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Professor de ciências planetárias e cosmoquímica no Laboratório Lunar e Planetário da Universidade do Arizona (EUA), Dante Lauretta é o investigador principal da missão OSIRIS-REx da NASA, que no ano passado trouxe à Terra amostras coletadas do asteroide Bennu, descoberto em 1999. O pesquisador está lançando o livro “The Asteroid Hunter: “A Scientist’s Journey to the Dawn of our Solar System by Dante Lauretta” (O Caçador de Asteroides: A Jornada de um Cientista ao Sistema Solar, em tradução livre), onde detalha momentos cruciais da missão.
Em relato publicado no Daily Mail, Lauretta conta que, em 2011, a NASA concedeu a ele US$ 1 bilhão (R$ 4,96 bilhões, na cotação atual) para descobrir tudo o que fosse possível sobre Bennu. A estimativa da agência espacial é de que o asteroide colida com a Terra em setembro de 2182, trazendo, muito provavelmente, consequências catastróficas para o planeta, caso nada seja feito até lá.
A missão, relata Lauretta, implicaria não apenas enviar uma espaçonave ao asteroide, mas também trazer um pedaço da rocha de volta à Terra. Os cientistas passaram anos desenvolvendo pesquisas.
Um marco na história espacial
Em outubro de 2020, a missão foi lançada. “Minha pequena equipe se reuniu no centro de controle no Colorado, cada um de nós vestindo os uniformes azuis da NASA, prontos para testemunhar o sucesso ou o fracasso da OSIRIS-REx, a primeira missão do país a recolher uma amostra de um asteroide”, conta o pesquisador.
A sala foi dividida em duas seções – uma onde os engenheiros se sentavam em frente a monitores observando o fluxo contínuo de informações que chegavam do espaço, e outra montada como um aparelho de televisão, com um cenário de Bennu. A transmissão começou às 15h no horário local, e logo mais de um milhão de pessoas estavam sintonizadas para nos ver fazer história.
“Eu estava muito nervoso, tentando acompanhar o relógio de parede enquanto ouvia o controlador da missão ler os marcos críticos”, diz Lauretta.
No espaço, a OSIRIS-REx iniciou a sua descida final, aproximando-se da superfície a um ritmo constante de dez centímetros por segundo. Ele mirou no coração de Nightingale – o local que foi escolhido para uma seleção de amostra devido à quantidade de material de granulação fina desobstruída que contém.
O intervalo de tempo de 18 minutos (que é a comunicação através do sistema solar) significava que, a cada poucos minutos, um novo ponto de dados chegaria do OSIRIS-REx, retransmitindo os eventos do passado. Uma hora depois, a equipe recebeu o recado crítico: “A gravação do MatchPoint foi concluída”. Isso significava que a nave espacial havia disparado seus propulsores para abrandar a descida e sincronizar-se com a rotação do asteróide. Em seguida, ele continuou a se mover sobre a rocha, procurando um local livre para pousar.
À medida que se aproximava da superfície, o momento da verdade se aproximava. A um alcance de apenas 16 pés, a OSIRIS-REx analisou as imagens finais, considerando todas as suas opções, antes de tomar a sua decisão. Em seguida, transmitiu a sua escolha de volta à Terra, onde esperávamos para descobrir o que tinha acontecido há 18 minutos.
“Pela primeira vez na minha vida, percebi a verdadeira enormidade do sistema solar, e ele era vasto além da compreensão. Meus nervos estavam à mostra. Eu sabia que estava falando rápido e respirando pesadamente. Parecia que o mundo inteiro estava me observando enlouquecer em tempo real”, conta o pesquisador.
Do outro lado do Sol, a OSIRIS-REx pairou acima do seu alvo. Seu computador continuou a processar dados da NavCam, analisando cada pixel à medida que as características da superfície do asteroide se tornavam melhor resolvidas. A cada imagem, o sistema da nave fazia cálculos e tomava decisões — avançar para o pouso ou não.
“Meu olhar se concentrou em Estelle, que monitorava a telemetria de Bennu. Ela seria a primeira a saber que a OSIRIS-REx havia pousado. Os olhos de todos os outros estavam nela também. Com a coluna ret”a, de vez em quando ela sacudia as mãos, como se estivesse tirando água delas, o único sinal de que ela pode estar tão nervosa quanto o resto de nós. Meu coração estava batendo forte. Dezesseis anos de trabalho se resumiram a esses perigosos segundos.”, conta Lauretta no livro.
De repente, Estelle saltou da cadeira, jogou para o alto os pulsos e gritou as palavras que eu esperei tanto tempo para ouvir: “Temos pouso!” “Constrangidos pelas diretrizes de saúde, estendemos os braços um para o outro e batemos palmas virtuais, a dor da separação silenciada apenas pela magnitude de nossa realização”, conclui o pesquisador.
Retorno em 2023
Em setembro de 2023, a NASA trouxe à Terra uma amostra de Bennu com o objetivo de entender os riscos de colisão com o planeta. Análises preliminares divulgadas posteriormente, em fevereiro deste ano, constataram que ele continha grandes quantidades de água e carbono. Os pesquisadores da Universidade do Arizona acreditam que Bennu fazia parte de um planeta rico em água que existiu há milhares de milhões de anos.
Créditos: ÉPOCA Negócios.