O contador João Muniz Leite, que trabalhou para Fábio Luís Lula da Silva, mais conhecido como Lulinha, e também para o próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), é um dos alvos de uma operação deflagrada pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público de São Paulo (MPSP) nesta terça-feira (9). De acordo com as investigações, Leite estaria envolvido em um esquema de lavagem de dinheiro que inclui a facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC) e empresas que operam o transporte público na capital paulista. As informações foram divulgadas pelo jornal O Estado de S.Paulo.
A operação tem como foco a lavagem de recursos provenientes de tráfico de drogas, roubos e outros delitos. O esquema teria sido executado por meio das empresas Upbus e TW, ambas atuantes no transporte de quase 700 mil passageiros diariamente em São Paulo. Segundo o MPSP, somente em 2023, a prefeitura da capital paulista pagou mais de R$ 800 milhões em remuneração a essas empresas.
A Gazeta do Povo tentou entrar em contato com a Upbus e a TW, mas não obteve resposta. A reportagem também não conseguiu contato com João Muniz Leite. O espaço permanece aberto para manifestações.
A operação está cumprindo quatro mandados de prisão e 52 mandados de busca e apreensão nesta terça-feira. Segundo o jornal Estadão, o ex-contador de Lula estaria envolvido no esquema orquestrado pelo PCC, por meio da empresa Upbus. Um dos indícios de lavagem de recursos é o pagamento de dividendos: enquanto a Upbus registrava prejuízos de até R$ 5 milhões por ano, apenas um dos acionistas, Admar de Carvalho Martins, recebeu mais de R$ 15 milhões a título de distribuição de lucros.
As investigações também apontam que o contador tinha ligações com Martins e outros líderes do PCC. Um dos indícios é o fato de ele ter transmitido declarações de renda de traficantes da facção. Em 2022, durante depoimento, Leite admitiu ter tido um dos traficantes, Anselmo Santa Fausta, conhecido como Magrelo, como cliente – mas afirmou que o conhecia apenas por um nome falso. Na época, o contador negou qualquer participação na lavagem de dinheiro do crime organizado.
Recentemente, dados da Polícia Federal revelaram que Leite e sua esposa ganharam, juntos, 640 vezes na Lotofácil, na Mega Sena e na Quina, conforme noticiado pelo Estadão. A Receita Federal concluiu que os rendimentos do contador não são compatíveis com a renda bruta de suas empresas, mesmo considerando os valores dos prêmios das loterias.
Esse esquema de lavagem de dinheiro envolvendo empresas e cooperativas de ônibus em São Paulo vem sendo estruturado há mais de duas décadas. O promotor Lincoln Gakiya, do Gaeco, já afirmou que o PCC está se consolidando como uma máfia e infiltrando-se em serviços públicos.
Em 2021, estimava-se que o PCC contava com mais de 112 mil membros. No ano passado, o Gaeco calculou que a facção movimentou R$ 4,9 bilhões anualmente, a maior parte proveniente do tráfico internacional de drogas.