O ex-secretário nacional de Política Agrícola, Neri Geller, que se demitiu nesta terça-feira, 11, em meio à crise provocada pelas suspeitas envolvendo a compra de arroz pelo governo Lula (que foi anulada hoje), tentou ocultar uma informação importante antes de sua saída: ele ainda mantém uma relação profissional com o sócio-administrador da Foco Corretora de Grãos, Robson Luiz Almeida de França, que também é seu advogado em ações na Justiça Eleitoral de Mato Grosso. As informações são da VEJA.
Pouco antes de sua demissão, Geller afirmou em conversa com a revista VEJA que não tinha relação com França há quatro anos. “Ele trabalhou comigo até 2020. Falei com ele recentemente, e ele até brincou dizendo que eu não pago mais o salário dele”, declarou. No entanto, os processos judiciais indicam outra realidade.
Um dos casos relevantes em que França atua é o da prestação de contas do diretório do PP de Mato Grosso. Como Geller foi presidente estadual do partido, existe uma procuração datada de agosto de 2022 que o autoriza a representar o advogado. No processo, a última movimentação de França ocorreu em 14 de maio deste ano, quando apresentou suas alegações finais.
Procuração assinada por Geller em agosto de 2022 (à esq.) e alegações finais feitas por França na prestação de contas do partido, em maio de 2024 (à dir.) (Reprodução/Reprodução)
Além da ação de prestação de contas, a reportagem identificou mais trinta processos nos quais o proprietário da Foco atua como advogado de Geller na Justiça Eleitoral de Mato Grosso. Esses processos incluem representações e prestações de contas de campanha e do partido. A maioria deles (29 de 31) já está arquivada.
França também trabalhou como assessor direto de Geller durante o mandato do ex-secretário como deputado federal, entre 2019 e 2022. Além disso, o dono da Foco é sócio do filho de Geller, Marcelo Geller, em outra empresa.
No leilão de arroz realizado na última quinta-feira, 6, a Foco representou três das quatro empresas vencedoras: Zafira Trading, ASR Locação de Veículos e Máquinas e Icefruit Indústria e Comércio de Alimentos. A empresa atuou na arrematação de onze dos dezessete lotes de arroz que foram objeto do certame. O principal argumento usado pelo governo para anular o leilão foi a falta de confiança de que as empresas teriam capacidade técnica e financeira para cumprir o compromisso do edital.
Uma das ganhadoras do certame anulado é esta empresa, Queijo Minas, com apenas esta unidade, em Macapá (Google Maps/outubro de 2022/Reprodução)
Em relação ao caso, Geller confirmou que o advogado prestou serviços eleitorais para ele e para o PP de Mato Grosso após deixar a assessoria de seu gabinete de deputado. “Não tenho nada a esconder”, justificou à VEJA. Ele também afirmou que os negócios entre França e seu filho, Marcelo Geller, não tiveram relação com a Foco Corretora e o leilão anulado.
França, proprietário da Foco, destacou que não foi o único advogado de Geller nos processos, e que a participação da empresa no leilão não configura conflito de interesses. “Prestei serviços para ele (Geller) na área eleitoral e ambiental. Não vejo impedimento, tenho conhecimento para esses trabalhos.
Com informações da VEJA