Em maio deste ano, um marco significativo na medicina foi alcançado: um homem de 71 anos se tornou a primeira pessoa viva a receber um transplante de fígado de porco geneticamente modificado. A cirurgia pioneira ocorreu no First Affiliated Hospital da Anhui Medical University, na China. O cirurgião líder do procedimento, Sun Beicheng, relatou que o paciente está se recuperando bem.
Esse é o quinto xenotransplante (transplante entre espécies diferentes) realizado no mundo com órgãos de porco. Anteriormente, já haviam sido realizados transplantes de rim e coração de porco em seres humanos vivos. O procedimento com rim suíno foi realizado em 2021 em um paciente com morte cerebral.
Esses transplantes anteriores forneceram informações valiosas sobre a viabilidade do xenotransplante. A expectativa dos médicos e pesquisadores é que essa técnica possa oferecer órgãos a milhares de pessoas que aguardam por doadores.
Os xenotransplantes de fígado de porco fazem parte de um campo em ascensão. Em janeiro deste ano, uma equipe dos Estados Unidos conectou um fígado suíno geneticamente modificado fora do corpo de uma pessoa clinicamente morta. Em março, outro transplante com o mesmo tipo de órgão foi realizado em um indivíduo clinicamente morto, com a autorização de sua família. O fígado permaneceu no corpo por dez dias e não apresentou sinais de rejeição.
Em maio, uma equipe chinesa também transplantou um rim e fígado de porco em uma pessoa clinicamente morta.
Como foi o procedimento?
O paciente que recebeu o fígado de porco tinha um grande tumor no lobo direito de seu próprio fígado e não era elegível para receber um órgão humano devido ao mau funcionamento de seu fígado. O lobo esquerdo do fígado do paciente não seria suficiente para mantê-lo vivo, tornando a situação perigosa. Diante disso, o paciente e sua família expressaram interesse no xenotransplante. A equipe cirúrgica obteve a aprovação dos comitês de ética e de transplante do hospital.
Em uma cirurgia que durou oito horas, o lobo direito do paciente foi removido e substituído por um fígado de porco geneticamente modificado, pesando 514 gramas e proveniente de um porco de 11 meses com 32 quilos.
Para evitar a rejeição do órgão suíno pelo corpo do receptor, o porco passou por dez modificações genéticas. Três genes relacionados à produção de açúcares na superfície das células suínas foram desativados, enquanto sete genes expressando proteínas humanas foram introduzidos.
Após restabelecer o fluxo sanguíneo para o fígado de porco transplantado, o órgão começou a secretar bile. Nos últimos dias, os médicos não observaram sinais de rejeição.
O especialista em doenças infecciosas de transplantes, Jay Fishman, do Massachusetts General Hospital, em Boston, considerou o resultado muito positivo. Esses avanços podem representar uma esperança para pacientes que aguardam por transplantes de órgãos.