Na última quinta-feira, 8, a escolha de não formalizar acusações criminais contra o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, relacionadas ao manuseio inadequado de documentos confidenciais, inicialmente destinava-se a ser uma absolvição jurídica, porém acabou se transformando em um revés político.
A investigação sobre a forma como Biden lidou com os documentos depois de ser vice-presidente concluiu que ele era um “homem idoso e bem intencionado com memória fraca” e tinha “faculdades diminuídas por conta da idade avançada” – afirmações tão surpreendentes que provocaram uma reação inflamada por parte de Biden após a divulgação do relatório.
Em uma coletiva de imprensa na Casa Branca, Biden criticou na noite de quinta-feira o relatório de Robert Hur, o conselheiro especial, acusando os autores do relatório de “comentários estranhos” sobre sua idade e capacidade mental. “Eles não sabem do que estão falando”, disse o presidente categoricamente.
Biden pareceu fazer uma exceção especial à afirmação do relatório de que durante entrevistas com os investigadores, ele não conseguia se lembrar em que ano seu filho Beau morreu.
“Como diabos ele se atreve a falar isso”, disse o presidente, parecendo conter as lágrimas. “Durante todos os Dias da Memoria (Memorial Day) realizamos um culto em homenagem a ele, com a presença de amigos e familiares e das pessoas que o amavam. Não preciso de ninguém, não preciso de ninguém para me lembrar quando ele faleceu.”
Dano político
A marcante aparição do presidente dos Estados Unidos diante dos repórteres destacou o potencial dano político que o relatório de Hur poderia causar, mesmo sem acusações criminais. A discussão sobre a memória e a idade do presidente permeou o extenso documento de 345 páginas, sendo prontamente explorada pelos republicanos, incluindo o possível adversário de Biden nas eleições de 2024, o ex-presidente Donald Trump.
No relatório, Hur afirmou que o presidente, então com 80 anos, demonstrou confusão ao longo de cinco horas de entrevistas, tornando difícil convencer os jurados de que Biden sabia que sua abordagem aos documentos estava equivocada. O relatório antecipou que, caso o presidente fosse acusado, seus advogados enfatizariam essas limitações em sua defesa.
Devido, em parte, à questão da memória de Biden, Hur optou por não recomendar acusações contra o presidente pelo que o relatório descreveu como retenção intencional de segredos de segurança nacional, incluindo documentos compartilhados pelo presidente que envolviam “fontes e métodos de inteligência sensíveis”.
Em sua própria declaração por escrito, emitida logo após a divulgação do relatório, Biden aparentemente sugeriu uma razão para sua distração.
“Eu estava tão determinado a dar ao advogado especial o que eles precisavam que continuei com cinco horas de entrevistas pessoais durante dois dias, 8 e 9 de outubro do ano passado, apesar dos ataques que ocorreram em Israel no dia 7 de outubro e eu estava no meio de uma crise internacional”, escreveu Biden. “Eu simplesmente acreditava que era isso que devia ao povo americano.”
Com informações de Estadão