Foto: Reprodução/Justin Paget/Getty Images.
A prática regular de exercícios físicos é essencial para manter o corpo e a mente saudáveis — disso, todo mundo sabe. Porém, apesar de os benefícios serem claros, a ciência ainda está começando a entender exatamente como a atividade física impacta as células.
Nos últimos anos, os pesquisadores descobriram que o exercício desencadeia processos que diminuem a inflamação no organismo enquanto aumentam a manutenção e reparo das células. A atividade também as faz enviar sinais às moléculas que fazem a comunicação entre os músculos e o sistema imunológico ou cardiovascular, por exemplo.
Mas entender exatamente o que acontece nas células quando fazemos exercícios é essencial para o tratamento de várias doenças. Com essa informação, não só seria possível criar medicamentos que ofereceriam os mesmos benefícios de meia hora de corrida, como também escolher a atividade certa para cada condição.
“Isso não quer dizer que teremos exercícios em comprimidos, mas há certos aspectos do exercício que podem ser transformados em drogas”, diz o fisiologista do exercício Bret Goodpaster, da Universidade de Pittsburg na Pennsylvania, nos Estados Unidos, em entrevista à revista Nature.
Exercício nas células
Pesquisas já descobriram que as células musculares, quando contraídas durante o exercício, secretam a interleucina-6, uma citocina com papel essencial para a resposta imunológica do organismo.Play Video
Em excesso, a substância pode fazer mal para a saúde, mas quando sua produção é desencadeada pelas atividades físicas, pode diminuir a inflamação do organismo. As melhores atividades para obter o benefício são as de alta intensidade e de longa duração, como ciclismo ou corrida.
Um levantamento publicado em 2022 mostrou que, em ratos, mais de 200 tipos de proteína foram expressados em 21 classes diferentes de células em resposta ao exercício. Os cientistas da Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, descobriram que não só as células dos músculos, ossos e fígado são sensíveis às atividades, mas também outras de vários tecidos e órgãos.
Os pesquisadores também observaram que as células no fígado dos ratinhos expressavam enzimas que aumentam o metabolismo. Eles fizeram mudanças genéticas para fazê-los produzir as substâncias mesmo sem exercício e alimentaram os animais com uma dieta rica em gorduras. Ainda assim, eles são engordaram.
O exercício também produz estresse celular, o que é bom e ruim ao mesmo tempo. As mitocôndrias são acionadas para aumentar a quantidade de energia dentro das células para lidar com o movimento mas, em contrapartida, produzem substâncias que quando em excesso, podem danificar as proteínas, lipídios e o DNA. Porém, elas também desencadeiam vários efeitos protetivos, fortificando as defesas celulares.
Apesar de as pesquisas estarem sendo realizadas há alguns anos, ainda existe muito a ser descoberto. Porém, os cientistas estão otimistas. “Com informação, seria possível prescrever um exercício como se prescreve um remédio”, explica a pesquisadora Bente Klarlund Pedersen, da Universidade de Copenhagen, na Dinamarca.
Herança genética
O paleoantropologista Daniel Lieberman, da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, explica que o exercício faz parte da história da evolução humana. Há milhares de anos, os humanos se tornaram caçadores-coletores, ou seja, precisavam se deslocar por longas distâncias para encontrar comida, muitas vezes carregando os achados.
Segundo o especialista, as pessoas com habilidades atléticas melhores viviam mais, já que o corpo saudável não acumula gordura, que está associada à diabetes e aterosclerose, por exemplo. Lieberman afirma que foi essa mudança que tornou o exercício tão importante para a vida do humano moderno.
Créditos: Metrópoles.