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A Embraer, fabricante de aeronaves, está considerando a possibilidade de criar um avião comercial de longo curso. Isso colocaria a empresa brasileira em competição direta com a Boeing dos EUA e a Airbus da Europa, de acordo com o The Wall Street Journal e o Financial Times. As informações são do O Globo.
Embora a Embraer tenha negado qualquer “plano para um ciclo significativo de investimentos neste momento”, a empresa afirmou que tem a capacidade de desenvolver uma aeronave maior.
Atualmente, a Embraer é a terceira maior fabricante de aviões do mundo, mas não compete diretamente com a Boeing e a Airbus, pois se concentra em aeronaves regionais e jatos particulares.
Os aviões mais populares da Boeing e da Airbus são os de “corredor único”, capazes de transportar cerca de 200 passageiros e voar até 6.000 a 8.000 quilômetros, como os 737 Max da Boeing e os A320 da Airbus.
Por outro lado, as aeronaves regionais transportam de 70 a 140 passageiros. O maior avião da Embraer, o E195-E2, tem no máximo 146 assentos e pode voar até 4.800 quilômetros.
Na aviação regional, a principal rival da Embraer era a Bombardier do Canadá. Em 2017, a Bombardier fez uma parceria comercial com a Airbus e, em 2020, vendeu sua divisão de aviões regionais para a fabricante europeia, passando a se concentrar em jatos executivos.
A Embraer tentou seguir um caminho semelhante em 2018, quando fez um acordo para vender parte de sua divisão comercial para a Boeing. No entanto, o negócio foi desfeito em 2020 pela empresa americana, e a Embraer agora busca compensação por danos em uma arbitragem internacional.
De acordo com o The Wall Street Journal e o Financial Times, os estudos da Embraer para desenvolver o novo modelo ainda estão em estágios iniciais e só serão apresentados ao Conselho de Administração em 2025.
O jornal americano, que foi o primeiro a revelar os planos, destacou o desenvolvimento de um modelo para competir com os 737 e os A320. A reportagem informa que, apesar do estágio inicial, a Embraer já teria sondado parceiros em potencial, tanto entre investidores, como o Fundo de Investimento Público (PIF) da Arábia Saudita, quanto entre fornecedores.
O Financial Times acrescentou que o projeto poderia incluir jatos particulares de longo curso. Nesse segmento, a Embraer se destaca com aeronaves menores.
No ano passado, o Phenom 300, um jato da Embraer para até nove passageiros, superou o Cessna Citation Excel, da fabricante americana, como o avião executivo mais usado nos EUA.
Para a Embraer, lançar modelos de aviões maiores, seja para a aviação comercial ou executiva, seria uma decisão audaciosa, que exigiria bilhões em investimentos, sem garantia de retorno.
Em um relatório intitulado “Voando alto, mas com os dois pés no chão”, analistas do banco de investimentos BTG expressaram surpresa com as reportagens e destacaram que um projeto desse tipo seria incoerente com as recentes indicações da direção da Embraer, de que o foco da empresa é reduzir a dívida, aumentar as receitas com as vendas das linhas recentemente desenvolvidas e voltar a distribuir lucros para os acionistas.
“A pandemia de Covid-19 causou grandes perturbações nas cadeias de abastecimento desses dois players (a Boeing e a Airbus), mas não esperamos que persistam por muito mais tempo, especialmente não até o fim desta década, quando esperamos que um potencial novo programa comercial (da Embraer) entraria em operação, dadas as extensas fases de desenvolvimento necessárias para tal. É por isso que não vemos o risco-retorno de um novo programa comercial”, diz o relatório do BTG.
A crise enfrentada pela Boeing aumentou as apostas de que a Embraer poderia realmente fazer esse movimento desde o início deste ano. Nos primeiros dias de janeiro passado, um 737 Max 9 da Alaska Airlines perdeu parte de sua fuselagem durante o voo e teve que fazer um pouso de emergência no Aeroporto Internacional de Portland, em Oregon, nos EUA.
Problemas em aeronaves da linha foram relatados por outras companhias, o governo americano abriu uma investigação, e a Boeing anunciou a substituição de parte do alto comando da companhia.
Além disso, a empresa foi obrigada a reduzir a produção da linha Max dos 737. Segundo o Financial Times, a Boeing gastou US$ 4 bilhões no primeiro trimestre deste ano por causa da crise, que ainda afetou os operadores – companhias aéreas de vários países foram obrigadas a reprogramar voos porque tiveram que deixar as aeronaves no solo.
Embora alguns vejam a crise da concorrente americana como uma oportunidade para a Embraer, Carlos Daltozo, analista da Eleven Research, ponderou que a experiência da Boeing pode, na verdade, servir de lição para a empresa brasileira sobre os riscos envolvidos no desenvolvimento de modelos maiores:
– Insistiram num projeto errado, com problemas de software e tudo o mais. Eles estão tentando remediar, mas esse remédio está saindo mais caro ainda do que o inicialmente esperado. É muito complicado.