foto: Breno Carvalho
Lula lamenta morte de presidente do Irã: ‘Minhas condolências ao povo iraniano’
Itamaraty também lamentou o ocorrido por nota nesta segunda-feira. No texto, o Ministério das Relações Exteriores afirma que o governo recebeu com “consternação” a notícia
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva lamentou nesta segunda-feira a morte do presidente do Irã, Ebrahim Raisi. Pelas redes sociais, Lula que soube da notícia com “pesar” e desejou condolências aos familiares e ao povo iraniano.
“Com pesar soube da confirmação da morte do presidente iraniano Ebrahim Raisi e do seu chanceler, Hossein Amir Abdollahian e de todos os passageiros e tripulação, após a queda de seu helicóptero. Minhas condolências aos familiares de todas as vítima, ao governo e ao povo iraniano”.
O Itamaraty também lamentou o ocorrido por nota nesta segunda-feira. No texto, o Ministério das Relações Exteriores afirma que o governo recebeu com “consternação” a notícia e que “estende aos familiares do Presidente Raisi, do Chanceler Abdollahian e das demais vítimas, e ao governo e povo iranianos os mais sinceros sentimentos de solidariedade e pesar pelas irreparáveis perdas”.
O presidente do Irã, Ebrahim Raisi, morreu aos 63 anos, após a queda de um dos três helicópteros de seu comboio presidencial, no domingo. A morte foi confirmada pelo Ministério das Relações Exteriores iraniano, que confirmou que o chanceler Hossein Amir Abdollahian também está entre as vítimas.
O ultraconservador era presidente da República Islâmica desde junho de 2021, sucedendo ao moderado Hassan Rouhani após uma vitória que pôs todas as instituições políticas importantes do país sob o controle da chamada linha dura do regime.
O helicóptero que transportava o presidente caiu em uma parte remota do país, de acordo com a mídia estatal iraniana, pondo em marcha uma grande operação de busca e resgate em meio ao mau tempo e neblina espessa. Mais cedo, a agência de notícias oficial IRNA havia afirmado que a aeronave havia feito um “pouso forçado”, mas posteriormente uma autoridade reconheceu à agência Reuters que a vida de Raisi estava “em risco” após a “queda” em uma região de montanha perto da fronteira com o Azerbaijão.
Em um comunicado, o governo estendeu suas condolências ao líder supremo Ali Khamenei e à nação iraniana e disse que continuaria a operar “sem interrupções”, de acordo com a Press TV. O gabinete do presidente também elogiou Raisi como um líder “trabalhador e incansável” que serviu ao povo do Irã para ajudar a avançar e progredir o país: “Cumpriu sua promessa e sacrificou sua vida pela nação”, diz o comunicado, que afirma, ainda, que “não haverá a menor perturbação” na administração do Irã após o acidente mortal. O vice-presidente Mohammad Mokhber liderou uma reunião de gabinete de emergência, após a notícia da localização dos destroços do helicóptero, segundo publicou o “Guardian”.
O ministro das Relações Exteriores iraniano, Hossein Amirabdollahian; o governador da província do Azerbaijão Oriental, Malek Rahmati; e o representante do líder supremo do Irã no Azerbaijão Oriental, o aiatolá Mohammad Ali Ale-Hashem, também estavam com outras cinco pessoas na aeronave, uma de três que viajavam em um comboio presidencial — as outras aterrissaram sem problemas em Tabriz, nordeste do Irã.
Tudo indica que o mau tempo causou o acidente, que ocorre poucos dias depois de autoridades graduadas americanas e iranianas terem mantido conversações por meio de intermediários para tentar conter a ameaça de um conflito mais amplo no Oriente Médio. O Departamento de Estado dos EUA disse que acompanhava de perto os relatórios sobre o acidente, e a Casa Branca afirmou que o presidente Joe Biden foi informado.
Acusado por muitos iranianos e ativistas de direitos humanos de ter um papel em execuções em massa de prisioneiros políticos nos anos de 1980, Raisi nasceu em 1960 em Mashhad — segunda maior cidade do Irã, na região nordeste, e lar do santuário xiita mais sagrado do país — e perdeu o pai, que era clérigo, quando tinha apenas cinco anos.
Aos 15, Raisi, seguiu os passos do genitor e entrou em um seminário na cidade sagrada de Qom. Enquanto era estudante, participou de protestos contra o Xá apoiado pelo Ocidente, que acabou por ser deposto em 1979 na Revolução Islâmica liderada pelo aiatolá Ruhollah Khomeini, depois da qual ingressou no Judiciário e ascendeu cedo a cargos importantes enquanto era treinado pelo aiatolá Ali Khamenei, que se tornou presidente do Irã em 1981.
Com apenas 20 anos, foi nomeado procurador-geral de Karaj, que fica perto da capital, Teerã. Aos 25 anos, tornou-se vice-procurador-geral de Teerã. Enquanto esteve nesse posto, atuou como um dos quatro juízes que participaram de tribunais secretos criados em 1988, que passaram a ser conhecidos como “Comitê da Morte”.
Essas cortes “julgaram novamente” milhares de prisioneiros que já cumpriam penas de prisão pelas suas atividades políticas. A maioria era composta por membros do grupo de oposição de esquerda Mujahedin-e Khalq (MEK), também conhecido como Organização Popular Mujahedin do Irã (PMOI).
O número exato dos que foram condenados à morte pelos tribunais não é conhecido, mas grupos de direitos humanos afirmaram que cerca de 5 mil homens e mulheres foram executados e enterrados em valas comuns não identificadas, o que constituiu um crime contra a Humanidade.
Os líderes da República Islâmica não negam que as execuções tenham acontecido, mas não discutem detalhes e a legalidade de cada caso. Embora tenha repetidamente negado seu papel nas sentenças de morte, Raisi também disse que foram justificadas por causa de uma fatwa, ou decisão religiosa, do ex-líder supremo aiatolá Khomeini.
Há cinco anos, uma fita de áudio de uma reunião em 1988 entre Raisi, vários outros membros do Judiciário e o então vice-líder supremo, aiatolá Hossein Ali Montazeri (1922-2009), vazou. Nele, Montazeri descreve as execuções como “o maior crime da História da República Islâmica”. Um ano depois, Montazeri perdeu sua posição como sucessor designado de Khomeini, e o aiatolá Khamenei tornou-se o líder supremo após a morte de Khomeini.
Entre 1989 e 1994, Raisi exerceu a função de procurador-geral de Teerã, depois foi chefe da Organização da Inspetoria do Estado e vice-chefe da Autoridade Judiciária entre 2004 e 2014, quando foi nomeado procurador-geral nacional.
Dois anos depois, o aiatolá Khamenei o nomeou guardião de uma das fundações religiosas mais importantes e ricas do Irã, a Astan-e Quds-e Razavi. Ela administra o santuário do oitavo Imã Reza xiita em Mashad, bem como todas as várias instituições de caridade e organizações afiliadas a ele. Segundo os EUA, possui vastas participações econômicas na construção, agricultura, energia, telecomunicações e serviços financeiros.
Em 2017, Raisi surpreendeu os observadores ao candidatar-se à Presidência. Rouhani, porém, conquistou um segundo mandato com uma vitória esmagadora no primeiro turno das eleições, com 57% dos votos. Raisi, que se apresentou como um combatente anticorrupção, mas foi acusado pelo presidente de fazer pouco para combater a corrupção como vice-chefe do Judiciário, ficou em segundo lugar, com 38%.
A derrota não manchou a imagem de Raisi e, em 2019, o aiatolá Khamenei o nomeou para a poderosa chefia do Judiciário, cargo que ocupou até ser eleito presidente — o cargo de presidente é a segunda posição mais poderosa do Irã, abaixo apenas da do líder supremo, que toma as decisões finais sobre política externa ou grandes temas nacionais.
Na semana seguinte à sua nomeação ao Judiciário, foi também eleito vice-presidente da Assembleia de Peritos, o órgão clerical de 88 membros responsável pela eleição do próximo Líder Supremo.
Como chefe do Judiciário, Raisi implementou reformas que levaram a uma redução no número de pessoas condenadas à morte e executadas por crimes relacionados a drogas. No entanto, o Irã continuou a matar mais pessoas do que qualquer outro país, com exceção da China.
Também continuou trabalhando com os serviços de segurança para reprimir a dissidência e processar muitos iranianos com dupla nacionalidade ou residência permanente no estrangeiro sob acusações de espionagem.
O Globo