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Uma vacina intranasal contra a COVID-19, desenvolvida no Brasil, demonstrou 100% de eficácia em testes realizados em camundongos, conforme divulgado em um artigo na revista científica Vaccines.
Proposta como uma alternativa às vacinas atualmente disponíveis, que são administradas por via intramuscular, essa formulação estimula a imunidade através da mucosa do corpo, podendo ser aplicada pelo nariz ou pela boca na forma de spray. Este imunizante representa um dos primeiros do formato a ser testado globalmente.
O professor Momtchilo Russo, do Departamento de Imunologia e um dos coordenadores do estudo, explicou que a escolha de uma vacina intranasal foi natural, considerando que o SARS-CoV-2 é um vírus respiratório. A vacina age neutralizando o vírus nas vias aéreas superiores, onde ele tenta entrar no corpo humano. Nas mucosas, ocorre uma produção significativa de anticorpos, incluindo a imunoglobulina A (IgA), uma proteína fundamental para a imunidade.
A formulação utiliza a proteína Spike (S) como antígeno, semelhante a outras vacinas já em uso. Quando uma pessoa é infectada, o sistema imunológico detecta essa proteína S, presente no SARS-CoV-2, induzindo a produção de anticorpos IgA e iniciando a resposta contra o vírus no local.
Além disso, a vacina contém um adjuvante já aprovado para uso humano, chamado CpG, que potencializa sua eficácia. O CpG, composto por oligonucleotídeos de citosina e guanina, é combinado com a proteína S e inserido em uma partícula de lipídio chamada lipossoma.
Segundo Russo, essa técnica é mais fácil de ser realizada em comparação com as vacinas que usam RNA mensageiro ou adenovírus, sendo mais simples de produzir e armazenar. Outra vantagem é a eficácia no pulmão, já que o imunizante atinge mais rapidamente o órgão ao circular pela mucosa.
Nos testes com camundongos transgênicos, que expressam o receptor do vírus SARS-CoV-2, todos os animais vacinados foram protegidos contra a infecção, considerando mortalidade ou perda de peso. A vacina intranasal mostrou-se mais eficiente na eliminação do vírus no pulmão e na indução da produção de anticorpos IgA, em comparação com a aplicação subcutânea do mesmo imunizante.
Os resultados indicam uma redução na carga viral no pulmão, sugerindo que a transmissão do vírus pode ser menor com a vacina intranasal. Além disso, foi observada proteção contra diversas variantes do SARS-CoV-2, incluindo as variantes Gamma, Delta e Ômicron.
Russo destaca o esforço para tornar a vacina totalmente nacional, com todos os insumos, instalações e expertise disponíveis no país. Agora, o imunizante avançará para outras etapas de teste após o apoio da Fapesp e a colaboração entre o Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICB-USP), a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), a Faculdade de Ciências Farmacêuticas (FCF-USP), o Instituto de Medicina Tropical (IMT-USP) e a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Com informações do Poder 360.