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Há 60 anos, a democracia brasileira sofreu uma interrupção por meio de um golpe militar. Hoje, segundo o cientista político e professor aposentado da Universidade de São Paulo (USP), Bernardo Kucinski, a ameaça à democracia não necessariamente viria de instituições. O crime organizado representa um risco iminente, conforme declarou à CNN.
Em uma democracia, o monopólio da violência pertence ao Estado, e essa violência é exercida de acordo com a lei. No entanto, em alguns países da América Central e também em algumas regiões do Brasil, estamos testemunhando a força sendo aplicada ilegalmente. Isso representa sempre um risco para a democracia.
Bernardo Kucinski enfatiza que, para enfrentar essa situação, o Estado precisa ser forte e não permitir que a força seja utilizada por aqueles que estão fora da lei. Quando o Estado é condescendente com essa realidade, corremos perigo.
Além do crime organizado, a possibilidade de um novo golpe de Estado no país nunca deixou de existir. Kucinski acredita que esse golpe não precisa ser necessariamente clássico, com tanques nas ruas, mas pode ser disfarçado e dissimulado.
Como autor de uma série de livros que revisitam o período do regime militar, Kucinski vivenciou os impactos desse período. Sua família foi afetada pelas consequências do golpe. Em 1974, sua irmã, Ana Rosa Kucinski, militante da Ação Libertadora Nacional (ALN), desapareceu junto com seu marido, Wilson Silva. O casal faz parte da lista de 434 mortos e desaparecidos da ditadura militar.
Como se dá a ameaça à democracia pelo crime organizado?
Em uma democracia, o monopólio da violência é do Estado e ela é exercida de acordo com a lei.
O que nós estamos vendo em alguns países da América Central, e também em algumas regiões do Brasil, é a força sendo exercida ilegalmente. Isso é sempre um risco para democracia.
É por isso que um Estado Democrático de Direito tem que ser um Estado democrático, mas também tem que ser um Estado forte, um Estado que realmente não permita a aplicação da força pelos ‘fora da lei’.
Quando o Estado é condescendente com essa situação, perigamos.
O senhor acredita que a forma como o autoritarismo se apresenta na nossa sociedade se alterou de 60 anos para cá ou permanece, em essência, a mesma?
Essa questão do autoritarismo é importante pelo seguinte. Justamente aquele tópico que eu analisei antes, da violência, do crime organizado, acaba induzindo as pessoas a aceitarem soluções autoritárias.
Por isso, é importante que não se permita um avanço do crime organizado.
O autoritarismo é um apelo muito fácil. De repente, você tem uma situação e as pessoas aceitam o autoritarismo como solução. Mas, como nós vimos pelo golpe de 1964, ele nunca é solução. Acho que temos adormecido na sociedade essa aceitação do autoritarismo.
Com informações da CNN.