foto: Sérgio Lima
Segundo a corporação, dados falsos poderiam ajudar Bolsonaro e aliados de suposta tentativa de golpe a sair do país enquanto plano era executado
Provas colhidas pela Polícia Federal na investigação sobre fraudes em cartões de vacina apontam um possível elo com um suposto plano de golpe de Estado que teria sido liderado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Para a corporação, os documentos falsos permitiriam que o então mandatário –assim como seus auxiliares– deixassem o Brasil enquanto aguardavam a “nova tentativa de golpe”.
“[A inserção de dados falsos de vacinação] pode ter sido utilizada pelo grupo para permitir que seus integrantes, após a tentativa inicial de golpe de Estado, pudessem ter à disposição os documentos necessários para a entrada e permanência no exterior”, disse a PF em um relatório. A corporação indiciou o ex-presidente e seu ex-ajudante de ordens, Mauro Cid, pela falsificação.
A falsificação dos dados de vacinação integram um dos 5 eixos de atuação criminosa investigados pela Polícia Federal envolvendo Bolsonaro, aliados e ex-assessores no inquérito 4874-DF. São eles:
- ataques virtuais a opositores;
- ataques às instituições, às urnas eletrônicas, ao processo eleitoral;
- tentativa de golpe de Estado e de abolição violenta do Estado Democrático de Direito;
- ataques às vacinas contra a covid e medidas sanitárias na pandemia;
- uso da estrutura do Estado para a obtenção de vantagens.
É neste último eixo que está a investigação sobre os dados falsos. Também há, nesse eixo, apurações sobre o desvio de bens de alto valor patrimonial entregues por autoridades estrangeiras –que contempla o caso dos relógios de luxo e o das joias– e o uso irregular do cartão corporativo.
BOLSONARO DISSE NÃO SABER DE FRAUDE
Em depoimento à Polícia Federal em maio de 2023, Bolsonaro disse não acreditar que Mauro Cid tenha fraudado seu cartão de vacina e o de sua filha, Laura Bolsonaro, à época com 12 anos de idade. O ex-presidente já afirmou publicamente que não a vacinaria contra a covid.
Na ocasião, Bolsonaro também disse não saber o motivo para a adulteração, já que o certificado não era exigido em viagens internacionais.
O ex-presidente foi indiciado junto com outras 16 pessoas. Agora, caberá à Procuradoria-Geral da República, órgão máximo do Ministério Público, avaliar as provas colhidas e decidir se oferece denúncia à Justiça. Se entender que não há elementos para uma denúncia, o caso pode ser arquivado.
ENTENDA O CASO
Em 3 de maio de 2023, a PF deflagrou a Operação Venire, que verificou registros falsos em plataformas do SUS (Sistema Único de Saúde) e adulterações em cartões de vacinação. A ação foi embasada na quebra de sigilo dos aparelhos de comunicação de Cid, realizada no ano anterior, em um inquérito sobre urnas eletrônicas.
Segundo a PF, em 21 de dezembro de 2022, o secretário de governo da prefeitura de Duque de Caxias (RJ), João Carlos de Souza Brecha, inseriu no sistema do SUS que o ex-presidente tinha tomado vacinas contra a covid. Um dia depois, um usuário cadastrado com o e-mail “[email protected]”, usado por Cid na época, acessou o aplicativo ConecteSUS e emitiu certificados de vacinação.
Em 27 de dezembro, outro comprovante foi emitido e, em seguida, os dados foram excluídos do sistema de saúde. No dia 30, data em que Bolsonaro embarcou para os Estados Unidos, um novo comprovante foi emitido. 15 dias antes do retorno do ex-presidente ao Brasil, em 29 de abril, um 4º comprovante foi emitido.
Mauro Cid foi preso na operação. O tenente-coronel foi apontado pela PF como o responsável pelo esquema.
Bolsonaro também foi alvo. Os agentes realizaram buscas e apreensões na casa do ex-presidente no Jardim Botânico, em Brasília. Ele estava na residência no momento das buscas e teve o celular apreendido.
Poder 360