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Nos últimos seis meses, a China solidificou sua influência na indústria de mineração da Nicarágua, obtendo 13 concessões para a exploração de ouro e outros minerais. Essas concessões, que correspondem a 11,66% do total de hectares designados para mineração metálica no país, foram concedidas a três empresas chinesas: Zhong Fu Development S.A., Thomas Metal S.A. e Nicaragua XinXin Linze Minera Group S.A.
Zhong Fu Development S.A. é a principal beneficiária, com oito concessões em áreas estratégicas como o Caribe Norte e Chinandega. A empresa ganhou notoriedade ao adquirir uma concessão da Comintsa, que foi sancionada pelos EUA pouco tempo depois. Com uma extensão total de 181.206 hectares, a Zhong Fu Development se posiciona como uma das maiores mineradoras do país.
Thomas Metal S.A., representada por Xiangming Gu, entrou no mercado nicaraguense em setembro de 2023 e rapidamente obteve três concessões totalizando 10.308 hectares em Chinandega. A empresa teve que excluir uma pequena área de sua concessão devido à proximidade com uma reserva natural.
Nicaragua XinXin Linze Minería Group S.A., a mais nova das três, já controla mais de 37.000 hectares para exploração mineral. As concessões estão distribuídas em nove municípios, afetando comunidades locais cujo futuro em convivência com as operações chinesas é incerto.
O governo de Daniel Ortega e Rosario Murillo facilitou a rápida aprovação desses projetos, refletindo a crescente parceria entre a Nicarágua e a China. Enquanto isso, a comunidade internacional observa com cautela, dada a recente sanção dos EUA à Comintsa e as implicações políticas e ambientais dessas concessões. A situação destaca a complexa dinâmica entre desenvolvimento econômico, política internacional e os direitos das comunidades locais.
Quinta parte da Nicarágua em concessões minerais
Até maio de 2024, na Nicarágua, há mais de 1,96 milhão de hectares concedidos para a exploração mineral metálica.
Um total de 11,66% dessas áreas foram concedidas às três mineradoras chinesas entre outubro de 2023 e abril de 2024.
Outros 758.776 hectares solicitados por várias empresas e pessoas estão pendentes de aprovação, com os quais a área concedida para exploração mineral metálica somaria mais de 2,72 milhões de hectares. Esse total equivale a 20,88% da superfície da Nicarágua, estimada em 13.037.300 hectares.
Além disso, 54.664,72 hectares estão aprovados para exploração mineral não metálica, e há 11.414,89 hectares pendentes de aprovação para este mesmo setor. Essa menor quantidade eleva para mais de 2,78 milhões o total de hectares solicitados para exploração mineral de qualquer tipo na Nicarágua, das quais mais de 2,01 milhões já estão aprovadas, com mais de 97% dessas hectares destinadas à mineração metálica.
Na Nicarágua, as exportações da indústria mineradora, principalmente de ouro, estão em ascensão. Entre 2019 e 2023, o valor das exportações de ouro cresceu mais de 226,5%, segundo dados oficiais do Banco Central.
Na China, a “fome” por ouro também cresce implacavelmente. Através do ouro, Pequim aposta na diversificação de seus fundos de reserva. O Banco Popular da China foi o maior comprador de ouro do setor oficial em 2023, com compras de 7,23 milhões de onças, segundo o Conselho Mundial do Ouro, e a tendência se mantém em alta. Em abril de 2024, o banco somou 60.000 onças troy às suas reservas, liderando a compra de ouro por dezoito meses consecutivos.
Essa demanda também empurra o preço do ouro a níveis históricos. Este ano, o custo de cada onça troy já quebrou o recorde de 2.330 dólares.
China também “compra ouro” de outras empresas
O ambientalista e presidente da ilegalizada Fundación del Río, Amaru Ruiz, sustenta que a gestão das concessões minerais na Nicarágua tem sido “bastante discricionária”. Ele denuncia que, em vários casos, desconhecem-se os estudos ambientais e não foram consultadas as comunidades afetadas.
Além disso, alerta que as empresas que obtêm as concessões “não necessariamente” são as mesmas que extraem os metais. Por isso, acredita que há um “sub-registro” das mineradoras chinesas que operam na Nicarágua.
“Sabemos que há intermediários asiáticos comprando ouro em concessões que são outorgadas a outras empresas. Por isso, digo que há uma névoa no processo de outorga de concessões”, comenta o ambientalista.
No entanto, ele considera que a presença de empresários chineses no negócio da mineração na Nicarágua ainda não representa “uma reconversão” do mercado, embora ressalte que a introdução deles faz parte da estratégia da ditadura para evadir as sanções impostas pelos Estados Unidos.
Antes das sanções à Comintsa e Capital Mining, os Estados Unidos já haviam sancionado, em outubro de 2022, a Direção Geral de Minas, vinculada ao Ministério de Energia e Minas. Da mesma forma, ao então presidente do Conselho de Administração da Empresa Nicaraguense de Minas (Eniminas), general Ramón Humberto Calderón Vindell, em janeiro de 2022, e ao ministro de Energia e Minas, Salvador Mansell Castrillo, em novembro de 2021.
“Esse fenômeno vimos após as sanções impostas ao setor minerador”, assegura Ruiz. “Há claramente um interesse em aumentar os mercados de comércio do ouro, e a partir daí, gerou-se o interesse de algumas empresas, principalmente asiáticas, de entrar no setor para estabelecer um nível de comercialização e abertura ao mercado asiático”, estima.
Preocupações com baixos padrões ambientais
Além da celeridade do regime para aprovar as concessões às empresas chinesas, o ambientalista se preocupa com os padrões ambientais e trabalhistas que são inferiores aos aplicados por outras empresas mineradoras.
“No caso da China, é historicamente conhecido que seus padrões ambientais e trabalhistas são muito baixos. Isso aumenta a preocupação sobre o impacto que possam ter no ambiente e também sobre as pessoas que participam dessa empresa”, sublinha Ruiz.
Até a publicação desta reportagem, nem o Ministério de Energia e Minas, nem o Ministério do Ambiente e Recursos Naturais (Marena) ou as empresas chinesas publicaram os estudos ambientais que deveriam realizar antes da execução do projeto, conforme a Lei Geral do Meio Ambiente.
com informações Click Petróleo e Gás