foto: Carlos Moura
Ministro do STF relatou que conversou com colega, que teria dito que não havia a intenção de ofender segmento religioso
Em entrevista à GloboNews, na segunda-feira, Gilmar relatou que em uma reunião sobre o combate ao crime organizado realizada no STF na semana passada um dos presentes falou sobre um suposto “acordo entre narcotraficantes e milicianos pertencentes ou integrados a uma rede evangélica” do Rio.
— Recentemente, o ministro Luís Roberto Barroso presidiu uma reunião extremamente técnica sobre essa questão, e um dos oradores falou de algo que é raro ouvir: uma narcomilícia evangélica, aparentemente no Rio de Janeiro, onde já se tem um acordo entre narcotraficantes e milicianos pertencentes ou integrados a uma rede evangélica. É algo muito sofisticado — declarou o ministro.
Mendonça divulgou nota nesta quarta afirmando que, após procurar o colega, Gilmar esclareceu que tem “respeito” pela comunidade evangélica e que não teve interesse em “constranger” ninguém. No texto, Mendonça acrescentou que a fala dita na reunião é “grave, discriminatória e preconceituosa”, e que os evangélicos correspondem a um terço da população e se dedicam “sistematicamente a prevenir a entrada ou retirar pessoas do mundo do crime”.
André Mendonça relatou que teria conversando com Gilmar Mendes, que teria afirmado que não havia a intenção de ofender o segmento religioso com sua fala. Ao falar sobre a reunião do presidente do STF, Luís Roberto Barroso, em que o termo teria sido apresentado aos magistrados, Mendonça disse que se trata de uma fala “grave, discriminatória e preconceituosa”.
“Se isso ocorreu, trata-se de fala grave, discriminatória e preconceituosa, pois dirigida a uma comunidade religiosa em geral. De outra parte, posso afirmar, com muita segurança, que se há uma rede evangélica nesse país, ela é composta por mais de 1/3 da população, a qual se dedica sistematicamente a prevenir a entrada ou retirar pessoas do mundo do crime, em especial aqueles relacionados ao tráfico e uso de drogas, que tanto sofrimento causam às famílias brasileiras”, diz trecho do pronunciamento. (Leia a íntegra no final da matéria)
O ministro solicitou ainda a investigação dessas pessoas que se dizem evangélicas e estariam envolvidas em algum tipo de conduta criminosa.
Reação entre evangélicos
A entrevista do ministro Gilmar Mendes repercutiu negativamente entre os evangélicos. O líder da Assembleia de Deus Vitória em Cristo, pastor Silas Malafaia, gravou um vídeo em resposta ao magistrado:
— Quem são os pastores, quem são os evangélicos? Mete na cadeia que isso não nos representa, muito pelo contrário. Se não fosse o trabalho evangélico nas comunidades: recuperamos drogados, tiramos gente do crime, restauramos famílias
Também da Assembleia de Deus, o deputado federal Sóstenes Cavalcante (PL) parabenizou o posicionamento de Mendonça.
Leia o posicionamento do ministro
A partir de relato trazido pelo Ministro Gilmar Mendes, foi noticiado pela imprensa que, em reunião havida no STF, um dos oradores presentes teria dito que havia uma “narco-milícia evangélica” que atuaria no Rio de Janeiro, e que “haveria um acordo entre narcotraficantes, milicianos e pertencentes a uma rede evangélica ou integradas a uma rede evangélica”.
Sobre o que teria sido dito na referida reunião técnica, importa-me trazer algumas considerações.
Primeiramente, registro que conversei com o Ministro Gilmar Mendes sobre o ocorrido. Na ocasião, sua Excelência reafirmou-me (i) seu respeito à comunidade evangélica, (ii) que de sua parte não houve qualquer intenção em constranger seus membros e (iii) que estaria à disposição da liderança da Igreja para conversar e esclarecer o assunto.
Em segundo lugar, importa anotar o grau de generalidade que teria sido dado pelo orador presente em referida reunião (“narco-milícia evangélica” ou “rede evangélica”). Se isso ocorreu, trata-se de fala grave, discriminatória e preconceituosa, pois dirigida a uma comunidade religiosa em geral. De outra parte, posso afirmar, com muita segurança, que se há uma rede evangélica nesse país, ela é composta por mais de 1/3 da população, a qual se dedica sistematicamente a prevenir a entrada ou retirar pessoas do mundo do crime, em especial aqueles relacionados ao tráfico e uso de drogas, que tanto sofrimento causam às famílias brasileiras. Além disso, consigno que a atuação dos evangélicos (assim como a de outras representações religiosas) nas comunidades e nas periferias deste país reconhecidamente está vinculada a obras sociais, mitigando a ausência do Estado e lacunas históricas do poder público em temas relacionados à educação, cultura e saúde, dentre outros.
Em terceiro lugar, se pessoas que se dizem ou se fazem passar por evangélicas estão envolvidas nesse tipo de conduta criminosa, afirmo, com total segurança, que o segmento evangélico é o maior interessado na apuração desses fatos. Assim, as pessoas e autoridades que têm conhecimento a respeito da prática dos referidos crimes devem dar o devido encaminhamento ao assunto. Espera-se, assim, que eventuais condutas ilícitas dessa natureza sejam objeto de responsabilização, independente da religião professada de forma hipócrita falsa e oportunista por quem quer que seja.
O Globo