O ano começou e, para quem ainda não fez o planejamento financeiro, é tempo de começar. Esse é o momento de colocar as receitas e despesas da família no papel, sem esquecer dos aumentos previstos para gastos básicos, como planos de saúde, conta de luz e mensalidades escolares. Projeções do mercado apontam que esses reajustes deverão ficar acima da inflação em 2024, e podem pesar no bolso dos consumidores.
O maior aumento deve vir dos planos de saúde empresariais, que devem subir em média 20%, segundo projeções da consultoria Arquitetos da Saúde. Para planos individuais, a expectativa do Citi e da Associação Brasileira de Planos de Saúde (Abramge) é que o reajuste fique em torno de 8,7%. As tarifas residenciais de energia elétrica devem ter uma alta média de 7,61% em 2024, segundo cálculos da TR Soluções, empresa de tecnologia especializada no setor. Mas é possível driblar a alta do plano de saúde? Especialistas respondem nesta reportagem.
Já as mensalidades escolares podem subir, em média, 9% neste ano, de acordo com levantamento feito pelo Melhor Escola, site buscador de escolas no Brasil. Ao todo, 979 instituições de ensino de praticamente todos os estados, com exceção de Roraima e Tocantins, responderam ao questionário. Algumas disseram manter o mesmo valor praticado em 2023 e outras irão aplicar reajustes que chegam a 35%. O preço do material escolar também deve subir. A Associação Brasileira de Fabricantes e Importadores de Artigos Escolares (ABFIAE) espera uma alta entre 7% e 9% para este ano letivo.
A inflação oficial do país, medida pelo IPCA, por sua vez, acumulou alta de 4% em 2023, até o mês de novembro. Para este ano, a projeção, segundo o Boletim Focus, é que encerre em 3,90%.
Coordenadora do Laboratório de Finanças Pessoais da ESPM, a economista Paula Sauer ressalta que a maioria dos trabalhadores tem o salário reajustado pelo IPCA, que é uma média da inflação, e não necessariamente se reflete no aumento real do seu custo de vida. Por isso, é importante considerar os aumentos que mais pesam nas contas da família. Por exemplo, para idosos, o reajuste dos planos pode pesar mais, enquanto para um casal de jovens em trabalho remoto pode ser a conta de luz. Nesta reportagem, mostramos como pagar menos na conta de luz após o reajuste.
“Para o indivíduo ou família que esteja com o orçamento folgado, o impacto será menor, já para as famílias que estavam com o orçamento justo, e o reajuste salarial não acompanhar, será preciso um olhar mais atento às compras, fazer escolhas mais cuidadosas”, afirma a economista.
Momento de rever os custos
Sauer afirma que, frente aos aumentos, as famílias devem rever as despesas, em especial, aquelas que estão em débito automático e que acabam passando desapercebidas. É o caso de pacotes de internet e TV por assinatura, serviços de streaming e planos de academia, por exemplo. Para a economista, o ideal é que as famílias coloquem todos os gastos em uma planilha para ver de onde vêm as maiores despesas.
“Conheci um casal de professores que prezavam muito por uma boa educação de suas filhas e estavam incomodados pensando que talvez tivessem que mudar as meninas de escola. Durante a fotografia financeira, uma das etapas do planejamento, se deram conta de que gastavam mais com alimentação fora de casa do que com a mensalidade escolar. Foi um choque e uma surpresa boa. Mudaram a rotina de alimentação e puderam manter o que para eles era fundamental”, exemplifica a economista. Nesta reportagem, mostramos como absorver a alta de 9% na mensalidade escolarsofrendo pouco.
O mesmo pode ser feito com os planos de saúde. Marcos Novais, superintendente executivo da Abramge, conta que muitas vezes o indivíduo contrata um plano com cobertura nacional, quando poderia ter um com cobertura regional, que seria mais barato.
“O plano de saúde com coparticipação também traz benefícios, no sentido de ter um custo menor. Claro, com uma participação de quando a pessoa fizer o procedimento. Mas no fim das contas pode valer a pena. O mesmo vale para modalidades com enfermaria ou quarto individual, para a rede de cobertura. Há vários fatores que precisam ser avaliados continuamente, para que a gente possa alinhar a nossa expectativa em relação ao serviço com a nossa renda”, explica.
Eduardo Trigueiro, educador financeiro do Sicoob, acrescenta que, caso não seja cortar custos, as famílias devem tentar aumentar as fontes de receita. “Sabemos que a maior parte da população brasileira já vive com o mínimo, e não tem como reduzir despesas. Para estes casos, uma solução pode ser o investimento em qualificação para conseguir empregos com melhores salários e benefícios, ou até a famosa renda extra, com a venda de produtos ou prestação de serviços nas horas livres”, sugere.
Estadão Investidor