foto: Sérgio Lima
O orçamento do Ministério da Saúde para campanhas de prevenção à dengue foi significativamente reduzido de 2022 para 2023. Em 2022, durante a administração de Jair Bolsonaro, foram gastos R\$ 31,6 milhões em campanhas publicitárias. No ano seguinte, sob a gestão de Luiz Inácio Lula da Silva, o valor destinado a essas campanhas caiu para R\$ 12,2 milhões, representando uma diminuição de 61%.
Essa redução ocorre em um momento crítico, pois o Brasil enfrenta o mais grave surto de dengue já registrado, com mais de 2,6 milhões de casos e mais de 1.000 mortes. A falta de campanhas de conscientização é vista como um dos fatores contribuintes para a crise, já que tais iniciativas são importantes para instruir a população sobre medidas preventivas.
Desde 2019, este é o menor investimento em campanhas de esclarecimento sobre a dengue. A responsabilidade pela decisão sobre essas campanhas recai sobre o Ministério da Saúde, atualmente liderado pela socióloga Nísia Trindade, que tem recebido críticas tanto da oposição quanto de membros do governo de Lula.
As informações deste post fazem parte de levantamento do Poder360 com os dados do Sicom (Sistema de Comunicação de Governo do Poder Executivo Federal). Leva em consideração todas as campanhas do Ministério da Saúde que mencionem a doença ou o mosquito Aedes aegypti, vetor da enfermidade.
O ministério como um todo gastou 16% a menos em campanhas de divulgação registradas no Sicom. O total passou de R$ 207 milhões (em valores corrigidos pela inflação) a R$ 174 milhões.
Ou seja, a redução na campanha da dengue foi maior do que a da verba total.
Em nota, o Ministério da Saúde diz que os dados obtidos pela reportagem não incluem fases de continuação das campanhas contra a dengue em janeiro e fevereiro de 2024. Segundo o ministério, somando esses valores, o total seria de R$ 35 milhões.
No sistema de comunicação do governo, com informações parciais, os meses de janeiro e fevereiro somam R$ 3,8 milhões em campanhas de divulgação contra a dengue.
Especialistas afirmam, no entanto, que o melhor momento para ações publicitárias de prevenção não é no meio da epidemia, mas sim no período que antecede a alta sazonal de casos.
Isso acontece porque a maioria (75%) dos focos de dengue está dentro das casas das pessoas. Enquanto não há vacina disponível em quantidade suficiente, a remoção desses criadouros é uma das principais medidas contra a doença.
“É muito importante mobilizar a população para a eliminação desses focos. Principalmente no período entre as epidemias [de maio a dezembro], antes do aumento expressivo no número de casos“, diz o infectologista Júlio Croda, pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz e professor da UFMS.
Ou seja, ainda que o governo tenha aumentado o gasto com as campanhas em janeiro e fevereiro de 2024, quando explodiu o número de casos de dengue, isso não tira a importância do investimento antes de a epidemia se alastrar.
“Foi uma redução significativa, de mais de 50%. [Isso quando tínhamos] uma expectativa de aumento de casos em 2024. Realmente preocupa essa priorização no planejamento”, afirma o infectologista.
A expectativa à que Croda se refere é o fato de ter havido um inverno atípico em 2023 com muitos casos de dengue e com projeção do fenômeno El Niño subindo a temperatura e a incidência de chuvas no verão. Os epidemiologistas já esperavam, no ano passado, que houvesse um aumento no número de casos de dengue em 2024.