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A Ouvidoria da Polícia do Estado de São Paulo solicitou o afastamento dos 11 policiais militares denunciados por uma mulher de 33 anos que afirma ter sido estuprada por eles e mais um homem durante uma festa em Guarujá, no litoral paulista. A PM informou que abriu uma sindicância para investigar a participação dos agentes no crime, enquanto a Polícia Civil conduz a investigação do caso. Abaixo, estão os detalhes conhecidos até o momento.
A mulher alegou que foi vítima de estupro coletivo após ser dopada durante a festa realizada em uma casa alugada, onde os homens teriam organizado uma espécie de fila para cometer o crime. Ela interrompeu a gestação por vontade própria em dezembro, quando estava no quarto mês de gravidez.
A Ouvidoria da Polícia de São Paulo, em comunicado, informou que enviou ofícios à Polícia Judiciária solicitando mais informações sobre o caso, incluindo laudos periciais, e à Corregedoria da PM pedindo o afastamento imediato dos policiais assim que forem identificados – seus nomes foram registrados em boletim de ocorrência em janeiro.
Devido à gravidade das acusações, a Ouvidoria da Polícia também solicitou à Corregedoria da Polícia a investigação do caso.
O g1 tentou contato com a Polícia Militar e a Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo (SSP-SP) sobre o assunto, mas não obteve resposta até o momento da última atualização desta reportagem.
A mulher afirmou que foi convidada para a festa com uma amiga e que, ao ingerir bebidas alcoólicas, acredita ter sido dopada. Relatou que teve relação consensual com um dos presentes antes de perder a consciência, momento em que os outros participantes se organizaram para cometer o estupro.
Após o incidente, a vítima permaneceu na casa alugada, onde dormiu devido ao estado de dopagem. Seu primeiro contato após o ocorrido foi com a amiga que estava na festa, e esta não tinha conhecimento do estupro, pensando que as relações foram consensuais.
Os detalhes sobre o estupro, além do que a mulher se lembra, foram fornecidos por um amigo dela presente na festa, que alega ter interrompido o crime. No entanto, a vítima suspeita que esse amigo, o único que não faz parte da PM, também tenha participado do ato.
Quanto à gestação e sua interrupção, a mulher afirmou que descobriu a gravidez em dezembro do ano passado, pois sua menstruação não ocorria regularmente. Ela não teria se relacionado com outras pessoas durante o período. A decisão de interromper a gestação veio logo após a descoberta, e ela procurou orientação em uma unidade de saúde em Guarujá. No entanto, foi informada de que o procedimento só seria realizado legalmente após registrar um boletim de ocorrência sobre o estupro, o que fez em seguida em uma Delegacia de Defesa da Mulher (DDM) em São Paulo.
O advogado da vítima, Allan Kardec Campo Iglesias, afirmou que o primeiro boletim de ocorrência registrado na Polícia Civil foi breve e não detalhou informações sobre os homens envolvidos no crime. O registro foi feito em dezembro apenas para interromper a gravidez, pois a cliente temia retaliação.
A mulher alegou que os suspeitos entraram em contato com ela após o crime, por meio de outro policial militar não envolvido no estupro, oferecendo de R$ 20 mil a R$ 30 mil para que ela não denunciasse o caso à Polícia Civil, revelando os nomes. O policial militar intermediário teria enviado mensagens questionando sobre o boletim de ocorrência e, em seguida, oferecido dinheiro para que ela não prosseguisse com a denúncia. A vítima fingiu a negociação para obter mais informações sobre os autores do crime, já que estava dopada e não se lembrava de detalhes. Ela afirma não ter recebido qualquer quantia dos PMs.
O g1 obteve prints de conversas via WhatsApp que mostram as supostas negociações. Em uma das imagens, duas pessoas iniciam uma conversa com a sigla ‘Q.A.P’, que significa “na escuta”, no meio policial. Em seguida, uma delas afirma que “todos aceitaram”, mas “fixaram o valor em 20 [mil]”, sendo “10 de cara e os outros 10 quando acabar”. O “acabar” se refere à conclusão do caso, que havia sido denunciado sem detalhes à Polícia Civil.
A segunda imagem mostra uma suposta conversa entre a mulher e o PM que intermediou o grupo envolvido. Neste momento, ela teria dito que “só queria acabar com isso logo” e que o valor de R$ 30 mil seria o “mínimo depois de tudo”.
As autoridades informaram que a Polícia Civil está investigando o caso como estupro de vulnerável e requisitou exames sexológicos e médicos para a vítima. O caso foi registrado pela mulher na 1ª Delegacia de Defesa da Mulher (DDM) da capital paulista e encaminhado para a DDM de Guarujá, que continua as investigações. A Polícia Militar afirmou que instaurou uma sindicância para apurar a participação de seus policiais militares no crime. A deputada estadual Beth Sahão (PT) encaminhou o caso à Procuradoria-Geral de Justiça de São Paulo e à SSP-SP para apuração.
Com informações do G1,