Após a inédita fuga registrada em Mossoró, em fevereiro, a direção da Penitenciária Federal de Brasília tomou uma medida que tem incomodado o suposto espião russo Sergey Vladimirovich Cherkasov, atualmente preso na capital federal. Segundo uma petição enviada à Justiça Federal, foram instaladas barras de metal na parede, “atravessando e tapando” a única luminária da cela de Cherkasov, resultando em um ambiente escuro que prejudica sua leitura.
As autoridades do presídio e a Secretaria Nacional de Políticas Penais (Senappen) ainda não se pronunciaram sobre a instalação das barras. De acordo com as investigações, os fugitivos Deibson Cabral Nascimento e Rogério da Silva Mendonça, recapturados em Mossoró no último dia 5, fizeram um buraco no teto da cela onde estavam e escalaram o teto pelo vão da luminária. Em seguida, acessaram um espaço conhecido como “shaft”, uma abertura entre as paredes por onde passam tubulações de água e ventilação.
Na época, o Ministério da Justiça e Segurança Pública determinou que os presídios federais do país adotassem uma série de medidas para reforçar a segurança nas unidades penitenciárias. Entre essas medidas estava o fortalecimento da estrutura de todas as luminárias dentro das celas.
O suposto espião russo Sergey Vladimirovich Cherkasov, preso no Brasil desde 2022 — Foto: Reprodução
A defesa de Cherkasov informa que ele permanece em isolamento no presídio, a seu próprio pedido. Além disso, o Alto Comissariado de Direitos Humanos da Federação da Rússia encaminhou um pedido de cooperação à Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão.
Em um relatório elaborado pelos procuradores, Cherkasov relatou que, apesar de ter acesso a livros, a redução da luminosidade na cela dificultou sua leitura.
“A remição pela leitura, já regulamentada pelo Conselho Nacional de Justiça, tem como finalidade implementar políticas públicas voltadas à ressocialização dos sentenciados, considerando que os mesmos gastarão o seu tempo de forma produtiva, o que os fará adquirir conhecimentos e desenvolver habilidades que serão benéficas para a plena reintegração à sociedade após o cumprimento de suas reprimendas”, pondera o advogado.
No relatório, o estrangeiro também disse que, ao revistarem sua cela, os policiais penais retiram revistas, palavras-cruzadas, além de correspondências endereçadas a ele.
“Conforme relato do sentenciado, os policiais penais são bem arbitrários na revista da cela, sendo que não só lhe tiram todo o necessário para o desenvolvimento de suas atividades, como também lhe tiram os papéis de requerimentos a que tem direito, sendo este o único meio de fazer solicitações à administração penitenciária, já que esse é, em tese, seu único meio de comunicação com as autoridades administrativas do estabelecimento prisional”, escreve Paulo Ferreira.
Sergey Vladimirovich Cherkasov, suspeito de atuar como espião no Brasil, criou uma identidade brasileira falsa em nome de Victor Müller Ferreira há mais de dez anos. Utilizando esse documento, ele estudou na Irlanda e nos Estados Unidos e tentou entrar na Holanda para trabalhar no Tribunal Penal Internacional, em Haia, que julga crimes de guerra. Segundo a Polícia Federal, o objetivo dele era obter informações sensíveis para a Rússia, que está em guerra com a Ucrânia.
A farsa foi descoberta quando Cherkasov tentou entrar na Holanda em abril de 2022. Após ser impedido, ele foi enviado de volta ao aeroporto de Guarulhos, onde foi preso e processado na Justiça Federal em São Paulo por uso de documento falso. Logo após sua condenação em primeira instância, em junho de 2022, a Rússia solicitou sua extradição, alegando que ele não era um espião, mas sim um traficante associado a um grupo criminoso liderado por um cidadão do Tadjiquistão. Esse grupo fornecia heroína da região de Moscou para Lipetsk.