Um novo teste com um comprimido demonstrou uma redução significativa de peso nos voluntários em apenas 28 dias. Desenvolvido pela empresa americana de biotecnologia Viking Therapeutics, o medicamento, denominado VK2735, revelou resultados promissores na fase 1 dos estudos clínicos, conforme anunciado pela empresa nesta terça-feira.
De acordo com os dados divulgados, os participantes que receberam a dose máxima da pílula (40mg) diariamente experimentaram uma perda de peso de 5,3% durante o período, uma redução de 3,3% em relação ao grupo que recebeu placebo.
Uma análise adicional revelou que 57% dos indivíduos que tomaram o comprimido perderam pelo menos 5% do peso em quatro semanas, uma incidência que não foi observada entre os voluntários que receberam placebo.
Além disso, a empresa farmacêutica relatou a ausência de efeitos adversos graves, com queixas relatadas, como alguns casos de náuseas e diarreia, considerados leves ou moderados.
Apesar de ser uma etapa inicial do estudo com um número limitado de voluntários (apenas 45) e duração de cerca de um mês, Brian Lian, CEO da Viking Therapeutics, considerou os resultados promissores. A empresa planeja iniciar a segunda fase dos estudos clínicos no segundo semestre deste ano.
“Acreditamos que esses dados indicam que a duração mais longa do tratamento, em doses potencialmente mais altas, pode resultar em perda de peso adicional. Estamos particularmente satisfeitos com os dados iniciais de segurança e tolerabilidade, que sugerem um perfil diferenciado com efeitos colaterais mínimos relacionados ao sistema gastrointestinal”, diz em nota.
“Acreditamos que um agente oral com boa tolerabilidade pode representar uma opção de tratamento potencial atraente para pacientes com obesidade. Estamos ansiosos para explorar janelas de tratamento mais longas e doses potencialmente mais altas em um próximo estudo de Fase 2”, continua.
Como o remédio funciona?
O comprimido pertence à mesma categoria de medicamentos injetáveis que têm sido reconhecidos como novas alternativas eficazes para o tratamento da obesidade, conhecidos como análogos do GLP-1.
Um exemplo é a semaglutida, o princípio ativo presente no Ozempic e no Wegovy, ambos desenvolvidos pela empresa dinamarquesa Novo Nordisk. Enquanto o Wegovy é oficialmente recomendado para pacientes com obesidade, o Ozempic é destinado ao tratamento da diabetes tipo 2.
No entanto, devido à presença da mesma substância, embora em diferentes dosagens, o Ozempic é frequentemente usado de forma “off label” (com finalidade diferente da indicada na bula) para perda de peso. No Brasil, ambos os medicamentos foram aprovados pela Anvisa, mas somente o Ozempic está disponível nas farmácias.
Esses medicamentos funcionam imitando o hormônio GLP-1, que tem receptores em várias partes do corpo. No pâncreas, por exemplo, essa interação aumenta a produção de insulina, razão pela qual esses medicamentos foram inicialmente desenvolvidos para tratar diabetes.
No estômago, o GLP-1 retarda a digestão dos alimentos e, no cérebro, induz a sensação de saciedade. Isso resulta em uma redução do apetite e, consequentemente, em uma ingestão menor de calorias por dia e perda de peso.
Por outro lado, o comprimido da Viking Therapeutics é um duplo agonista, simulando não apenas o GLP-1, mas também outro hormônio gastrointestinal chamado GIP. Essa abordagem tem demonstrado resultados mais eficazes.
Um exemplo disso é a tirzepatida, da Eli Lilly, aprovada para o tratamento da diabetes tipo 2 no Brasil sob o nome comercial Mounjaro. A possibilidade de usar a substância para tratar a obesidade está sendo avaliada pela Anvisa. Nos Estados Unidos, essa aprovação foi concedida no ano passado, e a tirzepatida para perda de peso está sendo comercializada sob o nome de Zepbound.
Estudos realizados com esses novos medicamentos têm mostrado uma redução de peso sem precedentes, com um perfil de tolerabilidade melhor. Enquanto os medicamentos anteriores não conseguiam reduzir mais de 10% do peso corporal e tinham uma série de efeitos colaterais, a semaglutida, por exemplo, demonstrou ser segura e levou a uma perda de peso de 17,4% após 68 semanas.
Com a tirzepatida, a perda de peso pode chegar a até 25,3% após um acompanhamento de 88 semanas. Ambos os estudos que relataram esses resultados foram publicados na revista científica JAMA.
Com informações de O Globo