquerda e à direita. Discreto, ele é um fiel aliado de Arthur Lira e braço direito de Ciro Nogueira, cacique do PP. O parlamentar transita com facilidade em todos os nichos – dos xerifes aos mais inexpressivos congressistas. “Ele é um cara do baixo clero. É muito querido e tem a confiança de todo mundo”, elogia um aliado. Difícil vai ser convencer Marcos Pereira, que também é presidente do Republicanos, a abandonar a disputa. Os dois já foram consultados sobre a possibilidade. Mas não haverá impasse, ao menos por enquanto. Pereira jura que não vai recuar da candidatura, enquanto Motta jura que não vai bater de frente com o “chefe”. Se isso for verdade, Lira tem na manga uma segunda opção.
SINALIZAÇÃO – Gleisi e Lindbergh: os petistas pediram mais espaço (Pedro França/Agência Senado)
Ex-secretário de Saúde do Rio de Janeiro, o médico e deputado Doutor Luizinho já está de prontidão para uma eventual emergência. Formalmente, ele garante que nunca passou pela sua cabeça a possibilidade de disputar a presidência. Como bom político, dedica-se apenas à intensa agenda legislativa, que abrange uma variedade de temas. Na última semana, ele se reuniu com os presidentes da Caixa e do Flamengo para discutir o avanço de um estádio para o seu time do coração e acompanhou as articulações do projeto sobre as taxações de produtos comprados no exterior enquanto se empenhava em negociar as candidaturas na disputa municipal deste ano. Em conversas reservadas, gosta de dizer que é chamado de “milagreiro”, pela habilidade de tocar temas difíceis. Articulado, já foi apontado como potencial ministro da Saúde de Lula. Seus aliados contam que ele só não chegou lá porque, em meio às negociações, os petistas propagaram uma foto dele vestindo a camisa de campanha de Jair Bolsonaro nas eleições de 2022. A posição política, claro, ajuda e atrapalha a cooptação de apoio dentro da Câmara. Mas isso hoje está longe de ser considerado um impeditivo. A trajetória de Lira é uma prova disso.
POR ENQUANTO – Senado: ao contrário da Câmara, existe consenso em relação ao nome do futuro presidente (Jefferson Rudy/Agência Senado)
Principal cacique do Centrão na Câmara, ele foi reeleito presidente no ano passado em uma votação recorde – com o apoio do PT ao PL, 90% dos deputados votaram nele. Mantendo a mesma composição da disputa anterior, a avaliação é que tanto a esquerda quanto a direita, sozinhas, não têm tamanho para vencer a eleição, o que leva novamente a definição para os parlamentares de centro. Lira tem ascendência sobre os colegas e trânsito no Palácio do Planalto. Consegue se equilibrar entre não ser governo nem oposição. O apoio dele é fundamental, seja a Elmar Nascimento, Marcos Pereira, Antonio Brito, Hugo Motta, Doutor Luizinho ou qualquer outro nome. A exceção é Isnaldo Bulhões, considerado carta fora do baralho, exatamente por causa de suas ligações com o senador Renan Calheiros, inimigo político número 1 de Lira. Poderoso, o presidente da Câmara quer bater o martelo sobre o seu candidato no máximo em três meses e submeter o nome do escolhido ao presidente Lula. Aliados do deputado dizem que essa antecipação facilita a consolidação do candidato, permite ampliar o arco de alianças e evita surpresas na reta final. Todos esses argumentos são reais, mas tem um ainda mais importante para ele. Se conseguir concretizar o cronograma exatamente da maneira como planejou, Lira estenderá seu poder e influência até o último dia na presidência da Câmara e, muito provavelmente, depois também.
DE VOLTA – Alcolumbre: terceira vez (Pedro França/Agência Senado)