Segundo o Estadão, o PCC, maior facção criminosa do continente, está ocultando uma quantidade crescente de cocaína na parte submersa das embarcações atracadas no Porto de Santos, o maior do Hemisfério Sul. O jornal acompanhou um dia de operações da Marinha na inspeção de uma dessas embarcações.
De acordo com as investigações do Estadão, em 2023, foram confiscadas 1,68 toneladas de cocaína nos cascos dos navios no Porto de Santos por mergulhadores militares. Esse valor representa mais que o triplo do que foi interceptado em 2020, que totalizou 483 quilos.
O presidente da Autoridade Portuária de Santos, Anderson Pomini, explicou que “hoje a principal forma utilizada pelos traficantes é fixar a droga no casco do navio”, chamados de “caixas de mar”, em contrapartida às estratégias mais tradicionais, como camuflar pacotes em meio a grãos em contêineres, os quais são vasculhados por scanners na chegada aos terminais.
Embora represente um risco menor devido à dificuldade de fiscalização, a ocultação de drogas no casco de navios está sujeita a limitações de peso por operação.
As investigações indicam que os pacotes são tipicamente entregues aos navios de duas maneiras: por pequenas lanchas, que geralmente operam à noite com as luzes apagadas, ou por mergulhadores que partem de áreas de mata ou embarcações mais afastadas.
Pomini destaca a complexidade e os desafios enfrentados na fiscalização de uma área extensa.
“São 24,6 km de canal, 60 berços de atracação e mais 60 navios esperando lá na área de fundeio (atracadouro). São 120 navios. Como fiscalizar isso?”, disse ao Estadão. “Precisaria de ao menos 250 mergulhadores, com lanchas próprias, equipamentos e infraestrutura própria.”
Como a Guarda Portuária não dispõe de mergulhadores, o trabalho está sendo realizado atualmente por quatro profissionais da Marinha.
No entanto, desde a emissão, em novembro, de um decreto de Garantia da Lei e da Ordem (GLO) pelo governo federal, autorizando ação militar nos portos e aeroportos de São Paulo e Rio de Janeiro até maio para combater o narcotráfico, Santos recebeu um reforço considerável, com 400 militares. Isso tem desencorajado, temporariamente, as atividades dos traficantes nos cascos dos navios.
O número de mergulhos aumentou de uma vez a cada oito dias para um mergulho diário em média. Apesar desse aumento, a capacidade ainda é limitada em relação ao volume de tráfego do porto. Apenas 10% dos 30 navios que partem diariamente do Porto de Santos estão sendo inspecionados de alguma forma pelos militares.
Apreensões
Nos últimos quatro meses, foram feitas algumas apreensões significativas. Dez quilos de cocaína foram encontrados junto aos corpos de dois tripulantes estrangeiros em uma embarcação, e outros 31 quilos estavam escondidos em um compartimento no alto do banheiro de um navio.
Em 2023, durante uma operação conjunta envolvendo a Polícia Federal (PF), a Receita Federal e a Marinha, cerca de 290 quilos de cocaína foram apreendidos no casco de um navio carregado de celulose ancorado na área de fundeio do Porto de Santos, com destino ao Porto de Martas, na Turquia.
Para ocultar a droga, os criminosos utilizaram anilhas, discos de peso comumente encontrados em academias.
“Antes, mochilas com tabletes da droga eram simplesmente jogadas dentro de contêineres”, disse o pesquisador do Núcleo de Estudos da Violência da USP, Gabriel Patriarca, ao destacar as novas estratégias dos traficantes.
O caminho da droga
Anualmente, mais de 5 mil navios chegam ao porto, conhecido por sua atividade de exportação de produtos como soja, açúcar e carne bovina. Os principais destinos desses navios são a Ásia e a Europa, alguns dos pontos de distribuição de drogas pelo PCC.
Segundo investigações do Ministério Público (MP), a organização criminosa paga fornecedores de países vizinhos, como Colômbia, Peru e Bolívia, entre US$ 1,2 mil e US$ 1,4 mil (aproximadamente R$ 6 mil e R$ 7 mil) por quilo de cocaína.
Os membros do PCC vendem a droga na Europa por cerca de 35 mil euros, equivalente a aproximadamente R$ 190 mil por quilo.
Com informações de Estadão e Oeste