Foto: Reprodução.
Matéria publicada na última sexta-feria pela coluna NOTAS & INFORMAÇÕES do Estadão chamou o evento de 1º de Maio de “fracasso”.
A imagem do presidente Lula da Silva discursando para uma pequena audiência no 1º de Maio já se tornou histórica. A cena evidencia o vazio da agenda política da esquerda, especialmente do PT, tão evidente quanto a escassa presença de público no estacionamento do estádio do Corinthians, em Itaquera, na zona leste de São Paulo, anteontem. Poucas pessoas se interessaram em ouvir o que Lula tinha a dizer no Dia do Trabalho, pois o próprio presidente parece desconectado dos trabalhadores do século 21.
No palanque, diante de tantos espaços vazios, Lula ficou visivelmente exasperado. “O ato está mal convocado”, reclamou o petista. “Nós não fizemos o esforço necessário para trazer a quantidade de pessoas que deveríamos”, criticou, direcionando sua queixa ao secretário-geral da Presidência, Márcio Macedo, a quem atribuiu a responsabilidade pelo “movimento social brasileiro”, seja lá o que isso signifique.
A estratégia de comunicação do governo para o Dia do Trabalho ainda é desconhecida. No entanto, independentemente de quão brilhante essa estratégia possa ter sido, e mesmo contando com recursos dos contribuintes por meio da Lei Rouanet, patrocínio da Petrobras e filmagens da estatal Empresa Brasileira de Comunicação (EBC), o evento não poderia ter sido diferente do fiasco que foi. Isso se deve a uma razão fundamental: o Brasil é governado por um presidente que não se adaptou aos tempos.
Lula ainda pensa como o sindicalista que incendiava os trabalhadores com seus discursos na Vila Euclides, em São Bernardo do Campo (SP), no final dos anos 1970. No entanto, o país mudou significativamente desde então, assim como o mundo desde que Lula assumiu a Presidência pela primeira vez, há mais de 20 anos. Durante esse período, houve transformações profundas não apenas nas relações de trabalho, outrora baseadas na oposição entre empregadores e empregados, mas também, e principalmente, na percepção que os próprios trabalhadores têm de seus meios de subsistência.
Antigamente fortes, em grande parte devido a exigências legais, os sindicatos e centrais sindicais, que tradicionalmente lotavam as ruas no 1º de Maio, agora são apenas sombras de uma representação profissional que, no auge do sindicalismo, já era criticada por suas ligações partidárias. Nos últimos anos, essas organizações perderam credibilidade para uma massa de trabalhadores que não se sente representada, nem deseja ser, preferindo empreender por conta própria.
Lula e o PT parecem não perceber isso. Eles reduziram o fracasso do 1º de Maio a um problema de “comunicação”. No entanto, eles não compreendem a transformação da realidade ao seu redor e, com frequência, condenam a reforma trabalhista aprovada pelo Congresso em 2017. Contrariamente ao que dizem esses “progressistas”, a reforma não precarizou o mercado de trabalho; ela foi uma resposta à realidade de milhões de trabalhadores autônomos já precarizados, que precisavam de proteção legal para garantir sua liberdade de conduzir suas próprias vidas.
O mercado de trabalho está em crescimento e a renda média aumentou, embora minimamente. No entanto, os trabalhadores parecem não associar essa melhoria ao presidente da República. Isso ocorre porque, como demonstrado em seu discurso em Itaquera, Lula não oferece uma visão de futuro promissora. Além disso, ele insiste em uma agenda econômica fracassada, baseada no intervencionismo estatal e nos gastos excessivos do governo, que prejudicaram a classe trabalhadora durante seus mandatos.
Lula pode não ter uma visão do novo mundo do trabalho, mas os trabalhadores têm memória.