Em uma entrevista ao Estadão, o ensaísta Francisco Bosco causou polêmica ao reconhecer um ponto de concordância com Olavo de Carvalho, o ex-filósofo que se tornou guru da direita brasileira e do presidente Jair Bolsonaro. O tema em questão diz respeito à presença de uma perspectiva ideológica e política de esquerda nas universidades do Brasil.
Segundo informa o Estadão, Bosco, conhecido por suas reflexões críticas, destacou que o ambiente acadêmico muitas vezes exclui vozes conservadoras e reage de forma agressiva a qualquer tentativa de diversificação. Ele argumentou que a falta de pluralidade prejudica o debate intelectual e cultural no país. A palavra “intelectual” também foi abordada na entrevista, sendo vista por muitos como elitista e associada à concentração ideológica.
Apesar de reconhecer esse ponto de Olavo de Carvalho, Bosco afirmou que ele está longe de ser um exemplo de honestidade intelectual. No entanto, ele enfatizou a importância de considerar a influência do pensamento conservador, mesmo quando não se concorda com o autor.
O mundo das redes sociais, por sua vez, muitas vezes simplifica debates complexos, substituindo-os por ataques grosseiros. A entrevista de Bosco também foi alvo de controvérsias, com alguns questionando sua autenticidade. No entanto, o conteúdo da conversa revela uma constatação clara: há uma concentração ideológica nas ciências humanas das universidades brasileiras, especialmente nos campos da filosofia, letras e ciências sociais.
O ensaísta mencionou um estudo que verificou a ausência de autores conservadores importantes nas teses acadêmicas do Brasil. “Eu estudo (…) um autor de direita que fez uma verificação nos bancos do CNPq e mostrou que alguns dos autores conservadores mais importantes do mundo praticamente não são mencionados nas teses de ciências humanas do Brasil. A pessoa que talvez primeiro tenha falado sobre isso, e nem sempre da melhor maneira, foi o Olavo de Carvalho. Embora me custe dizer essa frase, eu a digo (…) sem problema algum: Olavo tinha razão nesse ponto”. Essa discussão não é nova e remonta a décadas atrás, quando o professor Roberto Schwarz, da USP, já apontava para a preservação do domínio cultural da esquerda, mesmo durante o período anterior ao golpe militar de 1964. A reflexão sobre a pluralidade e a diversidade no ambiente acadêmico continua sendo relevante e necessária.