Foto: Mario Agra / Câmara dos Deputados
Apesar de as críticas do PT ao Estado de Israelserem constantes e em tom inflamado, a recente manifestação do ex-presidente do partido José Genoino (PT-SP) subiu a um patamar que assustou o embaixador israelense no Brasil. Em entrevista à Coluna do Estadão, Daniel Zonshine avaliou que a fala do petista foi “preocupante e fora da curva”. Ele cobrou posicionamento das autoridades brasileiras.
“Esperamos uma posição do lado das autoridades contra palavras antissemitas. José Genoíno exagerou. Ele não é integrante do governo, mas faz parte do PT (partido do presidente da República). É importante que alguém do governo se posicione contra essas frases”, afirmou.
No dia 20, numa transmissão ao vivo, Genoino disse achar interessante “a ideia de boicote” a “determinadas empresas de judeus” e a “empresas vinculadas ao estado de Israel”. “Aceitamos críticas contra Israel. Muitas merecemos. Mas pregar boicote contra judeu é demais. Vimos isso no passado e o resultado não era positivo”, ressaltou em referência aos movimentos persecutórios sofridos pelos judeus.
Zonshine quer ampliar diálogo com o governo brasileiro
O embaixador de Israel disse que solicitou ao Itamaraty uma audiência com o ministro Mauro Vieira. Ele quer ampliar o diálogo com o governo brasileiro e também tratar sobre as medidas que vêm sendo adotadas para a libertação de reféns do Hamas.
Sobre a recente decisão do governo Lula de apoiar a acusação de “genocídio” apresentada contra o Israel na Corte Internacional de Justiça(CIJ), um tribunal das Nações Unidas, num processo movido por iniciativa da África do Sul, disse que é uma acusação improcedente e por falta de conhecimento.
“Precisamos discutir fora das manchetes, de forma aprofundada”, concluiu.
Genoino nega antissemitismo
Procurado pela Coluna do Estadão, José Genoíno negou ser antissemita e enviou nota em que volta a acusar o Estado de Israel de genocídio e insiste no boicote.
“Em relação ao termo “boicote”, usado por mim, reafirmo que defendo o boicote às empresas que apoiam o governo de Israel na guerra contra o povo palestino”, afirmou.
A nota enviada já havia sido redigida, antes da cobrança do embaixador de Israel. O petista divulgara para rebater as críticas da Confederação Israelita do Brasil (Conib), que também repudiou as frases do petista. “O boicote a judeus foi uma das primeiras medidas adotadas pelo regime nazista contra a comunidade judaica alemã, que culminou no Holocausto”, afirmou a entidade.”
Confira a íntegra da nota
Apresento meu repúdio à nota da Conib (Confederação Israelita do Brasil) e afirmo que não sou e nunca fui antissemita. Repudio, também, qualquer tipo de preconceito contra o povo judeu e defendo a existência de dois Estados.
Temos a obrigação de denunciar, em todas as oportunidades, o genocídio do governo de Israel contra o povo palestino.
Tenho defendido, incansavelmente, o cessar-fogo, a paz entre os povos e a solidariedade ao povo palestino.
Em relação ao termo “boicote”, usado por mim, reafirmo que defendo o boicote às empresas que apoiam o governo de Israel na guerra contra o povo palestino.
José Genoino (ex-deputado federal)
Estadão