Foto: EXÉRCITO BRASILEIRO
Produzido na Itália, o blindado Centauro II-BR teve seu embarque retido pelas autoridades no porto de Hamburgo quando seria despachado para o Brasil. O Exército Brasileiro afirmou que o contrato possui flexibilidade para lidar com atrasos.
A Alemanha reteve o primeiro blindado Centauro II-BR, que seria enviado ao Brasil para testes no Centro de Avaliações do Exército (CAEx), no Rio. A aduana alemã justificou a medida pela falta de uma guia de transporte do Ministério Federal de Assuntos Econômicos e Ação Climática (BMWK). Este não é o primeiro obstáculo imposto pela Alemanha ao Brasil na área de Defesa. Em 2023, após o presidente Luiz Inácio Lula da Silva vetar o envio de munições à Ucrânia, a Alemanha embargou a venda de blindados Guarani, fabricados no Brasil pela IDV, para as Filipinas.
O Centauro II-BR, fabricado pelo Consórcio Iveco-OTO Melara (CIO), é um Veículo Blindado de Combate de Cavalaria (VBC Cav) e faz parte do projeto de modernização das forças blindadas do Brasil. Em 22 de dezembro de 2022, foi assinado um contrato de € 900 milhões, que previa a entrega de duas unidades para testes antes da compra de outros 96 veículos. Uma cláusula contratual estipula que os testes devem ser concluídos em dois anos. Se a fabricante não conseguir aprovar o produto nesse prazo, ele será desclassificado em favor do segundo colocado, um blindado canadense.
O Exército informou que a avaliação das amostras segue um planejamento previsto em contrato, com flexibilidade para possíveis intercorrências. O embarque do primeiro Centauro II-BR estava previsto para 20 de junho, mas enfrentou problemas alfandegários no porto de Hamburgo. O blindado havia saído da sede da IDV em Bolzano, Itália, em 24 de maio.
O blindado chegou ao porto alemão em 28 de maio, onde as autoridades alfandegárias verificaram a ausência de autorização de transporte. O pedido foi feito ao BMWK em 31 de maio, e a Iveco estima que a autorização será concedida até o fim do mês ou início de julho. O segundo Centauro será despachado em setembro por Antuérpia, Bélgica.
Há suspeitas em Brasília de que o problema não seja apenas um descuido do despachante, mas parte de um padrão de obstáculos criados pela Alemanha em negócios da defesa que envolvem itens de origem alemã. A Alemanha embargou a venda de blindados Guarani para as Filipinas e pode estar usando sua influência geopolítica para afetar o contrato bilionário do Centauro II-BR.
O mercado internacional de armas está aquecido, com os gastos militares mundiais atingindo US$ 2,4 trilhões. A Alemanha recentemente assinou um contrato de € 8,5 bilhões com a Rheinmetall para a fabricação de munição de artilharia. O contexto geopolítico está mudando, e líderes políticos devem estar preparados para essas mudanças.
O Ministério da Defesa brasileiro espera que o episódio em Hamburgo seja apenas um mal-entendido, mas permanece atento aos interesses que possam estar em jogo para afetar o contrato do Centauro II-BR.