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As eleições presidenciais na Venezuela serão realizadas em 28 de julho, seguindo os termos do acordo entre o governo e a oposição, informou, nesta terça-feira (5), a autoridade eleitoral.
Tradicionalmente, as eleições no país acontecem em dezembro. O dia 28 de julho é o aniversário de Hugo Chávez.
Elvis Amoroso, presidente do Conselho Nacional Eleitoral (CNE), um órgão controlado pelo governo, anunciou que a diretoria do organismo aprovou por unanimidade a data das eleições.
Nicolás Maduro provavelmente vai tentar se reeleger.
Reação no governo brasileiro
Entre membros do governo do Brasil, o agendamento de um dia para a votação na Venezuela foi tido como um alívio.
Em outubro do ano passado, o governo da Venezuela e a oposição chegaram a um acerto sobre as eleições e assinaram um documento chamado Acordo de Barbados, que estabelece diretrizes de como as eleições devem acontecer. Pelos termos, a votação para presidente deverá ser realizada no segundo semestre de 2024.
Como a data fixada pelo Conselho Nacional Eleitoral é em julho, está dentro desse período, o que agradou membros do governo brasileiro, mas que pediram para não serem identificados.
Mesmo aliviados com um passo adiante, com a data estabelecida, integrantes do governo brasileiro fazem questão de lembrar que tradicionalmente o pleito é feito no fim do ano, e que a proximidade com as eleições pode dar margem para riscos, por ser “cedo demais”, já que há impasses criados pelo governo Maduro a serem resolvidos.
Em janeiro, meses depois da assinatura do Acordo de Barbados, o Supremo Tribunal de Justiça, alinhado ao governo de Maduro, inabilitou Maria Corina Machado, atualmente a principal política de oposição do país.
Na ocasião, o governo brasileiro publicou uma nota para pedir o cumprimento do acordo: “Os acordos, que estabeleceram parâmetros para a realização das eleições presidenciais este ano, resultaram da mesa de diálogo entre governo e oposição mediada pela Noruega e receberam apoio, entre outros, do Brasil e dos EUA”, dizia o texto do governo brasileiro.
No início de fevereiro, foi a vez de a ativista Rocío San Miguel ser presa, considerada terrorista e traidora da pátria pelo governo Maduro. Aliada a esses fatores, a disputa pela região de Essequibo, na Guiana, aumenta a tensão e a preocupação do Palácio do Planalto com um canal de influência sobre Caracas.
Lula conversou com Maduro sobre eleições
No dia 1º de março, Maduro disse ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) que as eleições na Venezuela seriam marcadas para o segundo semestre deste ano e, depois de um “amplo acordo com a oposição”, o pleito terá observadores internacionais e será feita uma auditoria nos resultados.
De acordo com a assessoria de Lula, Maduro foi quem levantou o assunto das eleições. Antes da reunião bilateral às margens da cúpula da Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac), como antecipou a Reuters, Lula já havia decidido trazer à tona o tema.
Uma das questões era o cumprimento do acordo de Barbados, mediado pelos Estados Unidos com apoio do Brasil, que levou a um acordo com a oposição. A desabilitação da oposicionista María Corina Machado, em janeiro, levantou dúvidas sobre se o processo correria como o acordado, mas uma fonte disse à agência de notícias Reuters que a maioria da oposição tratou a retirada da líder oposicionista como um fato já esperado.
Lula também pretendia levantar a questão da oratória inflamada de Maduro na questão do Essequibo. Há um temor de que, durante as eleições, o presidente venezuelano volte a fazer ameaças de ocupação da região pertencente à Guiana.
O assunto, no entanto, foi tratado nesta sexta-feira apenas lateralmente, como as falas públicas de Lula sobre a defesa de uma zona de paz para a região na reunião da Celac, em São Vicente e Granadinas.
Em entrevista na Guiana, na quinta-feira, o presidente Lula afirmou que falaria a Maduro da sua posição, de que divergências precisam ser resolvidas por diálogo.
Outro tema da reunião foi a dívida da Venezuela com o Brasil. Maduro, que apresentou a Lula índices que mostram uma melhoria nos indicadores econômicos do país, como a inflação, disse que seu governo tentaria avançar no pagamento da dívida para que seja possível retomar o comércio entre os dois países.
Ainda segundo o Planalto, os dois presidentes também trataram do combate ao garimpo ilegal, especialmente nas terras indígenas yanomami, que abrangem áreas dos dois países.
g1