Imagem: Reprodução/TV Globo
Um dia antes de ser preso sob suspeita de mandar matar a vereadora Marielle Franco (PSOL), Domingos Brazão entrou em contato com diversos políticos pelo celular, incluindo o prefeito do Rio, Eduardo Paes (PSD), o presidente da Alerj, Rodrigo Bacellar (União Brasil), e o ex-deputado federal Eduardo Cunha.
A Polícia Federal analisou mensagens no celular de Brazão da véspera da operação que resultou em sua prisão. O conselheiro do Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro também procurou o vereador Waldir Brazão e o deputado estadual Thiago Rangel (PMB). A partir das mensagens, a PF reconstituiu parte do dia 23 de março de Brazão, um sábado. A análise faz parte do relatório da Operação Murder Inc, que prendeu os suspeitos de mandar matar Marielle, encaminhado ao STF (Supremo Tribunal Federal) nesta quinta-feira (23).
De acordo com o relatório, Brazão enviou mensagens citando notícias do caso. Na época, a imprensa já havia divulgado que seu nome era um dos mencionados por Ronnie Lessa, o ex-PM apontado como autor dos assassinatos de Marielle e seu motorista, Anderson Gomes. A PF constatou que Paes não respondeu às mensagens de Brazão. Os investigadores destacaram que Brazão procurou diversos políticos, sem deixar claro o conteúdo das conversas, mas mencionaram que o prefeito do Rio não retornou a tentativa de contato.
“Para Bacellar, Eduardo Cunha e posteriormente para Chiquinho Brazão, Domingos também encaminhou diversas notícias jornalísticas acerca do caso Marielle e Anderson. Não é possível extrair de tais recortes eventual tentativa de embaraçar as investigações em andamento naquele momento”, afirmou o relatório da PF, assinado pelo delegado Guilhermo de Paula Catramby.
Dois dias antes da prisão, Brazão também teria procurado o primeiro delegado a investigar o caso Marielle, Giniton Lages, que é suspeito de envolvimento na trama. A PF citou trecho do depoimento dele no âmbito da Operação Murder Inc: “Chamou a atenção da equipe de investigação que o delegado Giniton Lages, também alvo de medidas cautelares em seu desfavor, relatou à equipe projetada que tinha sido procurado, nesse período, por um delegado de Polícia Civil intermediário de Domingos para falarem com urgência, o que teria sido repelido, conforme recorte do Relatório Compilado das Atividades outrora apresentado”.
Giniton foi designado para a investigação por Rivaldo Barbosa, o chefe da Polícia Civil na época da morte de Marielle. Barbosa teria combinado o assassinato com os irmãos Brazão, garantindo que o caso não fosse esclarecido, segundo a PF. Suspeito de agir para desviar o curso das investigações, Giniton chegou a escrever um livro sobre a morte da vereadora.
Na véspera da prisão, Brazão organizou um almoço com um ex-assessor e um advogado. No restaurante Casanova, em Niterói (RJ), ele se reuniu com seu ex-assessor Robson Calixto, também suspeito de envolvimento no assassinato. Calixto teria intermediado o contato da família Brazão com milicianos de Rio das Pedras. Outros presentes eram o advogado e procurador da Alerj Rodrigo Lopes Lourenço e um interlocutor identificado pela PF somente como “Kelvin”.
Foi nesse encontro que Brazão, um dos mais poderosos nomes da política fluminense, disparou as mensagens para alguns dos mais importantes políticos do estado. O episódio, revelado pela primeira vez no relatório da PF, ilustra o momento vivido pelo chefe do clã, que está preso desde 24 de março.
A PF relatou dificuldade em recuperar o conteúdo do celular do conselheiro. As tentativas de contato com diferentes políticos foram algumas das poucas mensagens que os investigadores conseguiram recuperar do aparelho.
Domingos Brazão e seu irmão, o deputado federal Chiquinho Brazão, que também está preso, negam participação nos assassinatos.