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“Ela cativava todo mundo”. É dessa maneira que uma mãe descreve a filha que agora não poderá mais abraçar. A menina de 8 anos morreu na sexta-feira (16/2), no Hospital Regional de Santa Maria, após contrair dengue hemorrágica. Segundo a família, a criança, inicialmente, apresentou apenas sintomas brandos, mas o estado de saúde se deteriorou rapidamente.
O Metrópoles conversou com a mãe da menina. A pedido dela, a identidade dela e da garota será preservada. “Ela não teve sintomas graves. Não deu febre, nenhum tipo de sangramento pelo nariz ou urina. Foi silencioso”, contou.
Com o coração apertado, a mãe lembra dos momentos ao lado da criança. “Minha filha gostava muito de passear, conversa bastante. Era muito amada por onde passava. Tudo o que eu falar não será suficiente para descrever o amor que tive por ela”, comentou.
A menina não tinha histórico de problemas de saúde e não tomava medicamentos. Segundo a mãe, os exames feitos na quarta-feira (14/02) não apresentavam alteração nas plaquetas de sangue. Por isso, a família recebeu a orientação para voltar para a casa e tratar a criança. “A única coisa diferente eram os pés quem estavam frios”, lembrou. A criança sentiu dores pelo corpo e dor de cabeça, sintomas leves de dengue.
Na manha de sexta-feira (16/12), a menina vomitou e começou a passar mal. Chegou a expelir um líquido escuro, semelhante a feijão preto, como se o sangue tivesse coagulado dentro da garota.
A família correu para o hospital. Os médicos perguntaram várias vezes o que tinha ocorrido, porque o nível de plaquetas não justificaria o quadro.
Além das plaquetas
“A hemorragia dela foi totalmente silenciosa e interna. Quando ela vomitou e botou para fora, já não tinha mais o que fazer. Do mesmo jeito que a Covid era silenciosa. Não teve nenhum alerta ou sangramento”, lamentou a mãe.
Para a família da menina, os protocolos de atendimento precisam ser revistos e não podem mais se basear no nível de plaquetas no sangue.
“Do mesmo jeito como ela, vão liberar as pessoas que estiverem com as plaquetas boas. E vai continuar morrendo gente. As plaquetas não devem ser mais o critério para liberar. Não pode só medicar e mandar para casa”, alertou.
Segundo o atestado de óbito, a menina morreu após sofrer dengue hemorrágica, choque hipovolêmico (perda de sangue) e hematêmese (sangue no vômito). O Distrito Federal enfrenta uma grave epidemia de dengue.
38 perdas
A Secretaria de Saúde do Distrito Federal (SES-DF) confirmou, nessa terça-feira (20/2), 38 mortes causadas pela dengue em 2024. Os dados constam no boletim epidemiológico divulgado pela pasta também nesta terça.
De acordo com o documento, outros 72 óbitos estão em investigação. Em 2023, neste mesmo período, nenhuma morte por dengue havia sido registrada no DF.
Já foram registrados 81.408 casos prováveis. Até 19 de fevereiro, foram notificados 1.399 casos de dengue com sinais de alarme em pessoas residentes do DF, um acréscimo de 1.765,3% em relação ao mesmo período de 2023.
Até a última sexta-feira, DF tinha 2 mil pessoas internadas com dengue. Deste total, 171 estavam sob cuidados em unidades de terapia intensiva (UTIs).
Vacina para crianças de 10 a 11 anos
Atualmente, a campanha vacinação contra a dengue é exclusiva para todas as crianças de 10 anos completos e 11 anos de idade (11 anos, 11 meses e 29 dias). Os locais de imunização estão neste link.
São duas doses, com intervalo de 90 dias. Para a criança receber a imunização, pais ou responsáveis devem comparecer com documento de identificação da criança e a caderneta de vacinação.
Mortes evitáveis
A dengue é uma doença febril aguda. A maioria dos doentes se recupera. Mas uma parte pode progredir para formas graves e, inclusive, vir a óbito. A quase totalidade das mortes por dengue é evitável e depende, na maioria das vezes, da qualidade da assistência prestada.
Metrópoles