Em maio de 2018, Devon Price deu início a um processo de baixas doses de testosterona, marcando o início de uma jornada significativa. Originário de Chicago, EUA, Devon finalmente viu seu sonho de viver como homem trans se concretizar, adquirindo uma voz mais profunda e músculos tonificados.
Contudo, surgiram desconexões nesse percurso, revelando uma história repleta de reviravoltas para o jovem de 35 anos. Devon experimentou uma montanha-russa emocional, transitando entre momentos de transição e destransição, apenas para retornar à transição novamente. Ele observa uma lacuna de diálogo sobre a destransição, possivelmente devido ao receio de se envolver em uma questão agora politizada.
“Você, como pessoa trans, está quase sempre… eu acho, a maioria de nós… lutando contra esse medo de ‘vou me arrepender disso?'”, diz Devon aos “USA Today”.
O processo, os medos e os altos e baixos das emoções acabaram virando um livro. Devon publicou “Unlearning Shame” (Desaprendendo a vergonha, em tradução livre), no qual narra a sua trajetória de idas e vindas.
Um dos maiores problemas, afirma o autor, é que os movimentos antitrans alimentam o fogo do medo iminente do arrependimento da transição.
“Há uma enorme pressão sobre muitos de nós para apresentarmos a nossa história ao público, da forma mais organizada possível; que sempre soubemos, desde crianças, que a transição imediatamente nos fez sentir melhor connosco próprios, que a vida ficou dramaticamente melhor depois disso”, afirmou o americano. “Estamos tentando vender ao público a ideia de que merecemos ter autonomia corporal, porque precisávamos muito, muito disso, morreríamos de outra forma. E estaremos 100% melhores quando conseguirmos essa autonomia. Só não sei como funciona viver numa categoria estigmatizada”, acrescentou ele.
A taxa exata de destransição não é oficialmente conhecida, mas pesquisas mostram que a pressão familiar e social são forças motrizes que levam as pessoas a fazer isso – não porque as pessoas acordam e decidem que não são realmente trans, como grupos antitrans podem fazer parecer.
“É melhor para todos os envolvidos se não tratarmos a destransição como se fosse um tabu assustador, que é apenas uma pessoa experimentando e explorando sua autonomia corporal”, comentou Price. “Não é o fim do mundo fazer a transição e se arrepender. Não é o fim do mundo destransicionar e depois retransicionar novamente, às vezes esse é o custo de se encontrar em um mundo que não quer que você faça isso”, completou ele.
Com informações de Extra/Globo