Foto: Reprodução/Estadão.
Um complexo esquema de terceirização, avaliado em bilhões de reais, envolvendo o uso de laranjas, empresas de fachada e suspeitas de fraude em licitações, foi descoberto nos principais órgãos públicos do Brasil. Esse esquema, ligado a um ex-deputado distrital, engloba pelo menos 11 empresas, cujos proprietários reais são pessoas que recebem benefícios sociais do governo e têm pouco ou nenhum conhecimento sobre os negócios.
Essas empresas, apesar de estarem oficialmente sob o nome de beneficiários de programas sociais, competem entre si em licitações públicas, simulam transações para inflar seus balanços e conseguem contratos até mesmo em presídios de segurança máxima. Uma das empresas, a R7 Facilities, por exemplo, foi identificada como responsável por obras de manutenção na Penitenciária Federal de Mossoró, onde ocorreu uma fuga recente de dois membros do Comando Vermelho.
O ex-deputado distrital Carlos Tabanez e o empresário Edison Júnior, conhecido como Edinho, são apontados como os principais articuladores desse esquema. Ambos têm ligações com diversas empresas do grupo, embora oficialmente não apareçam como seus donos. Tabanez, por exemplo, se apresentou como fundador da R7 Facilities em mensagens internas.
Além das 11 empresas mapeadas, outras firmas também estão envolvidas no esquema, como a B2B Serviços de Administração, a Defender, a AC Segurança, entre outras. Alguns desses empreendimentos têm contratos milionários com o governo federal, Congresso Nacional e Supremo Tribunal Federal, totalizando cifras expressivas.
A investigação realizada pelo Estadão revelou uma teia complexa de relações entre essas empresas, advogados e figuras políticas. Além disso, foram identificados endereços falsos, contradições em documentos e a presença de laranjas no controle dessas companhias.
Diante das evidências levantadas, a Controladoria-Geral da União (CGU) abriu uma investigação sigilosa, e diversas instituições públicas, como a Câmara dos Deputados, o Senado e o Supremo Tribunal Federal, emitiram comunicados afirmando que as contratações seguiram os procedimentos legais.
O esquema revelado aponta para possíveis crimes como conluio, falsidade ideológica, fraude em licitação e associação criminosa. O envolvimento de figuras políticas e a complexidade das relações entre as empresas sugerem a necessidade de uma investigação aprofundada para desmantelar essa rede de corrupção.
Entenda a relação entre as empresas
- R7 Facilities
Sócio-administrador no papel é Gildenilson Braz Torres, um técnico de contabilidade que recebeu auxílio emergencial, mora em uma casa simples na periferia do DF e tinha R$ 523 em suas contas em 2022
Alair Ferraz é advogado da empresa
Tabanez envia panetones e indica funcionários para a R7
Tabanez já se apresentou como fundador da R7 Facilities, em mensagem enviada a um funcionário e obtida pelo Estadão
- B2B Serviços de Administração
Sócio no papel é Robério Dantas, que foi beneficiário do auxílio emergencial
Edison Júnior, o Edinho, é ex-dono da B2B
Funcionário da B2B chama Tabanez de chefe nas redes sociais
Tem contrato de R$ 37 milhões com a R7 Facilities
E-mail do Gildenilson, dono da R7 no papel, é ligado à B2B, segundo processo na Justiça
Tem o mesmo contador que a R7
Alair Ferraz é advogado da B2B
- Defender
Tinha como dono o próprio Tabanez, que alegou ter vendido a empresa, mas confessou que segue indicando os funcionários
Atual sócio, no papel, é Luiz Carlos, um jovem de 28 anos que mora em uma casa simples na periferia do DF e não soube dar explicações sobre a empresa
Apesar de supostamente ter saído da Defender, Tabanez dá palestra em nome da empresa e envia panetones para os funcionários
Alair Ferraz é advogado da empresa
- AC Segurança
Dono, no papel, é Nathan Almeida Andrade, o Nanau, que fez campanha em 2022 para Tabanez em suas redes sociais
Alair Ferraz é advogado da empresa
AC Segurança funciona no mesmo endereço da B2B
- Falcon Facilities
Dono, no papel, é Nathan Almeida Andrade, o Nanau, que fez campanha em 2022 para Tabanez em suas redes sociais
Alair Ferraz é advogado da empresa
Segundo dados informados à Receita Federal, Falcon funciona no mesmo endereço da B2B e da AC Segurança, mas funcionários negam a existência da empresa no local
Tem um contrato com a R7 Facilities de R$ 13,8 milhões, apesar de a empresa não funcionar no endereço que informou à Receita
- Siello Tecnologia, Desenvolvimento e Serviços
Alair Ferraz é o dono, segundo dados da Receita Federal
Funciona no mesmo endereço da G&G Empreendimentos Imobiliários
- G&G Empreendimentos Imobiliários
Pertence, no papel, a Eliseuma Costa Alves. Em seu Linkedin, ela se apresentava como secretária da B2B
Hoje Eliseuma é dona de uma clínica de estética. Ela não soube dar informações sobre a G&G e indicou o advogado Amom como responsável. Amom é diretor da R7 Facilities e parceiro de Tabanez
A G&G funciona em uma sala ao lado da Siello, empresa de Alair
Tem contrato com a R7 Facilities de R$ 26,8 milhões, apesar de Eliseuma desconhecer a informação
- K2 Conservação e Serviços Gerais
Alair Ferraz é advogado da empresa
Nas redes sociais, Alair aparece em confraternização de fim de ano da empresa, à frente das apresentações e distribuindo brindes para os funcionários
- GSI Vigilância
Pertence a Tabanez, segundo a Receita Federal
- GSI Serviços
Pertence a Kelly Fragoso, esposa de Tabanez
Alair Ferraz é advogado da empresa
- Qualifoco
Tem contrato com a R7 de R$ 32,2 milhões
Alair Ferraz é advogado da empresa
Já pertenceu a Wesley Camilo, segundo o próprio. O bombeiro civil foi o primeiro laranja da R7 Facilities, em 2021
Com informações do Estadão.