No sábado (13), o céu do Oriente Médio foi palco de um ataque do Irã a Israel, com centenas de drones e mísseis. Segundo o analista Trita Parsi, o ataque foi meticulosamente planejado para evitar uma guerra regional. “Houve uma coordenação e coreografia entre EUA e Irã por meio de canais secretos”, revela Parsi, que nasceu no Irã e é um dos fundadores do Conselho Nacional Iraniano Americano, atualmente vice-presidente do Quincy Group, um instituto de pesquisa em Washington.
Conforme informações da Folha de S. Paulo, havia uma grande expectativa em relação ao ataque iraniano, que havia sido anunciado dias antes. O Irã acusava Israel de bombardear seu consulado em Damasco no início de abril. Os dois países têm travado conflitos indiretos há anos, lutando em diferentes territórios.
Os drones e mísseis lançados no sábado foram disparados com aviso prévio, como afirmou Teerã no domingo, dando tempo suficiente para que Israel e seus aliados – Estados Unidos, Reino Unido e Jordânia, entre outros – interceptassem os projéteis no ar. De acordo com as autoridades israelenses, 99% dos projéteis foram interceptados. Os que caíram causaram danos mínimos em uma base militar e feriram uma criança, que foi levada a um hospital para cirurgia.
A intenção de Teerã era demonstrar que estava retaliando o ataque israelense, mas sem expandir a guerra, explica Parsi. A imprensa estatal iraniana informou que Hossein Salami, comandante da Guarda Revolucionária Iraniana, sugeriu que seu ataque havia terminado e que o país responderia a qualquer retaliação israelense.
Nesse contexto, Parsi afirma que os Estados Unidos desempenharam um papel crucial na prevenção de um conflito regional. No entanto, ele acredita que, se não fosse pelos EUA, o mundo não estaria nessa situação. Ele diz que o governo de Joe Biden “ajudou a levar a região à beira de um precipício, ao não impedir que Israel tentasse iniciar a guerra.”
O sucesso do Irã em se distanciar do conflito agora depende das próximas ações de Biden e de Binyamin Netanyahu, o primeiro-ministro de Israel, que supostamente tem interesse político no confronto.
“Prolongar e expandir a guerra é benéfico para Netanyahu, pois o fim do conflito também significará o fim de sua carreira e possivelmente o início de sua pena na prisão”, afirma Parsi. Ele se refere ao fato de que o líder israelense enfrenta acusações de corrupção, razão pela qual, segundo vários analistas, ele faz de tudo para permanecer no poder.
Há pressão dentro do governo para que Netanyahu responda ao ataque iraniano. Especialmente dos membros de extrema direita de seu gabinete, como Itamar Ben-Gvir, ministro da segurança nacional, e Bezalel Smotrich, das finanças. O primeiro-ministro precisa do apoio deles para se manter no poder.
De qualquer forma, Netanyahu de alguma forma se beneficiou dos ataques iranianos de sábado. Havia uma crescente crítica contra os bombardeios israelenses na Faixa de Gaza, que nos últimos seis meses mataram mais de 33 mil pessoas. Ao ser alvo de Teerã, Tel Aviv recuperou alguma boa vontade em Washington e desviou o foco de Gaza.
O território palestino continua sob ataque, com a população passando fome. É esse conflito que tem exacerbado a tensão na região. O estopim foi o atentado da facção terrorista Hamas em 7 de outubro no sul de Israel, deixando cerca de 1.200 mortos. Israel tem retaliado desde então, de forma considerada desproporcional por muitos analistas.
No domingo (14), vários governos e entidades condenaram os ataques iranianos. O Itamaraty emitiu uma nota dizendo que o Brasil acompanha “com grave preocupação” os ataques do Irã contra Israel, mas sem condenar Teerã, o que gerou críticas de entidades judaicas. Enquanto isso, John Kirby, porta-voz do Conselho de Segurança Nacional dos EUA, foi à TV repetir que Biden não quer entrar em guerra com o Irã. A mensagem parecia ser parcialmente direcionada a Netanyahu, como um aviso. Sem o apoio americano, Israel estaria vulnerável a ataques de Teerã.
Para Parsi, a estratégia das grandes potências, incluindo os Estados Unidos, é convencer Israel de que este capítulo está encerrado – com o placar zerado, por assim dizer – e impedir outra retaliação. Afinal, ele afirma, “a região estava à beira de uma grande guerra e continua assim”.