O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), está intensificando seus esforços para obter o apoio do governo federal ao candidato que ele deseja indicar como seu sucessor no cargo. A eleição para a liderança da Casa está prevista para fevereiro de 2025, e a disputa pela sucessão ainda está em aberto.
Em uma reunião com o presidente Lula (PT) no final de abril, no Palácio da Alvorada, Lira expressou seu desejo de conduzir sua própria sucessão. Ele ofereceu ao petista o poder de veto sobre os candidatos.
Atualmente, pelo menos quatro deputados se apresentam como pré-candidatos: Elmar Nascimento (União Brasil-BA), Marcos Pereira (Republicanos-SP), Antonio Brito (PSD-BA) e Isnaldo Bulhões Jr. (MDB-AL).
Entre esses nomes, Elmar Nascimento é considerado o mais próximo de Lira. No entanto, relatos indicam que o próprio presidente da Câmara tem dúvidas sobre a viabilidade dessa candidatura.
Nenhum dos pré-candidatos possui uma maioria sólida na Casa. Lira está ciente disso e afirmou a seus aliados que não quer correr o risco de o governo apoiar um parlamentar que seja seu adversário na disputa.
Lira pretende resolver a questão de seu candidato antes das eleições municipais. Tradicionalmente, a Câmara fica esvaziada durante o processo eleitoral, pois os parlamentares retornam às suas bases eleitorais para apoiar seus candidatos.
De um lado, aliados de Lira afirmam que Lula se comprometeu a apoiar o nome escolhido por ele. Por outro lado, auxiliares do petista negam esse compromisso e afirmam que o Executivo tratará do assunto no final do ano.
A avaliação de pessoas próximas a Lula é que o presidente só apoiará o candidato de Lira se for alguém capaz de reunir apoio tanto do centrão quanto da esquerda.
Um aliado de Lula destaca que o presidente respaldaria alguém com o potencial de repetir o desempenho de Lira na última eleição para a presidência da Câmara, em fevereiro de 2023, quando obteve uma votação recorde.
Naquela ocasião, para evitar uma derrota, Lula não interferiu na eleição da Casa. Lira espera que o mesmo cenário se repita desta vez.
De acordo com cálculos preliminares dos aliados de Lira, um candidato “anti-Lira” já começaria a disputa com cerca de 150 votos, correspondentes aos críticos do atual presidente da Câmara.
Lira não pode concorrer à sucessão, mas busca transferir seu capital político para um nome de sua escolha. Embora a eleição da Mesa Diretora esteja marcada apenas para fevereiro de 2025, os potenciais candidatos já estão se movimentando desde o final do ano passado.
Recentemente, Marcos Pereira, presidente nacional do Republicanos, se reuniu pela segunda vez com um grupo pequeno de parlamentares do PT. Segundo relatos, ele se colocou como opção e deixou claro que não abrirá mão de sua candidatura.
Pereira é considerado um parlamentar com trânsito entre deputados de outras legendas e boas relações com membros do governo. Ele organizou uma festa de aniversário em abril, que reuniu cerca de 500 convidados, incluindo parlamentares, autoridades e aliados tanto do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) quanto do petista.
Segundo fontes, Pereira trabalha para consolidar sua candidatura como representante do bloco que inclui sua sigla, com 146 deputados, reunindo também MDB, PSD e Podemos.
Deputados do PT também se encontraram com Elmar Nascimento na semana passada. O encontro aconteceu na casa do deputado Damião Feliciano (União Brasil-PB). Embora essas reuniões sejam semanais, desta vez foi visto como uma oportunidade para Nascimento fazer um gesto em direção aos petistas.
O líder do governo no Senado, Jaques Wagner (PT-BA), também compareceu, o que foi interpretado como um sinal de apoio à candidatura de Nascimento por aliados.
Isso ocorre porque os dois estão em campos políticos distintos na Bahia. O nome do deputado foi vetado por membros do PT baiano para ser ministro durante a transição do governo de Lula.
Os auxiliares de Wagner minimizaram a presença do senador, afirmando que ele apenas passou pelo almoço e ficou pouco tempo.
Deputados do PT expressam o desejo de construir um consenso com outras forças da base aliada de Lula, a fim de garantir a aprovação de projetos prioritários na Casa. Um deles ressalta a importância de iniciar conversas com potenciais candidatos desde já, para evitar exclusão das decisões futuras.
Além do PT, os deputados que buscam viabilizar suas candidaturas na eleição também buscam apoio do PL, que possui a maior bancada na Câmara (com 95 deputados). O líder do PL na Casa, Altineu Côrtes (RJ), afirmou a interlocutores que o partido só tratará da sucessão de Lira após as eleições municipais.
O líder do PSD, Brito, é apontado como o pré-candidato mais alinhado ao governo Lula até o momento. Ele também possui boa relação com parlamentares e lideranças da direita.
Isnaldo Bulhões Jr., líder do MDB, atua nos bastidores da Casa sem se posicionar de forma contundente como candidato. Parlamentares do centrão avaliam que ele pode se tornar o candidato “anti-Lira”, já que ambos pertencem a grupos políticos diferentes em Alagoas.
Com a ausência de um nome que unifique todos os setores da Câmara entre os pré-candidatos já apresentados, outros nomes passaram a ser cogitados.
São mencionados os líderes Hugo Motta (Republicanos-PB), que conta com a simpatia de Lira e cardeais do PP, e o Doutor Luizinho (PP-RJ).
Motta é considerado capaz de agregar forças. No entanto, ele só aceitaria se candidatar caso Pereira, presidente de seu partido, abrisse mão de concorrer. Essa possibilidade é descartada por aliados de Pereira.
Além disso, Motta ofereceu entregar a presidência nacional do Republicanos a Pereira caso seja eleito presidente da Câmara, o que lhe daria projeção nas eleições de 2026.
Já Luizinho tem a simpatia do presidente do PP, Ciro Nogueira (PI), mas deputados do centrão consideram que ele não possui o apoio necessário de outras legendas.