Foto: Reprodução/Lula da Silva e o embaixador da Palestina no Brasil, Ibrahim Alzeben, plantam uma muda de oliveira no no jardim da embaixada em Brasília, em gesto de apoio político/Ricardo Stuckert.
“O Brasil confia em que as investigações, ora em curso, conduzidas pelo Escritório de Serviços de Supervisão Interna das Nações Unidas (OIOS), e que resultaram na demissão de funcionários da Agência, chegarão a bom termo. As referidas denúncias não devem, entretanto, ensejar redução das contribuições imprescindíveis ao funcionamento da UNRWA, em cenário que pode levar ao colapso das atividades da agência, em contexto de grave crise humanitária em Gaza e em prejuízo do cumprimento de recente decisão, de caráter juridicamente vinculante, pela Corte Internacional de Justiça (CIJ), sobre o imperativo de garantir o acesso humanitário aos cidadãos de Gaza. A população civil palestina na região e os esforços de ajuda humanitária têm na UNRWA um ponto de apoio indispensável.”
O governo tem defendido um cessar fogo, com a libertação de reféns israelenses e a liberação de estrangeiros civis que manifestam desejo de deixar Gaza. Historicamente, o Brasil defende a coexistência de dois Estados, a Palestina e Israel.
A promessa de ampliar a doação é mais um gesto de Lula em favor dos palestinos, numa sequência que incluiu declarações de que os militares israelenses promovem “terrorismo” e “genocídio” do povo palestino na Faixa de Gaza. A decisão mais importante até agora foi o endosso político do Brasil, a pedido dos palestinos, ao processo movido pela África do Sul contra Israel na Corte Internacional de Justiça (CIJ), cobrando medidas urgentes sob acusação de genocídio.
A decisão gerou protestos da comunidade judaica no Brasil e da chancelaria israelense, além de ter provocado críticas internas a Lula, por parte da oposição, e reação de analistas com experiência diplomática, como o ex-chanceler Celso Lafer.
Viagem
O anúcio do aporte à agência e a visita à embaixada antecedem a viagem de Lula ao Norte da África. Ele irá ao Cairo, no Egito, e a Adis Abeba, na Etiópia. Durante a viagem, entre 15 e 18 de fevereiro, o petista conversará sobre a guerra em Gaza com o presidente do Egito, o general Abdel Fattah El-Sissi, com a liderança da Liga Árabe e com o presidente da Autoridade Nacional Palestina, Mahmoud Abbas, a quem Lula chamou de “amigo”.
O presidente também disse que rechaça “todas as manifestações de islamofobia e antissemitismo” e que condena com igual veemência os ataques terroristas do Hamas e a reação desproporcional de Israel. Ele incentivou que a Autoridade Palestina e Israel retomem o diálogo de forma urgente.
“É chegada a hora de dar uma basta à catástrofe humanitária que se abateu sobre os mais de 2 milhões de palestinos que vivem em Gaza. Já são quase 30 mil mortos, em sua maioria crianças, idosos e mulheres indefesas. Mais de 80% da população foi objeto de transferência forçada e os sistemas de saúde, de fornecimento de água, energia e alimentos estão em colapso. Basta de punição coletiva. Por esses motivos, entre outros, o Brasil se manifestou em apoio ao processo instaurado na Corte Internacional de Justiça pela África do Sul. As medidas cautelares da Corte devem ser acatadas”, afirmou aos embaixadores.
Após quatro anos de declarada simpatia política de Jair Bolsonaro e inclinação diplomática a favor dos pleitos de Israel, Tel Aviv tem protestado, desde o início do governo Lula, de que o Brasil agora se mostra muito mais favorável aos apelos da Palestina.
Em um claro gesto político, Lula foi na noite desta quinta-feira, dia 8, recebido em jantar na Embaixada da Palestina, em Brasília. O convite partiu do Conselho de Embaixadores Árabes no Brasil e dos Embaixadores dos Estados Membros da Organização de Cooperação Islâmica (OCI).
Foi o primeiro compromisso público de Lula em uma embaixada estrangeira, divulgado de última hora. A cerimônia foi restritida a embaixadores árabes e muçulmanos.
Além de ter discursado no jantar aos embaixadores, Lula plantou uma árvore com auxílio do embaixador da Palestina, decano do corpo diplomático estrangeiro, Ibrahim Mohamed Alzeben, o anfitrião. Ele já havia sido recebido por Lula em audiência no Palácio do Planalto, ocasião em que conseguiu convencer Lula a dar o apoio do Brasil ao processo contra Israel na CIJ.
“Plantando esperança para o mundo”, escreveu Lula, ao divulgar o vídeo plantando a muda de oliveira. “O senhor está plantando esperança para o povo palestino e para o mundo, se Deus quiser”, disse o embaixador Alzeben, na gravação nos jardins da embaixada.
Tel Aviv
A visita à embaixada palestina ocorreu na mesma semana em que Tel Aviv despachou a Brasília o diplomata Omer Katz, diretor do Departamento de Brasil e Caribe no Ministério das Relações Exteriores, para contatos com o governo federal.
A diplomacia israelense tem um relacionamento conturbado com o governo. São recorrentes as críticas de Israel e da comunidade judaica a manifestações do PT e aliados de Lula.
O presidente ficou irritado ao ver, no ano passado, o embaixador de Israel, Daniel Zonshine, em uma reunião para exibir imagens dos ataques do Hamas a parlamentares da oposição no Congresso Nacional, à qual o ex-presidente Jair Bolsonaro, principal adversário político de Lula, compareceu. O embaixador afirmou que não sabia previamente da presença de Bolsonaro. Parlamentares do PT sugeriram que ele fosse expulso do País.
Ctéditos: Estadão.