Em uma entrevista à BBC, divulgada no domingo, 14 de abril, Janja da Silva declarou que desempenha o papel de articuladora política no governo do ex-presidente Lula. Além disso, ela ressaltou que o presidente lhe concede total autonomia para exercer essa função. A entrevista abordou o papel das primeiras-damas na América Latina.
“Desde a campanha tenho dito que queria remodelar esse papel de primeira-dama – a esposa que hospeda chás de caridade e visita instituições filantrópicas. Esse não é o meu perfil. O meu papel é de articuladora, que fala sobre política pública. Podemos estar em espaços diferentes e falar com públicos diferentes quando necessário”, disse a primeira-dama à BBC.
Ela acrescentou: “Lula me dá total autonomia para que eu possa fazer o que faço. Essa linha de hierarquia não existe entre mim e meu marido. Trata-se de sair da caixa em que as primeiras-damas são sempre colocadas. Trata-se de não ter essa caixa. Ela pode fazer o que quiser“.
Janja, ao enfrentar críticas por visitar comunidades afetadas por enchentes no Rio Grande do Sul sem a companhia do presidente, expressou surpresa diante dos comentários. As críticas, principalmente relacionadas ao fato de ela não ter sido eleita e, portanto, não poder representar o presidente, parecem deslocadas no século XXI. A discussão sobre o papel das primeiras-damas deveria transcender essas limitações.
Outro momento em que Janja foi alvo de críticas foi durante o encontro do G20. Ela foi a única entre os cônjuges de líderes de 18 países e da União Europeia a participar das sessões de negociações, que eram fechadas ao público e à imprensa. O destaque de sua presença na reunião foi o sapato que escolheu usar.
Em uma conferência eleitoral do PT, Janja rebateu as críticas: “Eu estava em uma reunião no G20 e todos ficam perguntando: ‘O que ela está fazendo lá com o presidente? Ela não foi eleita’. Dane-se, estarei sempre presente. Ninguém me concedeu aquele lugar. Eu o conquistei”.
Na realidade, o que Janja conquistou foi o coração do presidente, mas isso não a credencia automaticamente a participar de uma reunião de líderes mundiais.
Sem gabinete
Em uma entrevista ao jornal O Globo, Janja da Silva causou polêmica ao expressar seu desejo de ter um gabinete próprio no Palácio do Planalto, onde seu marido despacha com auxiliares. Ela comparou a situação com os Estados Unidos, onde a primeira-dama tem agenda e protagonismo sem questionamentos. No entanto, no Brasil, essa questão é alvo de discussões.
Além de opinar em todas as decisões de Lula, Janja é uma defensora enfática das questões de gênero e milita em torno das pautas progressistas. Sua atuação é criticada não apenas pela oposição ao governo, mas também por pessoas dentro do próprio Palácio do Planalto.
Embora nunca tenha sido eleita, Janja participa de reuniões estratégicas do primeiro escalão e desempenha um papel na comunicação governamental. Seu uso frequente das redes sociais é percebido como inadequado e excessivo, gerando polêmicas desnecessárias. Vale ressaltar que seu nome nunca esteve na urna eletrônica, e ela não chegou a ser nomeada para o comando da Secretaria das Relações Institucionais, cargo ocupado oficialmente por Alexandre Padilha, com atribuições de coordenação política do governo.