Durante muito tempo, Kate Middleton tem sido alvo de rumores não verificados, desde a suposta pressão sobre uma galeria de arte para remover um retrato real até boatos sobre sua separação do marido, mudança de penteado para abafar rumores de gravidez e até mesmo especulações sobre o nascimento de sua filha.
Este ano, os rumores atingiram um ápice. Agora conhecida como Catherine, Princesa de Gales, Middleton não é vista desde o Natal. O Palácio de Kensington afirmou que ela estava se recuperando de uma cirurgia abdominal planejada e não era esperado que retomasse suas atividades reais antes da Páscoa.
Entretanto, teóricos da conspiração têm outras interpretações mais sombrias. Para eles, a prolongada ausência da futura rainha só pode significar que ela está desaparecida, morrendo ou até mesmo morta, com alguém tentando encobrir os fatos.
“KATE MIDDLETON PROVAVELMENTE ESTÁ MORTA”, diz uma postagem no X, com o texto enfeitado com emojis de caveiras e gritos.
Com sua morte inventada, a princesa se junta a uma série de outras celebridades e figuras públicas — do presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, a Elon Musk — que dezenas de detetives on-line declararam nos últimos meses serem clones, dublês de corpos, avatares gerados por Inteligência Artificial (IA) ou não serem as pessoas que dizem que são.
Para muitas das pessoas que divulgam as informações falsas, trata-se de uma diversão inofensiva: uma investigação casual que dura apenas alguns cliques, uma bonança para os geradores de memes. Outros, no entanto, gastam “incontáveis horas” na busca, seguindo outros céticos por buracos de coelho e exigindo que as celebridades forneçam provas de vida.
Seja qual for a motivação, o que permanece é o desejo de questionar a realidade, dizem os especialistas em desinformação. Ultimamente, apesar das evidências extensas e incontestáveis em contrário, o mesmo senso de suspeita contaminou as conversas sobre eleições, raça, saúde e clima.
Grande parte da Internet agora discorda de fatos básicos, um fenômeno exacerbado pela intensificação da polarização política, pela desconfiança em relação a instituições como a imprensa e a ciência, bem como pelo poder da IA e de outras tecnologias de distorcer a percepção da realidade das pessoas.
Em um ambiente como esse, as teorias de conspiração de celebridades tornaram-se uma forma de assumir o controle de “um momento realmente assustador e inquietante”, disse Whitney Phillips, professor assistente de ética de mídia e plataformas digitais na Universidade de Oregon.
Recentemente, houve intensas discussões nas redes sociais levantando a possibilidade de Kate estar morta ou em coma induzido, rumores que foram categoricamente refutados pelo palácio como “absurdos”. Alguns usuários, autointitulados detetives da Internet, afirmaram que fotos mostrando Kate em carros com sua mãe e marido na verdade retratavam outra mulher, notando diferenças nas pintas faciais.
Na semana passada, uma foto oficial da realeza no Dia das Mães, mostrando Kate com seus três filhos, gerou ainda mais agitação. Observações sobre inconsistências na vestimenta e no cenário levaram à especulação de que a imagem poderia ter sido manipulada a partir de fotos antigas, levando à hashtag #OndeEstáKateMiddleton se espalhando rapidamente nas redes sociais, especialmente após um pedido de desculpas de Kate pela edição da foto.
Um vídeo recente mostrando Kate e seu marido em uma loja também foi alvo de análise por teóricos da conspiração, que questionaram a aparência da princesa, sugerindo que ela estava estranhamente desfocada, saudável, magra e desprotegida por guarda-costas.
Mais recentemente, a circulação de um vídeo mostrando a bandeira da União a meio mastro no Palácio de Buckingham gerou especulações alarmantes nas redes sociais, interpretadas por alguns como um sinal de que a princesa ou mesmo o Rei Charles III poderiam ter falecido. No entanto, verificou-se que o vídeo na verdade retratava um evento ocorrido em Istambul em 2022, após o falecimento da Rainha Elizabeth II.
Tecnologia a serviço da mentira
Vídeos reaproveitados, retratos gerados por inteligência artificial e uma relutância geral da maioria do público em verificar fatos facilmente desmascaráveis podem contribuir para alimentar dúvidas sobre a existência de celebridades.
Há especulações de que Biden é representado por diversos atores mascarados, incluindo Jim Carrey. Elon Musk é apontado como um dos até 30 clones, conforme alegações do rapper Kanye West (que frequentemente afirma ser um clone). No ano passado, durante uma coletiva de imprensa, o presidente russo Vladimir Putin foi confrontado por uma versão gerada por IA de si mesmo, que o interpelou sobre seus supostos dublês de corpo.
No passado, os rumores sobre a existência ou não de celebridades eram cuidadosamente filtrados e divulgados por um seleto grupo de meios de comunicação, explica Moya Luckett, historiadora de mídia da Universidade de Nova York.
Poucas figuras públicas enfrentaram o tipo de frenesi experimentado por Paul McCartney em 1969, quando surgiu um boato de que o Beatle havia falecido e sido substituído por um sósia. As supostas evidências, como letras com insinuações e mensagens ocultas em faixas invertidas das músicas dos Beatles, cativaram tanto o público que McCartney participou de várias entrevistas e sessões de fotos para provar sua identidade como pessoa viva.
Atualmente, o conteúdo sobre as celebridades está amplamente e constantemente disponível. Embora o envolvimento do público seja uma parte crucial da promoção, a privacidade não é. A realidade é modificada e filtrada, o que faz com que algumas figuras públicas pareçam não envelhecer, ao mesmo tempo em que gera suspeitas infundadas sobre as que não seguem esse padrão.
Quando os fãs acreditam que uma celebridade está em perigo, o esclarecimento do caso é encarado como uma atividade de união comunitária motivada por um “senso de direito disfarçado de preocupação”, afirma Luckett. Ela se refere a essa prática como “trollagem da preocupação”.
— Envolve o desejo de controlar a resposta de uma pessoa em relação a mim, de querer fazer parte da sua história: ‘Já absorvi todas as informações disponíveis e agora necessito de mais’ — descreve ela, comparando esse impulso à recente obsessão por histórias de crimes reais. — Não acredito necessariamente que seja motivado pelo desejo de resgatar ou ajudar.
Os teóricos da conspiração não necessariamente acreditam no que propagam: algumas das principais vozes por trás das campanhas de desinformação sobre fraude eleitoral já admitiram, em tribunal, que sabiam que suas alegações eram falsas.
Este mês, uma teoria da conspiração de anos atrás envolvendo a cantora Avril Lavigne ressurgiu em um podcast irônico da comediante Joanne McNally. A alegação de que Lavigne morreu e foi substituída por uma sósia teve origem em um blog brasileiro chamado “Avril Está Morta”, que observou “como o mundo é suscetível a acreditar em coisas, por mais estranhas que pareçam”. Em 2017, mais de 700 pessoas assinaram uma petição on-line pressionando Lavigne e sua sósia a fornecerem “provas de vida”.
As informações são de O Globo