No final do ano passado, Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, encaminhou ao Exército toda a documentação necessária para sua promoção a coronel, cuja avaliação está marcada para o próximo mês. Seguindo o procedimento padrão, uma comissão composta por dezoito generais examina critérios como antiguidade e mérito, indicando os militares que serão promovidos na carreira. Até o ano passado, Cid era considerado uma escolha certa.
No entanto, devido a um acordo de colaboração firmado e sua atuação sendo investigada em várias frentes pela Polícia Federal, o futuro do tenente-coronel no Exército parece sombrio. Recentemente, o ministro da Defesa, José Múcio, emitiu uma ordem ao comando da força, liderado pelo general Tomás Paiva, para que afaste e puna todos os indivíduos envolvidos em uma suposta trama golpista investigada pela polícia.
Isso significa que, por ora, nenhum deles poderá ter qualquer promoção. “É uma decisão do ministro da Defesa, e Cid não será promovido”, diz uma fonte que acompanha o caso. O general Tomás Paiva acatou a ordem.
Decisão evita desgaste para o Exército
Conforme reportado pela revista VEJA, a liderança do Exército já havia alterado sua perspectiva em relação ao tenente-coronel, como revelado anteriormente. Antes considerado alguém possivelmente coagido a seguir ordens, Mauro Cid passou a ser percebido como mais proativo do que se imaginava, especialmente após a Polícia Federal divulgar mensagens encontradas em seu celular.
Nessas mensagens, Cid é visto pessoalmente organizando a participação de manifestantes em Brasília, discutindo valores para cobrir os custos, indicando locais de protesto (Congresso e Supremo) e monitorando os movimentos do ministro Alexandre de Moraes, alvo do grupo em caso de um golpe concretizado.
Diante desse cenário, o Exército encontrava-se dividido. Oficialmente, não existiam acusações formais contra o militar. Embora tenha sido afastado por ordem judicial, não estava enfrentando acusações legais e não estava sob julgamento. Juridicamente, não havia fundamentos para sancionar o tenente-coronel, que, de maneira irônica, havia sido convidado pelo atual comandante para assumir o papel de auxiliar de Bolsonaro. Naquela época, Tomás Paiva ocupava o cargo de chefe de gabinete do general Eduardo Villas Bôas, que liderou o Exército durante os governos de Dilma Rousseff e Michel Temer.
No entanto, a própria instituição militar reconhecia que premiar um oficial envolvido em um enredo golpista resultaria em considerável desgaste. Por esse motivo, alguns militares torciam para que o desfecho do processo fosse definido antes do período de promoção, o que, conforme indicado, parece improvável.
A ordem do Ministério da Defesa, portanto, facilita a decisão. “Chama menos atenção a gente não deixar promover Cid do que promovê-lo”, diz um interlocutor que acompanhou as tratativas.
Com informações da VEJA