A recente percepção de que cancelamentos são orquestrados marca uma mudança significativa na maneira como a sociedade enxerga essas ações. Por muito tempo, esses ataques pareciam orgânicos e espontâneos, mas agora está claro que há uma articulação por trás, trazendo dividendos em dinheiro, prestígio e poder para quem os encabeça.
Não é a primeira vez que vemos o mesmo banco ser alvo de ataques coordenados. Em episódios anteriores, o Nubank enfrentou cancelamentos baseados em falsas acusações de racismo, que ganharam repercussão significativa. No meu livro, “Cancelando o Cancelamento”, há uma descrição detalhada desses eventos, mostrando como as engrenagens desses linchamentos virtuais funcionam.
A dinâmica é sempre a mesma: perfis dos mesmos influencers, relacionados às mesmas agências, se unem para promover cancelamentos por motivos parecidos. A disparidade entre a reação intensa e o ocorrido é evidente, mas agora, mais do que nunca, as pessoas começam a perceber essa manipulação.
Um exemplo claro foi quando Cristina Junqueira, CEO do Nubank, aceitou um convite para o evento Fronteiras do Pensamento, que contou com a participação de centenas de intelectuais ao longo dos anos. Um dos diversos patrocinadores do evento específico, com Jordan Peterson, era o Brasil Paralelo.
Bastou para desencadear uma campanha de cancelamento, acusando a CEO de favorecer a extrema-direita. Não cancelaram o evento Fronteiras do Pensamento, o participante Jordan Peterson nem nenhum outro patrocinador. O alvo foi uma CEO de um banco que compartilhou o convite nos stories. Mais que esquisito, como apontado na coluna de Madeleine Lacsko no site O Antagonista.
O Sleeping Giants entrou na história. E há algo além do que você vê nas redes, o uso de grupos criados com finalidades nobres para distribuir o material de cancelamento. O processo é simples: uma postagem é feita nas redes sociais, mas o verdadeiro poder está nos compartilhamentos em grupos privados, onde uma sirene de urgência mobiliza milhares de pessoas. É gente que não se juntou ao grupo para promover linchamentos, mas pensando que lutaria contra Fake News.
A motivação por trás desses ataques é clara: mais engajamento, mais likes e o crescimento de perfis nas redes sociais. Mas não é só isso. Quando uma pessoa ou empresa é atacada, a solução frequentemente proposta é a contratação de consultores de diversidade, muitas vezes os próprios líderes dos linchamentos, que ganham cargos em conselhos administrativos ou consultorias lucrativas.
No primeiro cancelamento do Nubank em 2020, baseado em uma falsa acusação de racismo, poucos percebiam o que estava realmente acontecendo. Hoje, a diferença é que estamos mais conscientes. Sabemos que esses ataques não são movidos por indignação justa, mas por interesses financeiros e políticos.
Essa conscientização muda tudo. Quando aprendemos como esses truques funcionam, deixamos de cair neles. E quanto mais pessoas entenderem que esses cancelamentos são orquestrados, menos eficazes eles serão. Com o aumento da conscientização, o truque perde sua eficácia, forçando aqueles que buscam dinheiro, prestígio e poder a encontrar outros meios, possivelmente mais legítimos, para alcançá-los.
Em última análise, essa mudança na percepção pública pode diminuir a eficácia desses ataques, obrigando a “turminha” que promove cancelamentos a repensar suas estratégias. A luta por prestígio e poder pode ter que ser travada com trabalho real, algo que muitos desses atores parecem evitar.