O lançamento do submarino Tonelero às águas de Itaguaí (RJ), em 27 de março, encheu a Marinha brasileira de esperança. A cerimônia, que celebrou um novo avanço do Programa de Desenvolvimento de Submarinos (Prosub), contou com a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o presidente da França Emmanuel Macron e a primeira-dama Janja Silva, que se tornou madrinha da embarcação ao estourar uma garrafa de champanhe no casco.
No entanto, a Marinha não esperava o torpedo orçamentário que viria dias depois do governo federal. Em uma única decisão, o Prosub teve 200 milhões de reais bloqueados de sua verba anual como parte de um ajuste bilionário para equilibrar as contas públicas. No início do ano, o Ministério da Defesa previa um déficit de 780 milhões de reais na verba para os submarinos em 2024. Após o corte, o rombo aumentou para quase 1 bilhão de reais.
Essa notícia impactou as relações entre o governo federal e as Forças Armadas. O presidente Lula havia se comprometido a melhorar essas relações ao assumir seu terceiro mandato presidencial. Além disso, ele vinha sinalizando a intenção de investir pesadamente no Prosub e finalmente concretizar o tão desejado submarino de propulsão nuclear, anunciado por ele há quinze anos.
Logo após a festa com Macron, a Itaguaí Construções Navais (ICN), responsável pelas entregas do Prosub, iniciou uma demissão em massa que afetou duzentos funcionários, com outros quatrocentos empregos em risco. A ICN justificou essa medida pelo alto custo da manutenção de mão de obra especializada, considerando um orçamento pouco previsível por parte do governo. A qualificação desses trabalhadores é longa e custosa, e muitos técnicos são enviados à França para treinamento pela Naval Group, que detém metade da ICN (a outra metade pertence ao Grupo Odebrecht, atual Novonor).
A Marinha concorda que as demissões não resultam de má-fé da ICN, mas sim da falta de atenção do governo a um programa estratégico para o setor nuclear brasileiro. A lacuna nos quadros profissionais cresce, e a entrega do submarino nuclear se distancia. O contra-almirante Luiz Valicente, assessor-chefe do Prosub, destaca que estão perdendo especialistas capacitados para o mercado, o que gera mais atrasos e custos.
Segundo informações da VEJA, a ICN espera que o governo reconsidere a importância do Prosub e, no mínimo, desbloqueie a verba essencial para manter o cronograma das embarcações. O congelamento das verbas não é uma reclamação recente do Ministério da Defesa, que alerta para os impactos nos contratos já firmados. O próprio ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, expressou preocupação com a desidratação dos investimentos militares, afirmando que estão quase ficando com marinheiros sem navios, aviadores sem aviões e soldados sem equipamentos.