O tenente-coronel Mauro Cid continua sendo um admirador assumido de Jair Bolsonaro até hoje. Como fiel escudeiro do ex-presidente da República, ele relembra com certa nostalgia os quatro anos em que o acompanhou. Desde as internações hospitalares – quando cuidava de Bolsonaro como faria com seu próprio pai – até as viagens internacionais em que se voluntariava para polir os sapatos do chefe, além das incontáveis horas acompanhando o ex-presidente e organizando sua agenda, o militar guarda com carinho as memórias do governo e está convencido de sua própria contribuição como um faz-tudo presidencial.
No entanto, todo esse histórico não o impediu de revelar à Polícia Federal os segredos que testemunhou e ouviu, ao firmar um acordo de colaboração premiada após passar quatro meses na prisão. Segundo a revista VEJA, Cid enfrenta uma encruzilhada envolvendo estratégia, medo por sua própria vida e um genuíno afeto pelo ex-presidente. Ele é visto pelos investigadores como a peça chave para que Jair Bolsonaro seja responsabilizado e possivelmente preso.
Assim como Bolsonaro, Cid tem muito em jogo. Para manter os benefícios do acordo, ele não pode mentir e precisa estar disponível para fornecer mais informações. Os detalhes do acordo com a PF são mantidos em sigilo, mas VEJA conseguiu apurar alguns pontos.
Cid solicitou o perdão total da pena ou, no máximo, uma sentença de dois anos de prisão. Até agora, ele já cumpriu quase metade da pena, contando o período em que ficou detido em uma cela do Exército e o atual monitoramento por meio de uma tornozeleira eletrônica, que também conta para a redução da pena.
Além disso, ele pediu que seus familiares fossem poupados de qualquer punição. Após decidir colaborar, Cid assegurou a imediata libertação dele e de seus subordinados na ajudância de ordens que também foram detidos.
Será responsabilidade do ministro Alexandre de Moraes definir o “prêmio” final concedido ao tenente-coronel, que será proporcional à sua eficácia em ajudar nas investigações. Por outro lado, qualquer violação das regras resultará na revogação das concessões.
Mauro Cid também quis maior segurança
Durante as negociações com a Polícia Federal, Mauro Cid expressou preocupações sobre possíveis represálias após a divulgação das revelações e deixou claro seu desejo de sair do Brasil o mais rápido possível. No entanto, como isso ainda não é viável, ele solicitou algum tipo de segurança especial.
Desde sua prisão em maio do ano passado, o Exército implementou um posto de segurança na esquina da rua onde Cid mora, em uma área residencial destinada a oficiais no Setor Militar de Brasília. Na época, essa medida foi tomada para evitar constrangimentos e proteger a família de Cid.
Após sua libertação, esse esquema de segurança permaneceu em vigor. A justificativa é que naquela rua também residem comandantes de organizações militares, justificando o reforço na segurança. Agora, 24 horas por dia, um sentinela fica a poucos metros da residência do ex-ajudante de ordens.
Com informações da VEJA/MARCELA MATTOS