Nesta segunda-feira (12), o Sindicato dos Delegados de Polícia do Estado de São Paulo (Sindpesp) emitiu uma nota de repúdio dirigida à escola de samba Vai-Vai. De acordo com o comunicado, o enredo apresentado no sábado (10) no Sambódromo do Anhembi, em São Paulo, foi considerado uma representação ofensiva e desrespeitosa em relação aos agentes da lei.
A nota menciona a ala “Sobrevivendo no Inferno” e destaca o uso de chifres que remetiam à figura de um demônio e “demonizaram a Polícia”, motivo de “extrema indignação” por parte do Sindesp.
Segundo o sindicato, o enredo de samba confronta as instituições de segurança pública, desconsidera e difama de maneira vil e covarde os profissionais dedicados que se empenham incessantemente na proteção da sociedade e no combate ao crime. Muitas vezes, esses indivíduos enfrentam condições precárias e adversas, arriscando suas próprias vidas e o bem-estar de suas famílias.
“É de se lamentar que o Carnaval seja utilizado para levar ao público mensagem carregada de total inversão de valores e que chega a humilhar os agentes da lei”, destaca o sindicado.
O Sindpesp informa que não compactua a manifestação e presta solidariedade aos profissionais da segurança pública. “Estes, sim, verdadeiros heróis, que merecem homenagens, reconhecimento e mais respeito por parte da agremiação, para dizer o mínimo”, afirma.
Em nota, a Vai-Vai disse que o enredo do Carnaval deste ano “tratou-se de um manifesto, uma crítica ao que se entende por cultura na cidade de São Paulo, que exclui manifestações culturais como o hip hop e seus quatro elementos – breaking, graffiti, MCs e DJs”. “Além disso, o desfile buscou homenagear e dar vez e voz aos muitos artistas excluídos que nunca tiveram seu talento e sua trajetória notadamente reconhecidos”.
Segundo a escola, “nesse contexto, foram feitos, ao longo do desfile, uma série de recortes históricos, como a semana de arte de 1922 e o lançamento do álbum Sobrevivendo no Inferno, dos Racionais MCs, em 1997”. A nota ainda aponta que, de acordo com a revista Rolling Stone Brasil, “que ranqueou o álbum na 14ª posição da lista dos 100 melhores discos da música brasileira, ‘Sobrevivendo no Inferno colocou o rap no topo das paradas, vendendo mais de meio milhão de cópias. Racismo, miséria e desigualdade social — temas cutucados nos discos anteriores — são aqui expostos como uma grande ferida aberta, vide Diário de um Detento, inspirada na grande chacina do Carandiru’”.
“Ou seja, a ala retratada no desfile de sábado, da escola de samba Vai-Vai, à luz da liberdade e ludicidade que o Carnaval permite, fez uma justa homenagem ao álbum e ao próprio Racionais MCs, sem a intenção de promover qualquer tipo de ataque individualizado ou provocação, mas sim uma ala, como as outras 19 apresentadas pela escola, que homenageiam um movimento”, completa a escola.
“Vale ressaltar que, nesse recorte histórico da década de 1990, a segurança pública no estado de São Paulo era uma questão importante e latente, com índices altíssimos de mortalidade da população preta e periférica. Além disso, é de conhecimento público que os precursores do movimento hip hop no Brasil eram marginalizados e tratados como vagabundo, sofrendo repressão e, sendo presos, muitas vezes, apenas por dançarem e adotarem um estilo de vestimenta considerado inadequado pra época. Ou seja, o que a escola fez, na avenida, foi inserir o álbum e os acontecimentos históricos no contexto que eles ocorreram, no enredo do desfile”, finaliza a Vai-Vai.
Com informações de CNN Brasil