Esta semana, a Organização Mundial da Saúde (OMS) emitiu uma nova orientação desencorajando o uso de adoçantes artificiais como substitutos do açúcar para controle de peso. A justificativa reside no fato de que, embora sejam comercializados como alternativas de baixa caloria, estudos avaliados pela organização não evidenciaram benefícios na redução de gordura a longo prazo em adultos e crianças.
Adicionalmente, a OMS ressalta a presença de “possíveis efeitos adversos” associados ao consumo desses produtos, como aumento do risco de diabetes tipo 2, doenças cardiovasculares e mortalidade em adultos. A nova recomendação é direcionada a todos, exceto aqueles com diabetes pré-existente, devido à escassez de estudos com esse grupo específico.
No entanto, abandonar um hábito nem sempre é uma tarefa fácil, especialmente considerando a conveniência dos adoçantes, presentes em diversos estabelecimentos, desde restaurantes até cafeterias no ambiente de trabalho. Entretanto, é importante notar que nem todos os adoçantes são iguais, e entender suas diferenças pode minimizar os riscos à saúde e auxiliar na escolha da melhor opção de acordo com cada objetivo.
— Os adoçantes têm origens completamente diferentes. Eles podem vir da cana-de-açúcar e de aminoácidos, enquanto outros são produzidos quimicamente. Eles têm dulçor (capacidade de adoçar) maior que o açúcar, sendo 200, 300 e ou até 500 mais potentes. Então, por exemplo, 1 grama de aspartame adoça 200 vezes mais que 1 grama de açúcar — explicou Daniel Magnoni, nutrólogo do Hospital do Coração, em São Paulo, em reportagem recente do GLOBO.
Os melhores adoçantes para a saúde, de acordo com os especialistas, são os de origem natural, como stevia, xilitol e eritritol. Têm segurança estabelecida e costumam conferir dulçor semelhante ao açúcar, além de apresentar poucos efeitos colaterais e serem estáveis à temperatura do cozimento. Mas os médicos são unânimes em afirmar que o ideal mesmo é o alimento com seu próprio sabor, sem adição de açúcares, seja o natural ou o artificial.
Confira as especificações dos adoçantes:
- Sacarina: Tem doçura 300 a 500 vezes maior que o açúcar, sendo necessária pouquíssima quantidade, portanto. É resistente à temperatura de cozimento dos alimentos, possui um sabor residual metálico e nesse sentido, normalmente é utilizada junto com outro tipo de adoçante.
- Ciclamato: Resistente à temperatura, tem doçura 30 a 40 vezes maior que o açúcar. Pode ser combinada com a sacarina, fornecendo sabor mais doce. Na década de 80, foi proibido nos Estados Unidos em decorrência de estudos em animais que associaram sua ingestão ao desenvolvimento de câncer de bexiga. É permitido no Brasil.
- Acessulfame de potássio: Tem doçura 200 vezes maior que o açúcar. De todos é o que possui melhor sabor. Estável na pasteurização e esterilização.
- Aspartame: Tem doçura 200 vezes maior que o açúcar. Quando submetido a temperaturas maiores que 180ºC, adquire sabor amargo. É contraindicado para portadores de fenilcetonúria (doença congênita na qual a pessoa não consegue metabolizar a fenilalanina – o excesso exerce ação tóxica em vários órgãos).
- Sucralose: Tem doçura 600 vezes maior comparado ao açúcar. Não possui sabor residual e é estável ao aquecimento. Apesar disso, estudos recentes mostram que quando submetido a temperaturas maiores que 120º podem liberar substâncias tóxicas. Apesar de vir da cana-de-açúcar, não é natural, porque sofre reações químicas.
- Stevia: Tem doçura 300 vezes maior que o açúcar e pode ir ao fogo. Extraído da planta Stevia rebaudiana, planta nativa da América do Sul, comum na região Sul do Brasil. Tem sabor um pouco amargo, que muitas vezes limita o uso. Está entre os melhores para a saúde.
- Eritritol: Praticamente sem caloria alguma: 0,2 por grama. Tem ingestão bem tolerada e é mais usado na indústria alimentícia (é estável no calor). Tem doçura 300 a 400 vezes maior que o açúcar. Estudos mostram que 90% do composto é eliminado pela urina, o restante é fermentado pelas bactérias intestinais. É natural, extraído da cana-de-açúcar. Tem sabor muito parecido com o açúcar.
Por que o adoçante não emagrece?
Um estudo realizado pela Universidade de Harvard, a pedido da Organização Mundial da Saúde (OMS), foi um dos que concluíram que adoçantes artificiais e de baixa caloria podem não contribuir para a redução de peso.
Ainda assim, “estudos de longo prazo são necessários para avaliar os efeitos sobre o sobrepeso e a obesidade, o risco de diabetes, doenças cardiovasculares e doenças renais”, ressaltaram os pesquisadores responsáveis, em publicação na British Medical Journal.
A vice-presidente do Departamento de Diabetes da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM), Melanie Rodacki, pontua que evidências mais recentes mostram um possível impacto dos adoçantes artificiais na microbiota intestinal, além de aumentarem o apetite.
— Em trabalhos com ratos, o consumo de adoçantes artificiais aumentou o desejo de alimentos adoçados com açúcar e peso corporal. Um estudo em homens com peso normal indicou que a ingestão de bebidas adoçadas com adoçante induziu maior vontade de comer e menor sensação de plenitude — disse médica em reportagem do GLOBO.
Entenda os riscos dos adoçantes
Os adoçantes artificiais oferecem benefícios limitados e também apresentam riscos. Por exemplo, o ciclamato, um dos principais adoçantes em certos refrigerantes, foi proibido pela Federal Drug Administration (FDA) dos Estados Unidos na década de 80, devido ao seu potencial de causar câncer de bexiga em ratos. No entanto, no Brasil, o ciclamato é um dos 17 edulcorantes permitidos para uso em suplementos alimentares, de acordo com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
— A indústria alega que os trabalhos foram feitos em animais e não em humanos. Realmente, 1 grama de ciclamato para um rato é muito mais do que para um humano, por isso que precisaria de mais trabalho, de mais pesquisa. Mas falo para meus pacientes evitarem o ciclamato – diz o nutrólogo Magnoni.
O médico adverte sobre a necessidade de precaução ao utilizar a sucralose em certas circunstâncias. Estudos recentes revelam que esse composto pode liberar substâncias nocivas quando exposto a temperaturas superiores a 120°C, portanto é aconselhável evitar seu uso em receitas que envolvam o uso de forno. Além disso, destaca-se a importância de evitar o consumo de aspartame por pessoas que sofrem de fenilcetonúria, uma condição congênita na qual o organismo não consegue metabolizar a fenilalanina, podendo causar danos tóxicos em vários órgãos quando em excesso.
Com informações de O Globo