Imagine-se como o único herdeiro de um império avaliado em mais de R$ 200 bilhões. Esta foi a situação enfrentada por Travis Knight. Contudo, em vez de assumir o controle direto da Nike, ele optou por trilhar outro caminho. Assim, seu pai, Phil Knight, designou Mark Parker, um designer de calçados, como CEO da Nike naquela época.
História de ‘rebeldia’
A tradição familiar se repete: o patriarca da família enfrentou desaprovação paterna ao optar por sua carreira. O avô de Travis, William Knight, era advogado e editor de jornal quando Phil Knight decidiu não seguir os passos da advocacia, optando por iniciar uma empresa de calçados.
Os meninos Knight têm uma longa tradição de decepcionar seus pais. (Travis Knight, em entrevista ao Los Angeles Times em 2016)
Uma das coisas que meu pai me disse quando eu era criança foi: ‘Encontre sua vocação’, ‘descubra o que você pretende fazer’. Quando encontrei a animação eu sabia que era isso. (Travis Knight)
Apesar de seguir o conselho do pai, ao que parece Travis também teve de encarar um olhar de desconfiança quando decidiu abrir mão da presidência da Nike. “Vocês não imaginam a cara que ele fez para mim”, disse ao Los Angeles Times. Travis ainda faz parte do conselho de administração da Nike.
Tragédia e apoio a outra carreira
O apoio de Phil à decisão de Travis aparentemente tem ligação com uma tragédia. O ano era 2004 quando Travis recebeu uma ligação com uma notícia terrível: seu irmão mais velho, Matthew, havia morrido após uma parada cardíaca durante um mergulho em El Salvador. Coube a Travis dar a notícias aos pais.
“Meu irmão e eu tínhamos coisas não resolvidas. Eu só queria ter tido uma última conversa com ele. Fiquei intensa e profundamente irritado com a injustiça de tudo isso”, afirmou ao Los Angeles Times, destacando que aquele foi o pior dia de toda a vida.
A relação entre o filho mais velho e Phil Knight não era das mais amigáveis, principalmente pela quantidade de tempo que o pai dedicou aos negócios. Segundo o La Nación, Travis afirmou que Matthew um dia jurou ao pai que nunca usaria um par de tênis Nike enquanto fosse vivo.
Travis disse que passou a maior parte da infância sozinho enquanto seu pai transformava a Nike em uma gigante e viajava constantemente. A relação com os filhos foi relatada por Phil em sua autobiografia.
Na véspera de ano novo de 1977, andei pela minha casa apagando as luzes e senti uma espécie de rachadura profunda na rocha da minha existência. Minha vida girava em torno de esportes, meu negócio girava em torno de esportes, meu relacionamento com meu pai girava em torno de esportes e nenhum dos meus dois filhos queria se envolver com esportes… Tudo parecia tão injusto. (Phil Knight)
Com o tempo, o herdeiro parece ter compreendido a escolha do pai. “Quando você está crescendo e vê um pai trabalhando tanto para construir algo… todas essas coisas têm um custo. Quando criança, você não necessariamente entende isso. Quando encontrei a animação, foi quando finalmente a entendi.”
O apoio de Phil Knight também foi fundamental para facilitar o caminho de Travis, que hoje atua como diretor de cinema. No final da década de 1990, o Will Vinton Studios enfrentava dificuldades financeiras, até que o então CEO da Nike investiu no estúdio, tornando-se seu acionista majoritário. Em 2005, o estúdio encerrou suas atividades e a Laika Entertainment foi estabelecida.
Desde então, Travis demonstrou seu talento em diversos filmes, incluindo “Coraline e o Mundo Secreto”, que recebeu indicações ao Oscar e ao Globo de Ouro, além de arrecadar mais de US$ 124 milhões. O diretor também é reconhecido por seu trabalho em obras como “Os Boxtrolls” e “Kubo e as Cordas Mágicas”.
Com informações de UOL