As recentes inundações devastadoras no Rio Grande do Sul, que afetaram milhões e deslocaram centenas de milhares, resultando em mais de cem mortes, deixaram um rastro de destruição. No entanto, as repercussões desses eventos climáticos na saúde pública persistirão por muito tempo, exigindo um planejamento meticuloso das autoridades e profissionais de saúde.
Com base em informações da Folha de S. Paulo e da BBC News, evidências coletadas de grandes inundações ocorridas globalmente nos últimos anos indicam um provável aumento significativo nos casos de várias doenças infecciosas, como diarreia, problemas respiratórios, leptospirose, hepatite A e dengue. Especialistas explicam que essas doenças ocorrerão em ondas, de acordo com o tempo de incubação de vírus, bactérias e outros patógenos, e também devido ao tipo de exposição ao risco que as pessoas envolvidas na tragédia tiveram e continuarão a ter.
A linha do tempo dessas ondas de doenças infecciosas começa com as chuvas e inundações. Durante esses eventos, as pessoas que vivem nas áreas afetadas tiveram o primeiro contato com a água. Muitos também tiveram que deixar suas casas nadando, entrando em contato ou ingerindo matéria orgânica que subiu de bueiros, valas e esgotos. Além disso, alguns indivíduos se feriram em pedaços de vidro, madeira e outros materiais cortantes, abrindo novas portas de entrada para patógenos no corpo.
A primeira onda de doenças infecciosas, que ocorre nos primeiros dez dias após o evento climático, inclui infecções de pele, pneumonites ou pneumonias por aspiração, infecções respiratórias virais e gastroenterites. As doenças diarreicas são a principal causa de morte por questões infecciosas após desastres hídricos. As infecções de pele também estão relacionadas ao contato com materiais contaminados das enchentes.
A segunda onda, que ocorre entre 7 e 10 dias após as inundações, inclui doenças como leptospirose, tétano e hepatite A. A leptospirose, uma doença causada por uma bactéria transmitida a partir do contato com a urina de animais, principalmente ratos, é a principal preocupação aqui.
Finalmente, a terceira onda de doenças transmitidas por vetores, como a dengue, historicamente segue as grandes inundações. No entanto, a situação no Rio Grande do Sul em relação a esse problema de saúde é incerta, pois o mosquito transmissor, o Aedes aegypti, costuma ser mais ativo quando a temperatura está elevada, durante o verão e a primavera.
Além das doenças infecciosas, as questões de saúde envolvendo um evento climático extremo como este vão além de vírus, bactérias, parasitas e protozoários. Um exemplo são as pessoas que dependem de medicamentos para controlar o diabetes e a pressão alta. Sem o devido cuidado, essas doenças podem descompensar e gerar as mais diversas consequências, como quadros agudos de infarto e acidente vascular cerebral (AVC). Quando a água baixar, também haverá necessidade de pensar em como lidar com as questões de saúde mental e todos os traumas acumulados nesse período. Portanto, os profissionais da área estão preocupados em como manter todo o sistema de saúde minimamente estruturado.