Quase um quinto, ou 18%, dos alimentos industrializados doces não respeitam o limite de açúcar, de acordo com análise da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Os produtos com o teor de açúcar muito acima do estabelecido pela agência são biscoitos doces sem recheio e biscoitos do tipo wafers. Os dados foram divulgados na última quarta (13) com base em produtos analisados em 2021.
O relatório foi elaborado para monitorar o cumprimento das metas estabelecidas nos Planos Nacionais de Redução de Sódio e Açúcares em Alimentos Industrializados. Os planos são estratégias de saúde pública voltadas para a diminuição da ingestão de sódio e açúcares pela população brasileira.
Das 11 categorias de alimentos doces que foram analisados, 82% deles estavam dentro das metas estabelecidas no plano nacional. Entre os produtos avaliados estavam: biscoito Maria e maisena, bebidas lácteas fermentadas e não fermentadas, refrigerantes, achocolatados, entre outros alimentos.
Os biscoitos doces sem recheio e os biscoitos tipo wafer registraram, respectivamente, 71,4% e 66,7% de não-conformidade com as metas do plano nacional. A agência entende, no relatório, que a indústria alimentícia desses biscoitos “ainda carece de melhorias significativas”. Já os biscoitos Maria e maisena e biscoitos recheados registraram um progresso em relação a meta, já que eles se adequaram 100% a ela.
Em 2023, uma análise do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec) de ovos de Páscoa vendidos em supermercados mostrou que as principais marcas extrapolam a recomendação da Anvisa para açúcar e gordura.
Segundo o levantamento, os selos de “Alto em gordura saturada” e “Alto em açúcar adicionado” imperam nos ovos de chocolate. O órgão analisou 31 produtos das marcas Lacta, Arcor, Nestlé, Linea e Ferrero, constatando que 87% deles já seguiam as novas regras e todos os itens atualizados possuíam quantidade de gordura saturada e açúcar adicionado acima do recomendado pela Anvisa. Com relação ao sódio, não foi identificado excesso.
O consumo de alimentos com alto teor de açúcar pode levar a diabetes, sobrepeso e obesidade, além de ser também um risco para outras condições associadas, como doenças cardíacas e do fígado.
A Anvisa reforça, no relatório, a importância de políticas públicas eficazes voltadas para a redução do consumo de açúcares para a proteção da saúde da população e a prevenção de doenças crônicas não transmissíveis. Em 2022, uma pesquisa feita em parceria entre a Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), USP (Universidade de São Paulo) e Universidad de Santiago do Chile revelou que o consumo de alimentos ultraprocessados esteve associado a 57 mil mortes prematuras em 2019 no país.
Alimentos ultraprocessados são aqueles que não contêm quase nada ou muito pouco do alimento original. São exemplos salgadinhos, bolachas recheadas, sorvetes, refrigerantes, balas e doces. De acordo com o Guia Alimentar para a Populção Brasileira, de 2014, os alimentos ultraprocessados devem ter um consumo mínimo na pirâmide alimentar brasileira, seguidos de alimentos processados, dos minimamente processados, e, por último, alimentos in natura -estes devem ocupar a base da pirâmide nutritiva.
A Anvisa busca barrar o consumo elevado de alimentos ultraprocessados desde a aprovação, em 2020, da resolução 429 que determina que as embalagens apresentem o selo “Lupa” alertando sobre a quantidade de açúcar, sal e gordura nos alimentos. A etiqueta padrão traz uma lupa preta, com a indicação “alto em”, na parte frontal dos produtos, que também passam a contar com uma tabela de nutrientes por 100 ml ou 100 g, para facilitar a comparação por parte do consumidor.
JULIANA MATIAS/Folhapress