Escolhido para a Secretaria Nacional de Segurança Pública pelo futuro ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, Mário Sarrubbo deixa o cargo de procurador-geral da Justiça de São Paulo, cargo em que, nos últimos meses, teve atuação contra uma expressão religiosa e em apoio às investigações dos ataques de 8 de janeiro.
Católico praticante, devoto de São Judas Tadeu, Sarrubbo agiu contra a frase “sob a proteção de Deus”, proferida por presidentes de Câmaras no interior de São Paulo. O chefe do Ministério Público (MP) paulista foi até o Supremo Tribunal Federal (STF) para derrubar a citação, alegando que o Estado é laico e não caberia esse tipo de manifestação oficial.
Mas essa não foi a única visita a Brasília do procurador-geral paulista. Amigo e contemporâneo do ministro do STF Alexandre de Moraes no MP, Sarrubbo ofereceu o suporte da instituição para localizar e perseguir os acusados de organizarem os ataques de janeiro de 2023.
Pessoas próximas a Sarrubbo ouvidas pela CNN dizem que a relação com Lewandowski se estreitou também por eventos que os dois participaram, especialmente no Largo São Francisco, faculdade de Direito da USP. Mas a escolha do ex-STF para Sarrubbo na Segurança Pública também considerou o perfil técnico e a vocação para o diálogo, segundo as fontes.
“A parte jurídica deve ter pesado porque há um conhecimento de postura profissional. Ele não se poupou pra defender teses importantes no STF e no STJ. Ele conseguiu articular um diálogo bom com os tribunais, inclusive assumindo uma frente de defesa da democracia e de direitos sociais”, afirmou à CNN a procuradora aposentada Mariangela Sarrubbo Fragata, irmã do procurador-geral.
Anúncio
Por volta de 19h30 de quarta-feira (17), Sarrubbo deixava o Palácio dos Bandeirantes, sede do governo paulista depois de uma conversa com o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos). O chefe do MP pediu demissão e avisou que se aposentaria, condição necessária para que ele possa assumir um cargo político em Brasília.
Tarcísio foi o terceiro governador a quem Sarrubbo serviu. Antes, ele ocupara o cargo nos governos de João Doria (PSDB) e Rodrigo Garcia (PSDB).
Pessoas próximas do PGJ alegam, portanto, que não havia um compromisso político efetivo com Tarcísio e que o impacto da saída não será tão significativo, já que o mandato de Sarrubbo iria apenas até abril.
Durante sua atuação no MP, Mário Sarrubbo levantou pautas mais tidas como progressistas, especialmente em âmbito social. Temas como raça, gênero e educação fizeram parte das bandeiras que ele levantou. Justamente por isso, alguns membros mais tradicionais do Ministério Público apresentaram resistências à atuação dele.
As investidas nesses temas, no entanto, não impediram que o procurador-geral paulista tivesse angariado três a cada quatro votos de promotores, somando 1.385 apoiadores em reeleição para a cadeira da PGJ, um recorde histórico. A escolha do ocupante do cargo é prerrogativa do governador, feita a partir de lista tríplice.
Preocupação
O futuro de Sarrubo no comando da Secretaria Nacional de Segurança Pública reserva à família uma certa tensão.
“Eu me preocupo muito”, disse Mariângela à CNN. “Por isso que eu fico também me convencendo que o papel é mais de articulação do que ele lidar diretamente com a segurança. Eu acredito que, se dentro da secretaria tiver algum espaço pra ter alguma participação na questão da educação, com um olhar humano, ele vai ocupar esse espaço. Não se resolve esse problema executando os criminosos. Mas você tenha certeza que eu estou preocupada”.
CNN Brasil