Foto: ReproduçãoEamonn McCabe/Popperfoto, via Getty Images.
A morte de Daniel Dennett, em 19 de abril, passou praticamente despercebida, mas menos de duas décadas atrás, ele era uma das figuras mais controversas do debate público nos Estados Unidos e no Reino Unido. As informações são do site Gazeta do Povo.
Em 2006, Dennett lançou o livro que viria a ser traduzido para o português como “Quebrando o Encanto – A Religião Como Fenômeno Natural”. Ao lado de Richard Dawkins, Sam Harris e Christopher Hitchens, ele ficaria conhecido como um dos “quatro cavaleiros do ateísmo”. O grupo ganhou destaque em um mundo pós-11 de setembro, onde as pessoas estavam cada vez mais conscientes dos efeitos prejudiciais do fanatismo religioso. O argumento do quarteto era radical: quanto mais cedo o mundo se livrasse das religiões (todas elas), melhor.
Porém, os tempos mudaram.
Coincidentemente, poucos dias antes da morte de Dennett, o membro mais proeminente do grupo deu uma declaração que indicava uma mudança de posição.
Em uma entrevista à rádio britânica LBC no início de abril, o zoólogo Richard Dawkins afirmou que se sente “culturalmente cristão”. “Acredito que, culturalmente, somos um país cristão, e eu me considero culturalmente cristão. Eu amo hinos e as canções de Natal. Sinto-me em casa no ethos cristão”, disse ele.
Essa mudança de postura é significativa para Dawkins, que costumava equiparar todas as religiões a um “delírio”.
Mas Dawkins não está sozinho nesse novo caminho.
Outras figuras públicas também parecem estar prestando mais atenção às consequências do declínio da religião tradicional no Ocidente. Conforme a influência do cristianismo diminui, ela abre espaço para o radicalismo progressista ou para o islamismo, que tendem a ser muito menos tolerantes com as liberdades individuais valorizadas pelos ateus.
No ano passado, a aclamada escritora Ayaan Hirsi Ali anunciou que se converteu ao cristianismo. Assim como Dawkins, ela concluiu que nem todas as religiões são iguais. Criada em uma família muçulmana, ela havia perdido a fé décadas antes. “Todo tipo de liberdade aparentemente secular – de mercado, de consciência e de imprensa – tem suas raízes no cristianismo”, escreveu ela ao explicar sua jornada de fé.
Dawkins, por sua vez, entrou em conflito com movimentos de esquerda ao afirmar, como biólogo geneticista, que as diferenças entre os sexos são objetivas e imutáveis. Sua declaração sobre o “cristianismo cultural” foi uma resposta à exibição de versos do Alcorão no painel da estação de trem King’s Cross, em Londres, durante o Ramadã.
Ele concluiu que, entre as alternativas disponíveis, o cristianismo parece ser o que mais respeita o bom senso e os direitos individuais. Em graus variados, outros ateus também seguiram um caminho semelhante. A lista inclui o escritor britânico Tom Holland, que se tornou católico, o autor canadense Jordan Peterson, que está entre a crença e a descrença, e o apresentador de TV americano Bill Maher, que permanece tão ateu quanto antes, mas começou a criticar os excessos dos grupos progressistas.
Esse fenômeno é o tema do novo livro do autor britânico Justin Brierley, que passou os últimos anos entrevistando ex-ateus que voltaram à fé. Com formação em Filosofia pela Universidade de Oxford, ele recentemente lançou um livro e uma série de podcasts sobre o assunto.