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A Coreia do Norte, conhecida como o país mais isolado do mundo, projeta retomar o crescimento econômico este ano, encerrando um período de cinco anos de estagnação. A economia, profundamente afetada pelas sanções internacionais e pela pandemia, está se beneficiando de um acordo secreto entre o líder norte-coreano, Kim Jong-un, e o presidente russo, Vladimir Putin. Esse acordo envolve o envio de armas para sustentar a invasão da Ucrânia pela Rússia, gerando receitas substanciais para os cofres estatais norte-coreanos.
Desde agosto, a Coreia do Norte realizou dez remessas de armas, enviando aproximadamente um milhão de cartuchos para a Rússia, de acordo com o Serviço Nacional de Inteligência da Coreia do Sul. Há também indícios, com base em imagens de satélite dos EUA, de que o país entregou mísseis balísticos aos militares russos, embora tanto Pyongyang quanto Moscou neguem tais remessas.
O acordo secreto entre Kim Jong-un e Vladimir Putin está desempenhando um papel significativo no impulso à pequena economia de planejamento central da Coreia do Norte. Em 2022, o Produto Interno Bruto (PIB) do país asiático atingiu apenas US$ 24,5 bilhões, de acordo com o banco central da Coreia do Sul.
As sanções internacionais e os bloqueios devido à pandemia causaram uma queda acentuada na economia norte-coreana, com uma contração de 4,5% em 2020. As exportações cruciais de carvão para a China foram prejudicadas pelas sanções de 2016, agravando as dificuldades em um país onde 60% da população vive abaixo da linha da pobreza.
Anwita Basu, diretora de risco-país para a Europa da Fitch Solutions, afirma que o acordo de armamentos com a Rússia pode impulsionar um retorno ao crescimento positivo, estimando um crescimento de cerca de 1% em 2024. No entanto, devido à falta de transparência nos dados econômicos norte-coreanos, essa previsão é uma suposição.
A Coreia do Norte depende fortemente da ajuda externa para alimentar sua população, sendo que muitos cidadãos sofrem de desnutrição e outros problemas de saúde. Apesar do setor de defesa ser um dos maiores empregadores do país, empregando cerca de 2 milhões de trabalhadores, é incerto se os cidadãos comuns se beneficiarão do acordo de armas russo.
Embora a indústria bélica norte-coreana contribua significativamente para a economia, Anwita Basu permanece cética sobre o impacto positivo para os cidadãos comuns. Ela destaca que o país continua sendo um Estado autocrático com níveis significativos de corrupção. A renda adicional para o setor de defesa pode melhorar a capacidade de financiamento externo, facilitando o acesso a importações de alimentos e tecnologia.
A expectativa é que o Estado norte-coreano lucre pelo menos US$ 1 bilhão com a venda de projéteis de artilharia para a Rússia. Esse “meganegócio” foi descrito como um ato de desespero por parte da Rússia, cada vez mais isolada globalmente devido à invasão da Ucrânia.
Anwita Basu expressa dúvidas sobre a natureza exata do acordo, questionando quanto foi em dinheiro e quanto envolveu um acordo de troca por capacidades militares russas avançadas e ajuda econômica.
O acordo de munições entre Coreia do Norte e Rússia também pode estreitar as alianças entre os dois países. Ambos são conhecidos por suas habilidades avançadas em ataques cibernéticos, e isso pode abrir oportunidades para cooperação futura nesse campo.
Enquanto Putin expressa sua disposição de visitar a Coreia do Norte em um futuro próximo, marcando sua primeira visita em mais de duas décadas, os benefícios econômicos do acordo podem ser efêmeros se uma solução diplomática for alcançada na guerra da Ucrânia ou se a China, importante aliada da Coreia do Norte, enfraquecer seu apoio a Pyongyang e à Rússia.
Créditos: UOL.