Foto: Reprodução/Divulgação/Governo do RS.
Governador do RS não agradece nominalmente ao presidente Lula durante anúncio de medidas federais
O governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), não fez um agradecimento explícito ao presidente Lula (PT) durante o anúncio de um conjunto de ações federais para lidar com a crise no estado. As informações são da Folha de S. Paulo.
No evento realizado na quarta-feira (15) em São Leopoldo, Leite destacou a importância de superar divergências ideológicas e garantiu que as necessidades urgentes da população gaúcha serão atendidas com “o maior esforço de seu presidente, de seu governador e de prefeitos”.
A falta de um agradecimento direto a Lula foi notada por membros do Palácio do Planalto e interpretada como uma demonstração de descontentamento de Leite com a nomeação de Paulo Pimenta (PT) para a Secretaria Extraordinária para Apoio à Reconstrução do Rio Grande do Sul.
Aliados do governador admitem, em off, que Leite ficou bastante incomodado com a nomeação de um político com ambições eleitorais no estado. O governador ficou sabendo da nomeação de Pimenta pela imprensa, conforme informou a coluna Painel, da Folha.
Segundo esses aliados, Leite teme que Lula queira estabelecer um governo paralelo no estado, onde os ministros discutam medidas diretamente com Pimenta, contornando o Palácio do Piratini.
Um membro da equipe de Leite afirmou, sob anonimato, que o governo do estado não se opunha à criação de uma autoridade, desde que ela se limitasse a acompanhar as ações federais no Rio Grande do Sul.
De acordo com relatos, o Ministério da Fazenda já havia apresentado uma proposta na qual caberia ao governo Lula definir o destino dos recursos provenientes da suspensão do pagamento da dívida do estado com a União.
A Fazenda chegou a redigir um texto no qual o governo Leite se comprometeria a submeter à União a aplicação do dinheiro retido nos cofres do estado graças à suspensão do pagamento da parcela da dívida. No entanto, Leite não concordou e convenceu Lula de que essa fórmula seria inviável diante da urgência de medidas para a reconstrução do RS.
Agora, o medo é que a secretaria represente uma nova tentativa de controle dos recursos no estado. O desconforto pode aumentar caso Pimenta indique o ex-prefeito Emanuel Hassen De Jesus, conhecido como Maneco Hassen, para a secretaria-executiva da autoridade federal.
O presidente do PSDB, ex-governador de Goiás Marconi Perillo, foi um dos porta-vozes dessa insatisfação. “Causou muita estranheza o fato de o presidente ter anunciado a autoridade federal sem ter sequer falado disso com o governador, que é a principal autoridade constitucional no estado”, afirmou.
Perillo disse esperar que essa autoridade apoie a reconstrução do Rio Grande do Sul, “com recursos que precisam ser destinados ao estado”.
“A gente espera que a ajuda seja em forma de transferência gratuita, ou seja, em doação, porque o estado não suporta mais operações de crédito. Então a gente espera que realmente essa autoridade possa ajudar e não atrapalhar”, disse.
Por outro lado, o ex-governador Aécio Neves (PSDB-MG) afirmou que questionará, na Câmara dos Deputados, os fundamentos legais para a criação desse ministério. Na opinião de Aécio, isso abre um precedente perigoso. “É uma intervenção no estado não prevista na Constituição”, disse ele.
Aécio questiona se o PT consideraria razoável se o governo Jair Bolsonaro (PL) criasse secretarias extraordinárias nos estados brasileiros para combater a pandemia da Covid-19.
Segundo Aécio, o episódio começa com uma indelicadeza de Lula ao instituir a autoridade sem avisar ao governador do Rio Grande do Sul e pode acabar com uma imprudência.
No entanto, o próprio Leite negou desconfortos na relação com Pimenta. “Não contem comigo para disputa política, não contem comigo para disputa de vaidades, de egos, é em favor da sociedade. Temos uma população nesse momento que está sofrendo”, afirmou.
“Não temos o direito de permitir que qualquer tipo de diferença ideológica, programática, divisão política ou de aspiração pessoal possa interferir na nossa missão que atender essas pessoas. Vou me reunir em breve, inclusive com o ministro [Pimenta] e vamos atuar para que possamos coordenar essas ações conjuntamente”, concluiu.
Na cerimônia de quarta-feira, Pimenta posou ao lado de Lula e Leite após o presidente assinar medida provisória que institui o vale reconstrução, apoio financeiro destinado a famílias de desabrigados. Os três ergueram o documento para fotos.
Na avaliação de um aliado de Leite, esse foi um retrato da politização da crise. Em seu discurso, o governador reafirmou pedido de anistia parcial da dívida do estado com a União e pregou a superação de diferenças políticas.
“Não permitiremos que haja diferença que nos impeça de atender às necessidades urgentes que serão atendidas com maior esforço do seu presidente, do seu governador e dos prefeitos e de cada um daqueles que escolheram a vida pública para servir a esta sociedade”, discursou.
Já o site oficial do Governo do Rio Grande do Sul destacou, do discurso de Lula, a afirmação de que a ação do governo federal não é um favor. A frase de Lula reproduzida na página do estado foi a seguinte: “O problema de uma cidade não é apenas dela: é do estado, do governo federal, da nação. O que estamos fazendo não é nenhum favor, pois é uma necessidade ajudar todos”.