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O Ministro da Fazenda, Fernando Haddad, não estava presente na reunião em que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) decidiu o destino de Jean Paul Prates, então presidente da Petrobras, que vinha sendo pressionado há mais de três meses. As informações são da Folha de S. Paulo.
De acordo com aliados de Lula, Haddad também não participou do processo que resultou na demissão de Prates.
Alexandre Padilha, Ministro das Relações Institucionais e visto como um aliado de Haddad no Palácio do Planalto, também não esteve presente na decisão final.
Um membro da equipe econômica avalia que toda a operação foi montada “na surdina”, na Casa Civil, para evitar que Haddad interviesse a favor da permanência de Prates, como já havia feito em abril.
Prates foi demitido na presença de seus dois adversários, os ministros Rui Costa (Casa Civil) e Alexandre Silveira (Minas e Energia), e descreveu a participação de ambos na conversa como “presença regozijada”.
No momento da reunião, Haddad havia acabado de sair do Palácio do Planalto e estava em uma reunião com secretários no Ministério da Fazenda, enquanto Lula demitia o presidente da Petrobras.
A exclusão de Haddad foi interpretada por políticos e economistas como uma demonstração de força de Rui Costa, rival de Haddad no Ministério.
No dia seguinte à demissão, Haddad não comentou as circunstâncias em que Prates foi demitido. Em abril, o Ministro da Fazenda defendeu a permanência de Prates, argumentando que não havia razões técnicas para a substituição.
Na época, Lula foi aconselhado a não tomar decisões no auge da crise, especialmente porque Silveira havia criticado Prates em uma entrevista à Folha.
Uma demissão de Prates logo após a entrevista poderia ser vista como um incentivo à autofagia na equipe, o que um conselheiro de Lula chamou de dar legitimidade a uma prática prejudicial dentro do governo.
A sobrevida concedida a Prates foi atribuída a Haddad. O papel do Ministro da Fazenda foi visto como um sinal de fortalecimento sobre Rui Costa e Silveira, embora Lula continuasse insatisfeito com o desempenho do então presidente da Petrobras, como mostrou uma reportagem da Folha.
Consultado na época, Haddad também defendeu a distribuição de dividendos da Petrobras, posição que Prates havia assumido e era um dos motivos da crise entre ele e Silveira.
O argumento de Haddad era que parte do dinheiro dos dividendos aumentaria o caixa da União e aliviaria a situação financeira do governo federal.
Na avaliação dos aliados de Haddad, o ministro não foi chamado novamente para opinar sobre o futuro de Prates porque a decisão de Lula já estava tomada. Embora Lula tenha sido convencido sobre a distribuição de dividendos extraordinários, o presidente tinha manifestado a intenção de demitir Prates por quebra de confiança.
Apesar de reconhecerem o poder do Ministro da Casa Civil, aliados de Haddad no governo enfatizam que o episódio não abalou o prestígio do ministro junto ao presidente. O problema, eles frisam, é com Prates.
No entanto, auxiliares de Haddad admitem que a mudança tem reflexos na economia porque piora a visão dos investidores sobre o governo, aumentando o descontentamento do mercado financeiro com a gestão da empresa.
Esse processo mina a credibilidade da política econômica e a garantia dada pela equipe econômica de que não haveria intervenção política na Petrobras.
Durante o impasse dos dividendos, Lula chegou a cancelar uma reunião em que ouviria os argumentos de Haddad em defesa de Prates. Naquele 7 de abril, um domingo, Haddad ficou de sobreaviso à espera de uma convocação de Lula.
Chamado, o Ministro da Fazenda antecipou seu voo para Brasília para se reunir com o presidente. A informação de que Haddad se reuniria com Lula veio a público e, contrariado com o vazamento, Lula cancelou a conversa.
Um aliado de Lula esclarece, no entanto, que o presidente decidiu adiar a reunião com Haddad porque, ainda naquele dia, estava decidido a demitir Prates.
Em março, quando o conselho da Petrobras decidiu reter os dividendos extraordinários da estatal, Haddad se alinhou a Prates, defendendo a destinação de parte do dinheiro aos acionistas da Petrobras, incluindo a União.
Esse alinhamento tático foi entendido no governo como um apoio irrestrito a Prates.
Haddad, no entanto, condenava em conversas atitudes do ex-presidente da Petrobras, como levar o debate às redes sociais ou avisar a interlocutores que interpelaria Lula sobre a entrevista que Silveira havia concedido à Folha.
No governo, essa espécie de ultimato ao presidente foi recebida como uma afronta. E Prates não foi chamado para essa conversa com Lula.
Na terça-feira (15), Prates apresentou a Lula planos para a Petrobras. Acabou sendo demitido na presença de seus críticos.