O advogado de 42 anos, Rodrigo Marinho Crespo, que foi assassinado no Centro do Rio há uma semana (26/02) enquanto se preparava para sair do escritório onde era sócio, estava enfrentando desentendimentos com seu parceiro de negócios. Testemunhas e amigos afirmaram que ele expressou insatisfação por não receber uma parcela justa na sociedade. A irmã da vítima, em depoimento à Polícia Civil, revelou que Rodrigo e seu sócio, Antonio Vanderler de Lima Junior, não mantinham mais uma amizade e que Rodrigo confidenciou que Junior não o respeitava mais. A vítima havia vendido seu carro em novembro de 2023 e tinha planos de deixar o Rio.
Ao ser questionado pelo blog Segredos do Crime sobre como estava sua relação com a vítima, considerando que uma testemunha afirmou à polícia que Rodrigo ficou decepcionado com ele, o advogado Vanderler Junior enviou sua resposta por mensagem de WhatsApp:
“Meu depoimento e as investigações estão em sigilo. A vida profissional do Rodrigo é pública, como sócio foi impecável, sempre foi um ótimo profissional dedicado e competente. Aguardo ansiosamente o desfecho do caso, confio na justiça, colaboro com as investigações e tenho certeza que esse crime será resolvido. Posso afirmar que está barbárie não tem qualquer relação com a atuação do Dr. Rodrigo na condução e na defesa dos interesses dos clientes do escritório. Em relação às ilações maldosas, não merecem resposta”.
Trecho do depoimento do sócio Antonio Vanderler de Lima Junior — Foto: Reprodução
Entre as queixas compartilhadas por Rodrigo com sua irmã, ele detalhou sua “irritação” em relação a Vanderler Junior. Uma das reclamações refere-se a janeiro, quando, segundo ele, recebeu R$ 80 mil, mas ficou pendente uma segunda parte no valor de R$ 50 mil, que o sócio deveria pagar. No entanto, Junior teria repassado apenas R$ 6 mil. Ao questionar sobre o restante, Junior teria respondido que já havia recebido o suficiente naquele mês, conforme relatado no depoimento da irmã à polícia.
Trecho do depoimento de uma das irmãs de Rodrigo Crespo — Foto: Reprodução
Outra reclamação da vítima à irmã, era de que o advogado Vanderler Junior dizia que ele não trabalhava, quando Rodrigo chegava cedo e era praticamente o último a sair do escritório, como ficou evidente no dia em que foi assassinado. Já passava das 17h quando o advogado saiu do prédio onde trabalhava para fazer um lanche. Ele foi executado na calçada, próximo ao vendedor de salgados. Um homem encapuzado saiu de um Gol branco, armado de pistola, e desferiu contra a vítima, pelo menos, 20 tiros. Naquele dia (26/02), o sócio disse à polícia ter saído às 16h.
Segundo a irmã da vítima, Rodrigo se dizia decepcionado com o sócio e comentou com ela “que havia tomado uma decisão equivocada no passado”. Mas, com a virada do ano, prometeu a ela que 2024 “iria fazer diferente e que iria mudar a vida toda”. A solução era sair do escritório.
Rodrigo compartilhou seus sentimentos sobre o desejo de deixar o escritório com amigos de longa data, incluindo um que afirmou, em conversa com o blog, que a vítima havia perdido a confiança no sócio. Devido a isso, Rodrigo estava economizando dinheiro para se mudar do Rio. O advogado revelou ao amigo que foi responsável por atrair clientes significativos, como a empresa de cigarros Souza Cruz, para o escritório, onde se especializou em processos trabalhistas. Apesar disso, Rodrigo expressou insatisfação por ter trazido bons clientes, mas estar sobrecarregado e recebendo uma compensação insuficiente. Ele mencionou dificuldades financeiras, que foram corroboradas pela namorada da vítima durante seu depoimento à DHC.
A namorada, também testemunha, informou ao delegado responsável pela investigação, Rômulo Assis, que Rodrigo compartilhou com ela a preocupação de um cliente de confiança, que o aconselhou a ficar atento, pois alguém estava tentando prejudicar o advogado.
Rodrigo começou como estagiário do escritório do advogado Antonio Vanderler de Lima antes mesmo de se formar pela PUC-RJ em 2005, aproximadamente 20 anos atrás. Com sua inteligência e dedicação aos estudos, há cerca de 10 anos, tornou-se sócio do filho de seu ex-chefe, dando origem à Marinho & Lima Advogados. No entanto, devido à falta de harmonia entre os sócios, o advogado João Rachid Motta foi convidado a se juntar ao escritório, transformando-o em Marinho, Motta & Lima Advogados, conforme relatado por uma irmã da vítima. Vanderler Junior, outro sócio, afirmou que cerca de 20 advogados trabalham no local.
Motta explicou à polícia que seu papel no escritório era atrair clientes e mencionou uma queda na receita no final de 2023 devido à redução dos serviços prestados à Souza Cruz. Ele ingressou na sociedade em 2020, e de acordo com seu relato, Rodrigo começou a se interessar pelo mercado de jogos online, animado pela lei 14.790/2023, que autoriza essa prática.
Com informações de O Globo/VERA ARAÚJO