O primeiro dia do julgamento de Yasmin Vaz dos Santos Rodrigues e Bruna Nathiele Porto da Rosa, acusadas de matar Miguel dos Santos Rodrigues, filho de Yasmin e enteado de Bruna, terminou com o interrogatório das duas na quinta-feira (4). O julgamento continua hoje (5).
Yasmin, que agora tem 28 anos, em seu depoimento, respondeu somente às perguntas feitas por sua advogada. Ela confessou que agrediu o menino com força e que, no dia seguinte, deu a ele uma quantidade excessiva de medicamentos quando ele acordou, o que teria levado à sua morte.
Ela também acusou Bruna de maltratar o filho e se autodenominou “um monstro” por não ter interferido. “Eu sou um monstro. Na verdade, eu sou muito monstro. Porque, se eu estou aqui hoje, é porque eu errei pra caramba. Se eu tô aqui, tá todo mundo aqui, é porque eu fui péssima como mãe, como ser humano. Mas eu jamais imaginei que ela pudesse fazer isso”, declarou.
Ambas, que já estão detidas, são acusadas de tortura, homicídio triplamente qualificado — por motivo torpe, meio cruel e recurso que dificultou a defesa da vítima — e ocultação de cadáver. O julgamento foi retomado na manhã desta sexta-feira (5) no Foro da Comarca de Tramandaí, no litoral norte do Rio Grande do Sul.
A mãe contou também que saiu de casa por uma hora, e quando retornou, Bruna estava debaixo da mesa deitada em posição fetal. Quando chegou no quarto, percebeu que Miguel estava “roxo e duro”. Quando se deram conta que ele estava sem vida, as duas resolveram se desfazer do corpo por achar que não acreditariam em morte acidental.
A madrasta pegou a mala e Yasmin vestiu a vítima e colocou o corpo dentro. A mala foi arremessada no Rio Tramandaí. Até hoje, o corpo de Miguel não foi encontrado.
Já Bruna, madrasta de Miguel, atualmente com 26 anos, negou ter participado do homicídio. No depoimento, ela admitiu que cometia violência psicológica contra a criança e que ajudou na ocultação de cadáver.
Bruna respondeu aos questionamentos dos seus advogados de defesa e do Ministério Público, não respondendo à banca de advogados de Yasmin. A ré afirmou que a mãe de Miguel era manipuladora e agressiva, tanto com o filho como com ela. “Ela dizia que se ele gritasse, ia bater mais forte”, afirmou.
A madrasta descreveu que o menino não tinha alimentação adequada e que vivia trancado dentro de um guarda-roupas, inclusive tendo que fazer as necessidades fisiológicas ali dentro. Sobre a morte do menino, Bruna contou que a vítima estava sem respirar na cama e que Yasmin colocou o corpo do filho na mala por ideia dela mesma.
Relembre o caso
Segundo a acusação do Ministério Público do Rio Grande do Sul, o casal é responsável pela morte de Miguel, ocorrida entre 26 e 29 de julho de 2021. A causa da morte seria agressão física, falta de alimentação adequada, administração de medicamento impróprio e negligência em relação à saúde do menino.
Posteriormente, o corpo de Miguel teria sido depositado em uma mala e jogado no Rio Tramandaí. O corpo do menino ainda não foi localizado.
A promotoria alega que o assassinato ocorreu porque a presença do menino interferia no relacionamento entre a mãe e a madrasta.
O promotor, na acusação, afirma que, nos dias que antecederam o crime, as duas mulheres submeteram o menino a um sofrimento físico e mental intenso, como punição por ele buscar afeto, cuidado e atenção.
Conforme o Ministério Público, Miguel foi confinado com as mãos atadas e imobilizadas com correntes e cadeados dentro de um pequeno armário por longos períodos. Quando ele conseguia se soltar, era novamente amarrado.
A acusação do Ministério Público sustenta que as mulheres permitiam que Miguel comesse apenas quando elas decidiam. Ele também era forçado a fazer suas necessidades dentro do armário, sendo inclusive obrigado a limpá-lo como forma de castigo.
A promotoria relata que o menino era obrigado a escrever, repetidamente, frases depreciativa contra si, como “eu sou um idiota”, “eu sou ladrão”, “eu sou ruim”, “eu sou cruel”, “eu sou malvado”, “eu não presto”, entre outras.